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sábado, janeiro 23, 2010

Pastorinhas

O diretor de efeitos especiais do mocó pede que esse texto seja lido com a seguinte trilha sonora: A estela d'alva / No céu desponta / E a lua anda tonta / Com tamanho esplendor / E as pastorinhas / Pra consolo da lua / Vão cantando na rua / Lindos versos de amor / Linda pastora / Morena da cor de Madalena / Tu não tens pena / De mim / Que vivo tonto com o teu olhar / Linda criança / Tu não me sais da lembrança / Meu coração não se cansa / De sempre e sempre te amar.


Era o sábado gordo de carnaval de fevereiro de 1977. Depois de ter deixado a Iansã no subúrbio de Ramos, eu entrei no elevador do prédio da Mariana e quando toquei na cigarra do apartamento, por volta das 5h da manhã, foi ela própria quem abriu a porta.

Mariana estranhou o fato de eu ter chegado tão tarde, mas não quis entrar em detalhes. Também percebeu que eu estava alegremente bêbado, mas não disse nada. Uma princesa!

Depois de me servir uma xícara de café amargo – para diminuir o porre –, me contou que havia mais dois novos hóspedes no pedaço: Anabel e Paulinha, colegas daquelas minhas duas amigas que já haviam ficado antes hospedadas na casa.

Caraco, mas a cabocada de Manaus já estava passando dos limites e confundindo o apartamento da princesa com hospedaria nortista. Fiquei mordido.

Na hora do almoço, seu Agostini avisou que a gente ia passar o carnaval em Paraty, um município distante 252 Km (mais ou menos a distância entre Manaus e Itacoatiara). Ficaríamos hospedados na casa de uns parentes da família.

Por volta das 15h, colocamos os teréns – malas, alimentos e biritas – dentro de uma kombi fretada e embarcamos. Na cabine, o motorista dono da kombi e seu Agostini. No segundo banco, Dona Maura, Dandara, Luzia e Estela. No último banco, Anabel, Paulinha, eu e Mariana.

Bebendo vermute Cinzano no gargalo usando a mão esquerda e abraçado a Mariana pela cintura com a mão direita, comecei a alisar discretamente seu seio por cima da camiseta. Ela deixou.

Dei um jeito de enfiar a mão por baixo de sua camiseta. Ela estava sem soutien e começou a rir discretamente.

Fiquei a viagem inteira brincando com o mamilo do seu seio direito.

Para tentar brincar também com o mamilo esquerdo, eu teria que fazer um movimento tão arrojado que poderia despertar a atenção dos outros passageiros. Eu estava bêbado, mas não estava doido.


Foi uma viagem tranqüila, apesar de encararmos um engarrafamento monumental na ponte Rio-Niterói. Chegamos ao município por volta das 19h.

Paraty é uma bela cidade colonial, que preserva até hoje os seus inúmeros encantos naturais e arquitetônicos. Passear pelo centro histórico da cidade é entrar em um túnel do tempo.

O segredo é caminhar bem devagar, curtindo as pedras “pés-de-moleque” do calçamento de suas ruas. Carros não podem circular naquela área.

As construções e cores de seus casarões e igrejas traduzem um estilo de época e os misteriosos símbolos maçônicos que enfeitam as suas paredes nos levam a imaginar como seria a vida no Brasil de antigamente. É uma cidadezinha desbundante.

A cidade foi fundada em 1667 em torno à Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, sua padroeira. Teve grande importância econômica devido aos engenhos de cana-de-açúcar (chegou a ter mais de 250), sendo considerada ainda hoje um sinônimo de fabricação de “cachaça de qualidade mundial”.

No século 18, destacou-se como importante porto por onde se escoava o ouro e as pedras preciosas de Minas Gerais que embarcavam para Portugal.

As constantes investidas de piratas que se refugiavam em praias como Trindade, fizeram com que a rota do ouro fosse mudada, levando a cidade a um grande isolamento econômico.

Após a abertura da estrada Paraty-Cunha, e principalmente, após a construção da rodovia Rio-Santos na década de 70, Paraty tornou-se um importante pólo de turismo nacional e internacional, devido ao seu bom estado de conservação e, principalmente, por conta de suas belezas naturais.

