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quarta-feira, novembro 19, 2008

Wolinski no Amazonas


por Luiz Zanin

O Amazonas Film Festival prega peças na gente e traz um jurado de nome Wolinski. Quem? Seria Georges Wolinski, o mitológico cartunista francês? Pode ser. Afinal, o homem não larga o caderninho e passa o tempo a desenhar os personagens do festival: colegas de júri, mulheres que vê pela rua, os moradores da cidade, marinheiros do barco - e até o repórter que o entrevista ganha uma caricatura. Com a grife Wolinski. É ele mesmo, o satirista, chamado de erotômano, desenhista maldito, o próprio espírito do maio de 68 francês, o homem que ilustrou páginas do L'Humanité, Libération, Le Nouvel Observateur, além de ser autor de 80 álbuns de quadrinhos.

"O senhor me perdoe, mas é Wolinski, o cartunista?" Ele mesmo. Convida a sentar em sua mesa. Estamos num barco, uma daquelas tradicionais gaiolas amazônicas, rumo ao encontro das águas, onde o Rio Negro se junta ao Solimões para formar o Amazonas. Wolinski está visivelmente satisfeito com a natureza e as pessoas que o rodeiam, mas não se furta a responder se o clima continua propício para um cartunista na França.

Sim, ele diz, Sarkozy (Nicolas Sarkozy, presidente francês) é ótimo tema para um desenhista satírico. "Ele vive rodeado de assessores e conselheiros, que não o aconselham em nada, porque ele não deixa. É um hiperativo que nada faz, mas isso não se vê." Dizem que nem mesmo a mulher do presidente, Cécila, o agüenta. Verdade? "Pobre Cécilia", se compadece, irônico.

Pode-se falar horas e horas de política com Georges Wolinski. Afinal, ele mesmo se define como cronista da atualidade, "do tempo que passa". Mas exige certa reciprocidade. E, como tal, a cada pergunta sobre a França devolve com outra sobre o Brasil. Quer saber como vai o governo Lula, o que é o mensalão, como a direita reage a um governo de centro-esquerda, etc. Enfim, aplica ao repórter um verdadeiro questionário sobre a história recente brasileira, da época da ditadura até agora. "Prefiro ouvir um jornalista do que ler livros de história", resmunga.

Diz que de Manaus sabe pouco porque fica isolado naquele hotel cinco-estrelas e não entra em contato com o povo. Mas há alguns anos esteve no Rio e ficou impressionado quando subiu um dos morros da cidade. "Havia gente com armamento de guerra e tinha-se de pedir licença a eles para passar." O repórter pergunta se viu Tropa de Elite, a atual coqueluche sobre o tema. Diz que não, mas fica curioso em conhecer o filme de José Padilha.

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