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terça-feira, janeiro 19, 2010

História da Ponta da Bolívia


Início da construção da rodovia AM-10 (Manaus-Itacoatiara) no bairro de Flores

Março de 1959. Apontador de campo do DER-Am, Carlos dos Santos Castro (aka “Carillo”) estava participando da construção da estrada Manaus-Itacoatiara quando resolveu pilotar, mesmo sem saber, um trator do tipo Tournapull. Não deu outra.

A máquina se desgovernou, entrou num barranco nas imediações do atual hospital psiquiátrico Eduardo Ribeiro, em Flores, o piloto foi cuspido da cabine, sofreu traumatismo craniano e passou seis meses em coma. Quando saiu do coma, estava meio tan-tan (havia perdido massa encefálica).

Aposentado precocemente, Carillo passava o dia sem sair de casa, no Morro da Liberdade.

Seus seis filhos – Inácio, Augusto, Antonio, Islei, Domitila e Gilbert – eram todos crianças e começaram a fazer pequenos trabalhos, tais como vendas de doces e picolés, para ajudar dona Gilma Barros de Castro a sustentar a família.

Uma irmã de Carillo, dona Berta, havia passado vários anos morando em Caracas, na Venezuela, e depois retornara a Manaus, onde se casara com o comerciante Severino Andrade.

Este possuía um imenso terreno na região onde hoje está localizado o posto da Polícia Rodoviária na AM-10 (Manaus-Itacoatiara). Severino propôs que Carillo fosse morar no pequeno sítio existente no local e tomasse conta do vasto terreno para evitar futuras invasões, roubos de madeira e caça predatória de animais silvestres.

Ao lado da ponte de madeira do Quixó, no igarapé de mesmo nome, Severino construiu um pequeno restaurante de madeira e também deu para o cunhado administrar.

Um comerciante boliviano chamado Hernan Suarez, que havia conhecido dona Berta em Caracas, tornou-se freqüentador habitual do restaurante.

Ele passava horas e horas conversando com Carillo e se deliciava com o excelente peixe frito preparado pelo dono, gerente, cozinheiro e único garçom da espelunca.

Suarez começou a propagandear a novidade para seus inúmeros amigos na zona urbana de Manaus. Dezenas de famílias começaram a freqüentar o logradouro nos domingos e feriados.


O igarapé do Quixó, que foi totalmente poluído pela ocupação desordenada do solo

Em homenagem ao amigo, Carillo batizou o restaurante como “Ponta da Bolívia” e mandou pintar a bandeira do país em uma das paredes.

E foi com esse nome que um dos melhores banhos públicos de Manaus passou para a posteridade.

Carillo permaneceu tomando conta do local até 1971, quando foi estupidamente assassinado por um freqüentador embriagado, que depois se evadiu do local e nunca mais foi encontrado.

Formado em Ciências Biológicas, Inácio Castro resolveu estudar Direito e entrar para a Polícia, com o intuito de descobrir o assassino do pai. Foi aprovado no concurso para delegado em 1977.

Em pouco tempo, tornou-se um dos mais bem-sucedidos delegados da cidade, esclarecendo inúmeros crimes e desbaratando várias quadrilhas sem dar um único tiro.

Em 1988, quando investigava um colossal desvio de óleo da Refinaria de Manaus, chegou a vários figurões de nossa melhor sociedade.

Seus superiores pediram que ele puxasse o freio de mão porque aquilo seria um escândalo inimaginável.

Pra não compactuar com a presepada, Inácio Castro pediu seu desligamento da Polícia Civil. O crime organizado havia ganho mais uma.

Um comentário:

Rui de Carvalho disse...

Maravilha de explicação Simão Pessoa. Seu texto é muito bom. Estou em boas mãos! Grande abraço. Rui de Carvalho