Em sua área encontram-se o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a Área de Proteção Ambiental do Cairuçú, onde está a Vila da Trindade, a Reserva da Joatinga, e ainda, faz limite com o Parque Estadual da Serra do Mar. Ou seja, é Mata Atlântica por todo lado.

Ficamos hospedados em uma belíssima casa colonial de dois andares que, desconfio, devia ter sido a sede de alguma antiga fazenda de café.

Era uma casa imensa, com dezenas de quartos, banheiros, corredores e repleta de móveis coloniais.

Naquela mesma noite começaram a chegar vários tios e primas da Mariana, vindos de Volta Redonda, São João do Meriti e Barra Mansa. Por baixo, umas trinta pessoas. E havia lugar, comida e bebida pra todo mundo. A farra prometia.

Em um salão que havia na parte superior da casa, descobri uma gigantesca rede cearense, daquelas que cabe uma família inteira dentro.

Me apossei do brinquedo e ele se transformou no meu cantinho favorito.

Além de ser extremamente confortável, a rede tinha uma praticidade a toda prova: se eu ficasse bêbado, não daria trabalho a ninguém e dormiria ali mesmo.

O diabo é que, mesmo enchendo a cara de cerveja, vermute, cachaça e vinho tinto, eu não dava vexame. Para um moleque que havia se iniciado na senda do crime encarando gim (o último degrau do alcoolismo), eu estava em boa forma.

No mais, eu estava inapelavelmente apaixonado pela Mariana e às vezes chego a acreditar que a recíproca era verdadeira.

A gente não se desgrudava um minuto, o que era motivo para comentários irônicos de alguns parentes dela, pouco afeitos a ver um chamego com aquela intensidade.

No mínimo, deviam pensar que eu já havia apanhado a fruta no pé.

Nós dois não dávamos a mínima para as maledicências. Estávamos felizes demais para se preocupar com as dores do mundo.

Nem fomos para o baile de carnaval na quadra Ilha das Cobras, no sábado gordo, nem para a Praça da Matriz, onde desfilam vários blocos de mascarados e de bonecos gigantes.

Preferimos ficar em casa, até os retardatários voltarem da brincadeira.

Quando não estávamos namorando na rede – e eu estava começando a me especializar em exame de câncer de mama –, colocávamos meia dúzia de músicas românticas na vitrola e dançávamos cheek-to-cheek, bem agarradinhos.

Era impossível ela não perceber que eu estava excitado. Mas em nenhum momento tentei avançar o sinal.


A coisa começou a desandar no dia seguinte, em pleno domingo gordo.

Como eu e a Mariana pretendíamos ir pra batalha de confete na pracinha da cidade, resolvemos nos antecipar.

Tomamos banho (separados, bando de tarados, cada um em seu banheiro!), vestimos nossos trajes de guerra (eu, de malandro de morro, ela, de colombina apaixonada) e descemos pra jantar por volta das 18h. Dona Maura resolveu nos acompanhar no programa gastronômico.

Nós três havíamos acabado de jantar (risoto de camarão, pernil desfiado, galinha escandalosa, macarronada à bolonhesa, arroz branco, feijão tropeiro e farofa mineira), quando uma das meninas amazonenses apareceu na sala de jantar.

As panelas e terrinas de barro ainda estavam na mesa.

Ela se serviu e, para não parecermos mal educados, eu e a Mariana continuamos à mesa, para fazer companhia.

Dona Maura havia recolhido nossos pratos e talheres, e estava lavando as louças na pia.

Se achando mais importante do que balconista de cartório, a menina deu uma garfada, fez uma cara de nojo, cuspiu a comida de volta no prato e detonou:

– Arre égua! Essa comida está azeda!

Dona Maura largou os pratos dentro da pia:

– Cumequié?

– Essa comida está azeda, dona Maura. Está parecendo babujo...

Dona Maura que, desconfio, já estava com as duas caboquinhas atravessadas na garganta por outros motivos, não perdoou:

– Você respeite a minha casa, sua sem-vergonha! Eu, a Mariana e o Simãozinho acabamos de comer dessa comida! Eu não admito que você venha dizer que a gente serve comida azeda! Ou que nós somos cachorros pra comer babujo! Se você gosta de comer em restaurante, vá até um deles e faça bom proveito! Mas não venha me desrespeitar dentro da minha casa!

E Dona Maura disse isso tudo aos gritos, com raiva, chorando de ódio, completamente transtornada. O bate-boca atraiu metade dos hóspedes. Virou uma zona federal.

Discute daqui, discute dali, todo mundo querendo colocar panos quentes, as duas caboquinhas também já chorando, se desculpando e se preparando para dar o fora da casa. Um verdadeiro bonde do terror.


Eu e Mariana estávamos tão assustados com a cena , que ficamos quietos no nosso canto. Foi quando a Dona Maura pagou geral:

– Germano, como foi você que convidou essas duas meninas aqui pra casa e como eu ainda tenho educação doméstica, vamos fazer o seguinte. Eu vou voltar pro Rio de Janeiro e você continua aqui com elas, fazendo as honras da casa. Só preciso que você vá me deixar na rodoviária. Agora. Agora!

Ela disse isso e já foi se mandando pro quarto para arrumar a mala.

Aí foi a vez de a Mariana nos colocar na fita:

– Paizinho, eu não vou deixar a mamãe sozinha lá em Copacabana. Se ela for embora, eu também vou.

Por volta das 19h, nós três estávamos deixando Paraty e voltando de ônibus para a Cidade Maravilhosa.

Dentro do ônibus, uma meia dúzia de passistas da Portela, a escola de coração da Mariana, ensaiava animadamente o samba-enredo “Festa da Aclamação”, se preparando para o desfile na Avenida Presidente Vargas naquela noite.

Ela ficou emocionada e começou a cantar o samba enredo junto com eles, feliz da vida.

Torcedor do GRES Beija-Flor de Nilópolis, que estava em busca do bicampeonato com o enredo “Vovó e o rei da Saturnália na Corte egipciana”, não dei a mínima para a animação dos passistas portelenses.

Descemos na estação rodoviária, chamei um táxi e nos mandamos para Copacabana.

Eu e a Mariana ficamos assistindo os flashes do desfile pela tevê até de madrugada.

A Portela acabou faturando o 2º lugar, perdendo da Beija-Flor por apenas um ponto.


De segunda-feira gorda até a quarta-feira de cinzas, a nossa rotina não teve nenhum sobressalto.

Pela manhã, eu e a Mariana íamos fazer as compras do dia, em feiras e supermercados.

Na seqüência, ela ia pra cozinha e eu começava a me embriagar na sala, escutar discos de rock e ler os livros existentes no apartamento.

De vez em quando, eu entrava na cozinha e pintava um amasso – eu já havia avançado de fase e tinha direito a dar uma chupadinha em seus seios angelicais, rápido o suficiente pra Dona Maura não perceber.

Almoçávamos em companhia da Dona Maura, jogávamos pif-paf ou dominó e depois íamos ao cinema Roxy.

À noitinha, eu arrastava a Mariana pro Bar Cervantes, pra comer filé de queijo e abacaxi acompanhado de chope gelado.

De lá, a gente passava no Bib Bip pra eu me empapuçar de batida de maracujá enquanto a roda de choro comia solta no pedaço.

Por volta das 23h, impreterivelmente estávamos dentro de casa. E, por volta da meia-noite, íamos dormir. Tudo na mais perfeita harmonia.

Na quinta-feira, a Mariana voltou a trabalhar no Banerj.

Fiquei com medo de me embriagar, perder o controle e avançar em cima das minhas duas cunhadinhas adolescentes, que eram de tirar qualquer um do sério.

Preferi bater pernas, sozinho, lá pras bandas de Ipanema, mas não achei a menor graça – apesar de ter almoçado lula com brócolis, no Bar Garota de Ipanema (ex- Bar Veloso), e tomado meia dúzia de chopes.

À tarde, fiquei procurando gibis antigos nos inúmeros sebos existentes em Copacabana. Não encontrei um que ainda não tivesse lido.

Voltei pro apartamento da princesa no começo da noite.

As minhas duas conterrâneas já haviam viajado de volta pra Manaus, mas com a quantidade de gente dentro do apartamento nos marcando de perto (Agostini, Maura e as irmãs Estela, Luzia e Dandara), não havia a menor chance de fazer uma nova saliência com a Mariana.

Na sexta-feira, subornei a caçula da família, a Dandara, que devia ter dez anos, para me levar até a agência do Banerj, onde a Mariana trabalhava.

Ela tomou um susto quando nos viu entrando na agência. Deve ter pensado que eu ia fazer algum escândalo.

A Mariana conversou rapidamente com o gerente e ele acabou a liberando pra sair mais cedo. Nós três fomos comemorar a folga antecipada em uma sorveteria. Estávamos mais felizes do que nunca.


Naquela mesma noite, eu e Mariana fomos assistir “Dona Flor e seus dois maridos”, no cine Roxy, e avancei mais uma fase.

Com minha mão por baixo do vestidinho de malha que ela estava usando, comecei a fazer suaves carinhos em suas coxas fornidas, na região da virilha, chegando a roçar sua calcinha com os nós dos dedos.

Mariana limitava-se a apertar meu braço e me beijar com gosto. Mas não passamos daí.

Eu ia viajar no domingo à noite. Aquele seria o nosso último fim de semana juntos e era preciso aproveitar ao máximo.

Por volta das 10h de sábado, eu e as quatro meninas em flor (Mariana, 19 anos, Estela, 17 anos, Luzia, 15 anos, e Dandara, 10 anos) resolvemos ir pra Praia de Ipanema.

Era um dia de sol radiante e a praia estava superlotada, parecia um verdadeiro formigueiro humano. A Mariana não quis ficar lá.

Fiquei aborrecido, porque pretendia tomar um chopinho no famoso Bar Jangadeiro, mas não reclamei.

Acho que fomos caminhando até o Leblon, mas a ressaca da maré estava impiedosa e o banho de mar, proibido.

Resolvemos então pegar um táxi e ir almoçar em um restaurante italiano lá pras bandas da lagoa Rodrigo de Freitas. A Mariana sugeriu o Giuseppe.

O ambiente rústico e elegante à beira da lagoa parecia ser um dos atrativos do restaurante carcamano, que servia diversos tipos de pratos como peixe à grottammare, carpaccio de salmão, filé de peixe ao pró-seco, dentre outros, mas também oferecia ar condicionado, área para fumantes e varanda. Ocupamos duas mesas na varanda.

Para evitar que o pedido de vários pratos individuais demorasse mais do que o necessário, as meninas entraram em um acordo.

Pediram apenas dois pratos, com a recomendação de “que desse pra três pessoas comerem”: nhoque de abóbora no molho de camarão ao prosecco e ravióli de tomate seco, azeitona preta e manjericão ao molho cremoso de mussarela de búfala e mascarpone. Pra sobremesa, torta de chocolate quente com sorvete de chocolate e amêndoas.

Eu me limitei a tomar umas vinte canecas de chope e comer meia dúzia de camarões fritos.

A gente deixou o restaurante por volta das cinco horas da tarde e saímos caminhando para apanhar um táxi.

Foi quando a Dandara cismou de passear de pedalinho na lagoa. Não custava nada deixar a fedelha se divertir mais um pouco.

Ocorre que eu ainda estava com a história de não ter ido ao Bar Jangadeiro atravessada na garganta e resolvi retaliar. Coisa de bêbado.

– Deixa essa porra de pedalinho pra outro dia, que eu ainda quero ir pro cinema com a tua irmã e já está ficando tarde! – avisei, fingindo que estava puto.

Fodeu geral!

A moleca abriu um berreiro de iraniano sendo torturado na base de Guantanamo com choques elétricos nos colhões.

Ela se jogava no chão, esmurrando a grama com violência, completamente ensandecida, chorando desesperadamente.

A Linda Blair de “O Exorcista”, perto dela, não pagaria placê.

E o mais trágico é que era um choro sofrido, doloroso, de cortar o coração. A Mariana ficou apavorada.

