Pesquisar este blog

terça-feira, novembro 04, 2008

Road comics brasileiro





Claudio Yuge

Curitiba - Junte aí um pouquinho de road movie, ultraviolência em tom de humor negro, pitadas de cultura pop, design gráfico, traços rebuscados e dezenas de referências. Tudo isso está no quadrinho de Rafael Grampá, que exibe mais de sua ainda pequena, porém ruidosa, bibliografia na nona arte em Mesmo Delivery, lançamento da editora Desiderata.

Mesmo Delivery conta uma história simples: um motorista de caminhão brutamontes e seu companheiro magricela rodam com uma carga misteriosa quando, em uma parada num restaurante de beira de estrada, acabam arrumando confusão. O que se segue é uma pancadaria generalizada até o final da revista.

No entanto, o que chama mesmo a atenção é a maneira como isso tudo é contado, simples mas muito divertido. Os desenhos rococó de Grampá evocam o preciosismo a favor da vitalidade dos personagens, os detalhes em prol do dinamismo, os layouts são inspirados em uma canção rock'n'roll, como se o leitor estivesse ouvindo uma canção do Queens of Stone Age na frente de uma tevê exibindo um faroeste moderno. Robert Rodriguez ou Quentin Tarantino que o digam.

A narrativa, aliás, busca referências vintage, composições baseadas em seriados setentistas e em ilustrações japonesas, tudo bem colocado na página, resultado da experiência do rapaz como designer e diretor de arte em renomado estúdio paulista. Ação e reação, tempo e ângulo são dispostos de forma a sugerir a compreensão instintiva do leitor, superestimando a inteligência de quem acompanha a trama. Coisa rara no mercado mainstream desses dias, especialmente vindo da produção nacional.

O gaúcho Grampá, ainda jovem, demorou a perceber que, diferente da maioria, nasceu com o talento. E, depois de avisado, passou a produzir com mais frequência, desenvolver sua narrativa. Em Bang Bang mostrou o cartão de visitas, em 5 conquistou ao lado dos gêmeos Bá e Moon o Eisner Awards e agora, com Mesmo, já cravou seu nome entre os principais da nova geração de quadrinhistas brasileiros. Resta ao público esperar seus vindouros trabalhos, a edição 250 de Hellblazer, em parceria com o roteirista Brian Azzarello em conto especial de John Constantine; e a graphic novel Furry Water.

DIMENSÃO DC: LANTERNA VERDE

Os anéis energéticos verdes só podem ser utilizados por pessoas corajosas e com uma força de vontade acima da média. Já os amarelos são de seres capacitados a provocar muito medo. Ambos detêm forças cósmicas suficientes para criar construtos no limite da imaginação e são destinados apenas aos escolhidos por cada tropa.

E se chocam em uma batalha denominada Guerra dos Anéis, que estréia na nova revista da Panini Comics, Dimensão DC: Lanterna Verde, responsável por deflagrar o início da Crise Final, mais um grande evento para reformular o universo da DC Comics, editora de Superman, Batman, Mulher-Maravilha, entre outros.

A Tropa dos Lanternas Verdes é como se fosse uma polícia intergalática e tem entre seus membros quatro escolhidos terrestres, no setor 2184, ou seja, o nosso: o temperamental Guy Gardner, o sistemático John Stewart, o criativo Kyle Rainer e o teimoso Hal Jordan. O último costuma ser conhecido por desobedecer constantemente as ordens dos Guardiões do Universo e só é perdoado por sua bravura e o faro por encontrar confusão relevante em lugares onde menos esperam.

O que a Tropa dos Lanternas Verdes não sabia é que o espectro de cores de anéis é maior do que se podia imaginar. E a primeira das faixas a se manifestar é a amarela, liderada pelo ex-lanterna verde Sinestro. Começa então a batalha da força de vontade contra o medo, guerra que vai reverberar por todos os cantos do Universo DC.

A saga, uma das melhores da DC em muitos anos, foi elogiada pelos leitores e pela crítica por diversas razões, entre elas: o roteiro de Geoff Johns é autocontido nos títulos Green Lantern e Green Lantern Corps, reunidos em uma só revista no Brasi, pela Panini Comics, o que facilita o entendimento do confuso universo decenauta; os desenhos de Ivan Reis caíram como uma luva, o que rendeu ao brasileiro o título de melhor desenhista pela revista especializada Wizard; as histórias reinventaram o mito dos Lanternas, reformularam os vilões, introduziram elementos interessantes (como as diversas tropas de várias cores) e mostraram como cada um das centenas de integrantes da Tropa é completamente diferente um do outro.

