Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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segunda-feira, janeiro 18, 2010
Brincando com fogo
O escritor Zemaria Pinto, a atual desembargadora Waldenira Tomé e o jornalista Mário Adolfo, durante o lançamento do Manual do Canalha, na Livraria Valer, em 1996.
Setembro de 1978. O jornalista Inácio Oliveira tinha um amigo chamado Renato Ferreira, que além de exímio pianista tinha uma irmã caçula e ainda adolescente que era uma versão melhorada da Magda Cotrofe.
O jornalista Mário Adolfo, evidentemente, ficou apaixonado pela menina.
Uma noite, ele e Inácio Oliveira foram à casa do Renato.
O motivo oficial era apreciar o pianista detonando “Cavalgada das Valquírias”, de Richard Wagner, uma partitura que ele havia acabado de aprender a tocar.
O motivo oficioso, na real, era colocar quebranto na irmã adolescente do pianista.
Pra quem não sabe, Richard Wagner (1813-1883) foi o grande compositor alemão conhecido tanto pelas maravilhosas obras que escreveu como por seu comportamento racista, ultra-nacionalista, largamente usado pelos nazistas em seus comícios e peças de propaganda.
“Cavalgada das Valquírias”, escrita em 1851, é uma das composições de Wagner mais conhecidas. Foi usada no famoso filme de Copolla, “Apocalipse Now”, na célebre cena do ballet dos helicópteros em ação no Vietnam.
Antes de o recital começar, os três começaram a entornar umas cervejas, servidas diligentemente pela Magda Cotrofe em flor.
Na belíssima casa em estilo art déco, ali nas quebradas de Adrianópolis, Mário Adolfo percebeu que havia uma grande quantidade de armas dispostas elegantemente nas paredes da sala onde ficava o imponente piano de cauda.
Renato explicou que seu bisavô, seu avô e seu pai eram colecionadores de armas.
Aí, para demonstrar que conhecia profundamente o assunto, retirou uma pistola da parede, puxou o cão do gatilho, travou com o polegar, encostou a arma na cabeça do Mário Adolfo e avisou, sério que nem cu de touro:
– Se você não me contar o real motivo de você ter vindo aqui, eu atiro na tua cabeça!
Mário Adolfo quase defecou na sala.
– Porra, bicho, eu vim aqui porque o Inácio me falou que você é um puta pianista, que você toca Wagner, Mozart, Beethoven. Eu só vim aqui pra te ouvir! Agora, porra, bicho, eu não me amarro nesse papo de arma apontada pra cabeça, não...
Renato começou a rir.
– Êi, cara, aqui ninguém é doido de deixar munição em arma... Isso é só lance de colecionador, não tem nada demais!
Tirando a arma da cabeça do Mário Adolfo, ele apontou para uma parede e afirmou:
– Olha aí, eu vou soltar o cão do gatilho e só vai acontecer um click...
Quando Renato soltou o cão, o estrondo na parede foi de bala dum-dum.
O buraco que ficou no local onde a bala detonou, dava para enfiar uma mão fechada.
Aquilo, na cabeça do Mário Adolfo, ia fazer ela explodir como uma melancia caindo no solo de uma altura de dois metros.
O pianista jogou a arma para o lado, ficou pálido como um defunto e teve um princípio de desmaio.
Mais assustado do que catita de gaveta, Mário Adolfo ainda teve presença de espírito para retirar Inácio Oliveira do quase estado de catatonia em que ele havia mergulhado ao presenciar a presepada:
– Vamos embora, parceiro, que aqui só tem doido!
Os dois se mandaram. A versão melhorada da Magda Cotrofe nunca mais foi assediada.
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