Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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terça-feira, janeiro 19, 2010
Enterrem meu coração no subúrbio de Ramos
Fevereiro de 1977. Eu estava estagiando na Sharp de São Paulo desde o início de janeiro. Na sexta-feira de manhã, véspera do sábado gordo de carnaval, liguei pro Tomzé Areosa, diretor financeiro da Sharp do Brasil, em Manaus:
– Negócio seguinte. Já terminei minha tarefa por aqui! – expliquei. “Amanhã começa o feriado de carnaval e o pessoal da Sharp só vai voltar a trabalhar na próxima quinta-feira. Eu vou pro Rio de Janeiro e só volto pra Manaus no domingo, depois do carnaval. Tudo bem?”
– Sem problema – devolveu Tomzé Areosa. “Mas fecha a tua conta na hora em que sair do hotel pra gente não pagar uma semana de hospedagem de graça.”
Foi o que fiz. A Sharp do Brasil havia me adiantado, em termos de hoje, cerca de US$ 10 mil – em dinheiro vivo –, para despesas pessoais.
Almoçando no refeitório da Sharp e jantando no hotel, minhas despesas com táxis, botecos, idas pro Rio de Janeiro, putas a domicilio (duas vezes!), gorjetas, lembrancinhas paras os homeboys de Manaus, etc, ainda não havia consumido um terço da grana. Dinheiro não era problema.
Sai da empresa ao meio-dia, peguei um táxi e fui até a Estação da Luz. Comprei o primeiro assento de um ônibus da viação Itapemerim, que partiria para o Rio de Janeiro às 20h.
Voltei pro hotel, juntei meus teréns, me despedi dos serviçais (copeiras, porteiros, diaristas) dando Cr$ 500 para cada um – era quase a metade do salário mensal dos sacanas –, fechei a conta, assinei a nota de despesas, dormi o resto da tarde e depois me mandei.
Nunca mais queria ver a cara de São Paulo.
Entrei no ônibus da Itapemerim no horário combinado e me dirigi para o banco exatamente atrás do motorista. Eu achava que a poltrona nº 1 dava direito à janela.
Havia uma menina sentada em meu lugar, usando um elegante chapéu branco e um pequeno véu de renda, que lhe cobria o rosto.
Sem sequer notar a minha presença, ela continuava comendo displicentemente um cacho de uvas e olhando para fora da janela.
Marinheiro de primeira viagem, expliquei didaticamente que ela provavelmente estava sentada no meu lugar.
Ela levantou um pouco o véu e, sem dizer nada, apontou para uma placa acima dos assentos (onde a marcação dizia que o primeiro assento era no corredor) e voltou a olhar para fora da janela.
Meus colhões foram parar na garganta.
Eu estava vestido com minha roupa de guerra (jaqueta Lee, camisa Hang Ten, calça Lee e tênis Onitsuka Tiger – aquele branquinho, com duas listras azuis sobre uma listra vermelha) e trazia em cada bolso da jaqueta um cantil porta whisky (240 ml) cheio de batida de mangarataia, presente do Baiano, um dos porteiros do Augusta Boulevard Hotel.
Sem disfarçar o constrangimento, me sentei ao lado da menina e comecei a entornar o primeiro cantil.
O ônibus começou a viagem e levou uma eternidade para chegar à Rodovia Dutra. Coloquei uma das pernas sobre o braço externo da minha cadeira, de forma que ficasse levemente de costas para a garota, e continuei me embriagando.
Não era uma batida do nível das do Bar do Caxuxa, mas dava pro gasto. Na mistureba, além de mangarataia, deu pra identificar que havia mel de abelha, catuaba, limão, canela e cachaça de cabeça. Uma bomba relógio.
Eu bebia um trago daquela gororoba morna a cada dez minutos. E sem poder acender um mísero cigarro para entrar verdadeiramente no clima de carnaval. Apesar de tudo, o conteúdo dos dois cantis acabou rapidinho.
Aproximadamente umas duas horas depois de ter partido, o ônibus deu uma parada num posto de gasolina nas proximidades de Guaratinguetá.