O sucesso da mistura entre ação e ficção científica conquistou até mesmo os leitores que torciam o nariz para o Lanterna Verde da Era de Prata, Hal Jordan, e levou a direção da DC a pensar o futuro de seu universo a partir do título esmeralda. Tudo o que vai acontecer daqui pra frente tem ligação profunda com a revista Dimensão DC: Lanterna Verde e até mesmo o vindouro filme do herói tem influência dessa saga.

A primeira edição traz o nascimento da Tropa Sinestro e a formação de uma nova Tropa dos Lanternas Verdes liderada por Guy Gardner, John Stewart e Kyle Rainer. E, a melhor notícia, pode ser acompanhada por qualquer um que não tenha lido nada sobre o assunto nos últimos trinta anos. O que, atualmente, para a DC, já é um ótimo começo.

PREDADORES

A maioria das histórias de vampiros mostram esses seres notívagos em uma constante luta pela sobrevivência, seja para se alimentarem ou para viverem em relativa paz. Predadores, lançamento da Devir Livraria, acrescenta algo ao gênero: o roteirista Jean Dufaux e o ilustrador Enrico Marini contam como os humanos influenciaram no comportamento dos chupadores de sangue e vice-versa.

Tudo começa quando a voluptuosa tenente Vicky Lenore e seu fiel escudeiro, o detetive Benito Spiaggi, aprofundam-se na investigação de assassinatos misteriosos em série. A dupla começa a descobrir uma trama ainda mais complexa, com ares conspiratórios, enquanto os irmãos Camilla e Drago, dois predadores da noite, têm planos próprios nessa história toda. Os vampiros, não satisfeitos apenas em coexistirem com os humanos, querem mais poder.

O elaborado roteiro tem a assinatura de um escritor experiente, que já desenvolveu tramas dos mais diversos gêneros, do fantástico ao faroeste, e isso está explícito em como a narrativa segue o ritmo ditado por seu criador. Os desenhos de Enrico Marini são ricos em movimentos e a fácil fluência com que conta a história com belas ilustrações também chama a atenção, especialmente nas curvas das mulheres e na lascividade dos vampiros.

Marini compõe quadros que unem traços influenciados por europeus em ação típica dos norte-americanos, com coloração e arte-final semelhante aos dos japoneses. Essa arte globalizada permite que os quatro volumes de Predadores, apesar da densidade do texto e da trama, sejam também bastante acessíveis aos leitores mais jovens.

SANDMAN

Dizem que um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar. Neste caso, caiu... quatro. É a quarta edição da melhor história seriada de todos os tempos em solo tupiniquim: Sandman, de Neil Gaiman, reinicia no Brasil com produção a partir de sua versão Absolute, com um precinho mais camarada.

Sandman já havia sido publicada na íntegra nos anos 90, cheia de atrasos, pela editora Globo. Quase em 2000, teve uma outra edição inacabada pela então inexperiente Tudo em Quadrinhos, e finalmente recebeu tratamento de luxo em encadernados pela Conrad Editora, que encerrou a saga de Morpheus pela segunda vez no Brasil em agosto deste ano.

A Pixel Media agora traz mais uma vez a saga toda, desta vez com 17 volumes e três especiais. Diluir a versão Absolute (algo como uma versão do diretor, cheio de extras, nova coloração e tratamento especial sobre os originais) em mais edições faz parte da estratégia da editora de baratear seus encadernados, que terão menos páginas, entre 132 e 160, e formato menor. O valor, que nas luxuosas publicações da Conrad chegavam a R$ 70, cai para uma média de R$ 30.

O primeiro volume, já nas prateleiras, compila as quatro edições originais da saga, mais os extras, em Prelúdios & Noturnos, arco com impressão esgotada na Conrad Editora, que optou por publicá-lo com os oito números iniciais de Sandman. Ah, sim, do que se trata a série: bem, é uma história sobre sonhos, brigas familiares, mitologia, fantasia, horror gótico, magia, Shakespeare e, enfim, nós mesmos.

Nenhum comentário: