Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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sexta-feira, janeiro 15, 2010
A saga da família Arruda (2)
O advogado Antonio Arruda dando uma palestra para militantes do PT
Terceiro filho de uma família de sete irmãos, Antônio Arruda nasceu em 1935, no seringal Cachoeira do Rio Purus, no município de Lábrea.
Em 1950, após o assassinato de seu pai no seringal Capatará, se mudou pra Codajás com todos os irmãos e sua mãe, vivendo naquela cidade até 1961.
Como eram pobres, pobres, pobres de marré marré marré, sobreviviam por conta das doações de peixes de couro, que não eram consumidos pelos ribeirinhos. Rezava a lenda que os peixes lisos transmitiam hanseníase.
Sem nada a perder, a família Arruda se esbaldava de surubins, pirararas, piraíbas e outros peixes semelhantes.
Adolescente, Antônio conseguiu trabalho com os padres americanos que catequizavam os caboclos da região e foi lotado no convento da cidade.
Era um autêntico faz tudo: recebia ordens das freiras da Congregação de Jesus e sempre cumpria as tarefas com muita presteza e dedicação.
Um dia, ao ser admoestado severamente por uma das irmãs por uma falta que não cometera, Antonio resolveu se vingar. Calhou de ser justamente o dia de lavar a caixa d´água do convento.
Injuriado com a “chamada no saco” que levara sem ter culpa no cartório, o rapaz resolveu mijar dentro da caixa d’água.
Não satisfeito, tocou uma punheta e deixou cuidadosamente a porra no cano que puxava a água para dentro do convento.
Quando o serviço ficou pronto, gritou lá de cima:
– Pode ligar essa porra...
Sabendo que ele estava mordido, a freira nem o repreendeu pela nova mau criação. E a porra foi ligada. Literalmente.
Antonio ficou curtindo, verdadeiramente inebriado, o fato de as freiras estarem saindo do convento, cheirosas e de banho tomado, levando um pouquinho de sua urina e esperma pelos corpos livres de pecados.
O certo é que ele tomou gosto pela traquinagem e a higienização da caixa d´água teve sua freqüência aumentada exponencialmente.
Alguns meses depois, no entanto, ao ser flagrado roubando cerveja do freezer dos padres e moedinhas da caixa de esmolas do altar, Antônio foi expulso do convento, mas conseguiu um emprego na fazenda Quixeramobim, que se localizava do outro lado do rio, em frente da cidade.
O proprietário era um cearense chamado Chico Geraldo, que admirado com a habilidade de laçar do moleque não titubeou em lhe contratar.
Na fazenda, havia uma garça de criação da família. Ela rondava a casa, comia com as galinhas e havia, de fato, se tornado um verdadeiro animal doméstico.
Fora batizada de Gracinha porque a pequena ave ciconiforme era o chamego do velho cearense.
Após alguns meses de trabalho duro na fazenda e sem retornar à cidade, o adolescente sentiu falta dos afagos femininos.
Ele também andava assustado com aquele negócio de bater punheta, achava que as irmãs haviam lhe rogado uma praga.
Tudo porque certa vez ele foi tomar banho na fazenda e o banheiro era protegido apenas por uma porta de zinco.
Quando entrou no banheiro, viu a calcinha de uma certa Silvana estendida em um canto (o nome da garota estava bordado na calcinha). Ele começou a bater uma punheta por conta daquele místico objeto de devoção.
De repente, a tal Silvana puxou a proteção de zinco e o flagrou se deliciando com o cheiro da calcinha dela, como se estivesse curtindo uma prize de lança-perfume.
Segundo Antonio Arruda, foi a maior vergonha que passou na vida. Aquilo só podia ser praga das freiras.
Bom, mas um dia em que todos os moradores da fazenda haviam se ausentado para pescar, Antônio olhou pra Gracinha de um modo esquisito e daí, usando seus exímios dotes de laçador, trouxe a bichinha para perto de si e largou a peia. O bestialismo levou Gracinha ao óbito.
No fim da tarde, o comboio da pescaria chegou ao rancho da fazenda e se deparou com a garça morta, embaixo de uma das mesas do refeitório. Foi uma consternação geral.
Todos perguntaram ao Antonio Arruda o que havia acontecido. Ele desconversou.
Disse que não entendia porra nenhuma de aves ciconiformes e que talvez a garça tivesse morrido do coração ou de algo parecido.
Poucos acreditaram na história, mas não insistiram na investigação.
Terminado o interrogatório sumário, os demais vaqueiros, juntamente com Antônio Arruda, foram ao rio para tomar banho.
Pelas regras da boa convivência, todos se banhavam nus.
Quando o exímio laçador se despiu, surpresa! Ele ainda tinha parte da pelugem da garça envolta na chapeleta da jeba.
A partir dali, seu apelido passou a ser “Colarinho de Garça”, pseudônimo utilizado inclusive pelo locutor das partidas de futebol disputadas em Codajás, onde Antonio Arruda se destacava como ponta-direita ciscador. Sem trocadilho.
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