O motorista avisou que os passageiros teriam meia hora para satisfazer suas necessidades. A próxima parada seria dali a duas horas, em Angra dos Reis, já no Rio de Janeiro. Desci do ônibus junto com a boiada.
No posto, havia uma espécie de lanchonete meia boca. Colado, ao lado, uma espécie de mercadinho (hoje, seria uma “loja de conveniências”).
Entrei na seção de biritas do mercadinho para fazer a reposição dos dois cantis. Só havia gim extra seco da Seagram. Comprei uma garrafa.
Enchi os cantis, guardei na jaqueta, dei uma duas ou três goladas na garrafa de gim e fiquei perto do ônibus, fumando um cigarro atrás do outro.
A maioria dos passageiros estava devorando sanduíches, pizzas e salgadinhos diversos com uma fúria de refugiados da seca nordestina. Percebi que a minha parceira de assento não havia descido do ônibus. Não dei a mínima.
De repente, o meu estômago roncou, informando que eu ainda não havia jantado. Eu voltei ao mercadinho e comprei cinco barras de chocolates artesanais (trufados com chantilly, cerejas ao licor, avelãs com castanha, damasco com frutas cristalizadas e leite condensado com menta).
Quando o estômago roncasse de novo, era com eles que eu ia me safar.
Meia hora depois, o motorista deu seu grito de guerra, avisando que estava na hora de zarpar. A curriola toda entrou no ônibus e voltou para os seus lugares.
Eu abri um dos cantis (o resto da garrafa de gim eu havia dado para um clochard que fazia ponto no posto de gasolina), mas antes de dar a primeira golada e me posicionar estrategicamente na cadeira de costas para a minha companheira de viagem, tive um momento de leseira baré (culpa da batida de mangarataia misturada com gim extra seco, quero crer).
Peguei a sacola anti-larica, estendi em direção à menina e falei:
– Como você não quis descer do ônibus, comprei esses chocolates pra você...
Sem parar de olhar pra fora da janela, ela pegou o saco plástico e colocou no colo. Aí, discretamente, pegou uma barra e começou a comer.
Eu voltei a me posicionar meio de costas pra garota e entornar o meu gim extra seco.
A gente ainda não havia chegado a Queluz, quando a menina retirou com jeito o chapéu branco e o pequeno véu de renda que lhe cobria o rosto, aí se debruçou em minha direção, puxou a minha cabeça e me deu o maior beijo de língua da paróquia. Sua língua tinha gosto de chocolate trufado, avelãs e chantilly.
Quando nos desgrudamos, uns cinco minutos depois, ela ria e me dizia:
– Cara, você é muito louco! Você é muito louco!
Vê-la sem o chapéu branco e o véu de renda, foi um alumbramento. Eu juro pra vocês que até hoje nunca beijei uma mulher tão bonita como aquela. Desconfio, aliás, que vou morrer sem repetir a dose.
Sim, podem dar um desconto por conta da batida de mangarataia com o gim extra seco. De qualquer forma, o riso dela era hipnótico, quase narcotizante.
Ela devia ter uns 500 dentes de marfim para o seu sorriso reluzir daquele jeito. Seu rosto gracioso lembrava o da Claudia Cardinale em início de carreira. Um rosto de puro sol.
E ria o tempo todo porque a alegria que trazia no peito não tinha prazo de validade nem hora pra terminar.
Começamos a conversar. Ela se chamava Silvana e estava voltando pra casa, no Rio de Janeiro. Havia passado um mês na casa de sua madrinha, em São Paulo, mas não havia conseguido se adaptar.
Os paulistas eram muito frios, distantes, individualistas. Apesar de gostar muito de sua madrinha, ela não via a hora de ir embora.
Filha única, Silvana era criada pelos avós, já bem velhinhos. Quando soube que eu era de Manaus, quase morreu de rir.
Ela nunca tinha ouvido falar de Amazonas, Manaus, Zona Franca, essas coisas. Uma típica brasileira daqueles anos fluviais. Tinha 18 anos, havia passado para o 3º colegial. Queria fazer vestibular no final do ano para Medicina.
Ficou pirada quando soube que eu ia tinha 20 anos, ia me formar em Engenharia Eletrônica no meio do ano e havia passado no vestibular pra Administração no mês anterior. Ela ria e dizia:
– Cara, você é muito louco! Você é muito louco!