Rindo daquela presepada, eu dei uma de especialista em psicologia infantil. Coisa de bêbado já passando dos limites:

– Essa moleca é muito mimada, Mariana! Fazendo esses dengos todos, vocês vão deixar ela mal acostumada. A Dandara precisa aprender que nem sempre pode fazer tudo que lhe der na telha! O mundo não funciona assim...

O choro de contrariedade se transformou em ódio homicida. A minha parceirinha de sorveteria da tarde anterior agora me olhava com tanta raiva, que seus olhos faiscavam. E não parava de berrar um instante.

Quando chegamos ao apartamento, se instalou o caos. Sei lá o que foi que a Dandara contou pra Dona Maura, mas, seja lá o que for, a deixou extremamente emputecida.

Como se eu não existisse, a Dona Maura começou a anarquizar a Mariana na minha frente, por ela ter permitido eu fazer aquilo (?) com a criança.

A Mariana não dizia nada, só balançava negativamente, a cabeça exprimindo contrariedade.

Lá pelas tantas, segurando o choro, ela me pegou pela mão e saímos do apartamento, sem dar satisfação a ninguém.

Ficamos conversando em um botequim da avenida Atlântica até por volta da meia-noite. Aproveitei para encher a cara de cerveja.

Ela não estava entendendo nada. Alguma coisa estava fora de ordem.

Eu também estava puto da vida.

Naquela noite a gente iria pro cinema e eu estava pensando em avançar mais uma fase.

No mínimo, a Mariana iria colocar sua mãozinha delicada no cheio de varizes.

De repente, estávamos nos dois ali, jogando conversa fora e aborrecidos até a alma com um dia que tinha tudo pra ser perfeito.

Quando subimos pro apartamento, o inferno recomeçou. Eu fiquei com pena da minha princesa.


Naquele domingo, a Mariana amanheceu de olhos inchados, com jeito de quem havia passado a noite chorando.

Assim que terminamos o café da manhã, ela me pegou pela mão e saímos do apartamento, sem dizer nada a ninguém.

O assunto havia se tornado mais sério do que eu pensava.

Pelo que entendi, a dona Maura também suspeitava de que eu já havia colhido a fruta no pé e havia dito isso na cara da minha princesa.

A Mariana estava mais enfezada do que bode emborcado.

Só havia uma solução: a gente encontrar um cartório aberto e se casar. Ela queria pegar a certidão de casamento e esfregar na cara da mãe.

Eu não tinha nada a perder. Já era casado mesmo.

Passamos a manhã inteira procurando um cartório aberto ou um juiz de paz que não estivesse de ressaca.

Fomos andando a pé de Copacabana ao Leblon, entrando em várias ruas e vielas, sem sucesso.

Era domingo, dia em que a única repartição da Justiça que fica aberta é o cartório eleitoral. E, assim mesmo, só em época de eleição.

Comemos um sanduíche no Bob’s e retornamos pro apartamento, por volta das 14h, sem esconder a tristeza. Não trocamos uma palavra pelo resto da tarde.

Ela ficou amuada em seu quarto, eu fiquei na sala arrumando os meus teréns. Parecia um clima de velório.

Meu vôo estava marcado pra 21h, mas quando deu 17h comecei a me despedir da família.

Falei pro seu Agostini:

– Chefe, a sua filha continua do mesmo jeito que estava quando eu entrei aqui na sua casa pela primeira vez. A Mariana é uma pessoa direita. Acredite nela!

Ele entendeu o recado.

Com a dona Maura, limitei-me a um abraço formal.

Dei pra Estela três camisas indianas de que ela havia gostado muito (uma delas, branca, trazia uma imensa mosca impressa nas costas. Coisas da Rimex).

Pra Luzia, dei a minha jaqueta Lee. Ela quase não acreditou.

A Dandara não quis papo comigo.

A Mariana, com uma tristeza de viúva estampada no olhar, saiu do quarto rapidamente, me deu um beijo no rosto e sussurrou:

– Se cuida!

Depois voltou pro quarto.

Desci do apartamento com a minha mochila nas costas, peguei um táxi na avenida Atlântica e fui pro aeroporto.

O meu calvário particular estava apenas começando.

Um comentário:

Cynara disse...

Simão você é um filho da Puta!Mas os textos são tão gostosos...rsrsrr
Viciei:(