Antes de a gente chegar a Itatiaia, ela já havia dado um jeito de levantar o encosto entre as duas cadeiras (como não eram iguais aos dos aviões, imagino que ela tenha quebrado) e estava praticamente em cima de mim.
Rindo, o tempo todo rindo, ela dizia:
– Me beija, vai! Me beija! Você é muito louco!
E antes que eu esboçasse qualquer reação, ela enfiava a língua na minha boca. Aquilo nunca durava menos de cinco minutos. Pra eu ficar excitado, foi conta de multiplicar.
Vendo aquela presepada toda rolando atrás dele, o motorista do ônibus começou a ficar nervoso.
Nas proximidades de Resende, quase que o infeliz bate de frente em uma carreta, tão entretido que estava assistindo pelo retrovisor ao nosso amasso cada vez mais furioso.
Nervosíssimo, ele foi tocando o trem em baixa velocidade até parar em um posto de gasolina em Angra dos Reis, que também tinha lanchonete e mercadinho.
Dessa vez, a Silvana fez questão de descer do ônibus comigo, com seu braço enroscado no meu, como se a gente fosse uma casal de namorados curtindo o final das férias de verão. Os outros passageiros me olhavam com uma inveja malsã.
Eu me surpreendi ao ver que ela tinha quase a minha altura. Parei na lanchonete para pedir uma pizza pra ela e fiquei observando o seu burrão magnífico, enquanto ela se dirigia ao banheiro.
Silvana vestia um vestido de alça um pouco acima do joelho e sandália baixa. Suas pernas roliças tinham cor de pêssego. Cinco minutos depois, ela retorna rindo:
– Êi, bicho, aqui nesse mafuá não tem nem papel higiênico! Me empresta uns cobres pra eu livrar a cara das amigas...
Dei o dinheiro. Ela entrou no mercadinho e, rindo o tempo todo, levou uns cinco rolos de papel higiênico para o banheiro feminino.
Quando saiu de lá, já era a queridinha do mulherio. Fez questão de apresentar seu namorado (eu, gafanhoto!) como o verdadeiro salvador da pátria.
Enquanto ela comia a pizza, fui em busca de bebidas para fazer a reposição dos cantis. Só havia cachaça. Comprei uma garrafa de cachaça Coquinho Miguelão. Fumei meia dúzia de cigarros, um atrás do outro.
Provei a cachaça. Era álcool industrial puro, com um leve – e bota leve nisso – sabor de coco verde. Depois de alguns minutos, Silvana me enlaçou pela cintura e ficou me beijando e perguntando se eu queria casar com ela. Rindo, o tempo todo rindo. Puta que pariu, mas ela tinha um sorriso lindo.
Meia hora depois, o motorista deu outro grito de guerra, avisando que estava na hora de zarpar. A curriola toda entrou no ônibus e voltou para os seus lugares.
A Silvana me colocou no antigo lugar dela e se aninhou em meu colo, os dois ocupando o mesmo assento, meu braço esquerdo enlaçando sua cintura, a mão direita segurando o cantil, suas duas pernas roliças estendidas sobre o assento vago ao meu lado. Suas coxas eram magníficas.
Em condições normais de pressão e temperatura, eu desabotoava a braguilha e começava a transar ali mesmo. O motorista que se assustasse com a cena e depois batesse frontalmente em uma carreta de três eixos.
Mas eu ainda não estava embriagado o suficiente para tentar a façanha. E aquela cachaça do Miguelão também não estava ajudando muito.
A Silvana me tomou o cantil de cachaça da mão, deu uma golada de respeito, devolveu o cantil fazendo uma careta engraçada e me deu mais um beijo de cinco minutos. O meu pau quase saiu pela braguilha.
Depois, encostou seu rosto no meu peito e abriu o jogo:
– Cara, você é muito louco, você é muito louco! Eu sou filha de santo, minha mãe é Iansã. Eu sou cabeça feita! Os meus guias espirituais são várias crianças. Aí, quando você me deu aqueles chocolates, sem querer acabou conquistando os meus guias. Juro por Deus que nunca, na minha vida, havia beijado alguém sem conhecer antes. Foi a primeira vez. Pra ser sincera, eu não tenho nem namorado. Só penso em estudar. Quem me fez te dar aquele beijo foram as crianças. Elas disseram pra mim que você é filho de Ogum!
Completamente bêbado, entrei na viagem:
– Eparrei! Não sei como você adivinhou, minha princesa, mas sou mesmo filho de Ogum. Pros católicos ele é São Jorge da Capadócia, o guerreiro divino empenhado no combate ao mal, o vencedor de demandas, que apóia os homens em momentos de dificuldade. Sim, princesa, eu sou mesmo filho de Ogum. Não sei se você sabe, mas Ogum foi casado com Iansã e teve nove filhos. A gente bem que podia começar a fazer uma nova família a partir de hoje...
Silvana quase morreu de rir. Depois, puxou a minha cabeça pra cima dela e enfiou a língua na minha boca mais uma vez.
Aí, se arrumou mais um pouco, possivelmente para sentir meu pau latejando sob o seu burrão, colocou minhas duas mãos cruzadas sobre seus seios e fingiu dormir. Seus seios eram duros como mármore de Carrara.
Passei o resto da viagem fazendo exame de câncer de mama na minha nova princesa. Mas dentro da maior discrição possível.
Passamos por Soropédica, Nova Iguaçu, São João do Miriti e, de repente, chegamos à rodoviária do Rio de Janeiro, no centro da cidade.
Silvana se levantou do meu colo, apanhou uma pequena sacola no compartimento de bagagens, me deu um beijo rápido e sussurrou:
– Valeu, Ogum! A gente se vê por aí...
Dito isso, ela desceu do ônibus e foi embora.
Fiquei cerca de meia hora na plataforma de desembarque, com minha mochila nas costas, esperando um táxi. Nem água. Um prestativo carregador se aproximou e deu a dica:
– Patrão, eu sei que você quer um táxi. Então, vamos até ali do outro lado da rodoviária que eu consigo um carro pra você!
Sem esperar pela minha reação, ele colocou a minha mochila no seu carrinho e saiu empurrando. Eu, meio trôpego, indo atrás.
Havia uma multidão de gente na rodoviária, tipo rua Marechal Deodoro, em um sábado de manhã, na véspera de Natal. Devia ser umas três horas da madrugada do sábado gordo de carnaval.
O carregador deu um assovio e um táxi, meio distante, começou a manobrar para me apanhar.
Quando olhei pra uma fila imensa em uma parada de ônibus, vi a minha Iansã. Eu me aproximei e atirei à queima-roupa:
– O que qui você ainda está fazendo aqui? Pensei que você já estivesse em casa...
Rindo estrepitosamente, ela devolveu de trivela:
– Ogum, meu filho, eu sou pobre. E pobre tem que sofrer...
Bêbado que nem gambá, eu não entendi a ironia. Insisti:
– Você não quer ir pra casa? Então vem comigo, que eu te dou uma carona!
Ela nem discutiu.
Coloquei a Silvana dentro do táxi, dei Cr$ 500 para o carregador (que até hoje deve rezar pela minha alma) e nos mandamos.
A Iansã morava no subúrbio de Ramos. Eu ia para Copacabana. Seria uma carona arrojada. O motorista, evidentemente, ficou espantado. Mas quando viu a Silvana rindo e me beijando alucinadamente dentro do carro, deve ter imaginado que ele, em situação semelhante, faria a mesma coisa.
Resumindo, seria mais ou menos como você estar na Estação Rodoviária de Manaus e resolver dar uma carona de táxi para uma menina que morasse no Rio Preto da Eva pra só então voltar pra sua casa, lá na Cachoeirinha.
A Silvana, sentada no meu colo e sem parar de rir um instante, ia ensinando ao motorista o caminho da sua quebrada:
– Você pega a rua Urano, depois entra na Cardoso Morais e vai até a Belarmino Barreto, como se a gente estivesse indo pra quadra da Imperatriz Leopoldinense. Depois da Praça Dom Manoel vamos entrar em um ferro de engomar e eu lhe digo pra onde seguir –, avisava.
Aí voltava a me dar uns beijões cinematográficos e perguntar se eu não queria casar com ela. Eu assentia com a cabeça, claro. Fazer o que?
Dali a pouco, ela se debruçava em direção ao motorista para explicar de novo o caminho e ficava remexendo aquela bunda farta no meu colo, feliz como pinto no lixo, acompanhando as faixas de dance music (“Ring Bell”, da Anita Ward, “Love To Love Baby”, da Donna Summer, “Let The Music Play”, do Barry White, “You Make Me Feel”, do Sylvester, “Don’t Leave Me This Way”, da Thelma Houston e outras), que saíam do toca-fitas do táxi.
Até hoje não sei como não esporrei no vestido da Silvana.
Cerca de uma hora depois de sairmos da rodoviária, paramos em frente da casa da Iansã.
Era uma precária vila de madeira, que tinha uma espécie de beco de entrada com calçamento de pedras. Não havia iluminação pública no lugar. Estava uma escuridão de dar medo.
Ainda dentro do táxi, a Silvana escreveu o seu endereço em um pedaço de papel, me entregou, desceu do carro e pediu pra gente esperar até alguém abrir a porta.
Desci com ela. A Silvana começou a gritar seu nome na rua deserta.
Dali a alguns minutos, um senhor idoso, portando uma lanterna, saiu lá dos confins do beco e veio caminhando tropegamente até a gente.
Sem parar de rir, Silvana anunciou:
– Vôzinho, esse aqui é o meu futuro marido vindo lá de Manaus! A gente vai se casar na próxima semana...
O ancião me estendeu a mão amistosamente, pegou a pequena sacola da neta e começou a andar de volta para o beco.
Silvana me deu mais um daqueles seus beijos de cinco minutos e disparou:
– Vem aqui em casa hoje à tarde, que eu vou te apresentar como meu noivo pra rapaziada do Cacique de Ramos! Cara, você é muito louco! Eu tenho certeza que você vai se amarrar neles! O pessoal do Cacique de Ramos é tudo gente boa! Eu vou estar te esperando pra gente desfilar juntos no bloco! Não vai me dar bolo, hein? Te amo, Ogum, te amo...
E saiu correndo na direção do final do beco, até conseguir se abraçar com o avô ainda caminhando tropegamente e entrarem os dois em uma das casas.
De volta para Copacabana, o motorista de táxi estava enlouquecido:
– Porra, cara, essa sua namorada é muito linda! Se você tivesse me dado um toque, eu deixava vocês num motel da Barra e pegava de manhã cedo. A gente vinha deixar ela em casa um pouco mais tarde, sem problema. Ela é muito linda, cara, ela é muito linda! Você marcou, cara, você marcou! Puta que pariu! Era pra você estar com ela até agora! Era só você me dar um toque, cara, era só você me dar um toque...
Eu me limitava a sorrir. No domingo eu iria ver a Silvana, ora pombas. Estava com o endereço dela no bolso. No momento, eu só queria ver a Mariana.
Ele me deixou em frente ao edifício da minha deusa titular. O porteiro já correu para abrir a porta do carro.
A corrida devia ter custado uns Cr$ 800. Eu dei Cr$ 1.500 para o motorista. O dinheiro não era meu, era da Sharp do Brasil. Meu papel era espalhar migalhas de felicidades por aí.
Empolgado, o motorista ainda insistiu mais uma vez:
– Se você quiser, eu posso vir te pegar no começo da noite de hoje pra gente voltar a Ramos. Eu tenho certeza de que encontro a casa da sua namorada...
Dispensei o motorista na maior diplomacia.
Foi uma das maiores burrices que já fiz ao longo da vida.
Por uma série de acasos fortuitos típicos da teoria do caos - incluindo o fato de eu ter ido passar o carnaval em Paraty e viajado na tarde daquele sábado de carnaval – nunca mais voltei a ver a minha Iansã.
Nem naquele e nem mais em dia nenhum.
O que será que eu devo ter perdido?
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Um comentário:
Pow cara me amarrei na história,boa mesmo.
tem como você me esclarecer quem é mariana?
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