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sábado, outubro 03, 2009

Eu uso óculos. E daí?



Por Karime Isper

Miopia é uma condição clínica. Sim, brothers & sisters, isso é um fato comprovado cientificamente. Só quem tem esse problema sabe como é difícil conviver com isso... Marrelógico, desde que seja em graus mais elevados que os meros -0,5 cansados e velhos de guerra, que todo mundo gosta de ostentar. Para fazer tipo.

A minha miopia começou com erros gráficos absurdos no caderno de Português. Enxergar o quadro era realmente um esforço doloroso. Copiar aquelas baboseiras, quase um parto. Minha cabeça que o diga. Mas eu me esforçava, juro que me esforçava.

Reconhecendo minhas limitações, avisei minha mãe sobre a presepada. Ela custou a acreditar que não era uma simples vontade de ser diferente (vá entender cabeça de mãe...). Mas eu não fazia tipo, tipo “intelectual sem saco pra copiar aquela xaropada e passar de ano”.

No mínimo, ela pensava que eu escrevia os textos com a mão esquerda enquanto usava a mão direita (a destra!) para anotar pequenas inverdades nos relicários da turma. Como eu não fazia nem uma coisa nem outra, sofria duplamente com o absurdo. Kafka sabe do que estou falando.

Depois de várias provas de que minha visão não era exatamente igual às dos meus coleguinhas de classe, fui ao oftalmologista, que confirmou meus -0,75 iniciais.

Ok, não era exatamente o fim do mundo. Mas enxergar aquelas cabalísticas fórmulas físicas, num quadro negro, às 7h30 da manhã, sinceramente... Era evidente que eu precisava de uma ajudinha extra. De onde viria, eu sequer imaginava.

Depois de mil recomendações e umas trocentas receitas diferentes, partimos rumo à Ótica Avenida para escolher meu novo “acessório”. Mal comparando, é mais ou menos como você ir a um matadouro: mesmo sobrevivendo, nada mais será como antes.

Minha mãe escolheu uma armação que, para ela, pareceu moderna. Eu simplesmente odiei. Começou a pior fase da minha vida, a de adaptação ao novo acessório: espanto (“Cê tem três olhos?”), brincadeiras estúpidas (“A cegueta não conta, escolhe outra!”) e perguntas impertinentes dos amiguinhos adjacentes à minha mesa escolar cativa: “É verdade que se a gente colocar seus óculos no sol focado num monte de gravetos, ele pega fogo?”

Além dessas babaquices todas, eu também ainda tinha de lembrar que agora precisava de mais uma coisa pra levar todo santo dia pra sala de aula: a tralha dos óculos de grau!

E, meu Deus, parece que esse artigo raro vem com imãs acoplados com alta atração por bundas femininas! Eu saía pro recreio, deixava os óculos na cadeira, voltava conversando com alguém e... cataplum! Sentava em cima.

Pelo menos uns três ficaram tortos ou sem lentes devido às minhas sentadas desatentas. Fazer o que?

O tempo foi passando e a cada retorno ao médico, ele me dava uma nova receita. Pior: ele me recomendava sempre um novo grau! Quer dizer, em vez de melhorar, meus olhos ficavam cada vez mais exigentes (sempre queriam um grau maior). E os meus óculos, reinando cada vez mais soberanos.

De repente, comecei a precisar deles para mais do que umas simples “ajudinha” na hora de ler a legenda de um filme em alemão no cinema (se bem que se o áudio dos cinemas brasileiros fosse minimamente razoável eu nem dispenderia tanto esforço).

E como soe acontecer com que é adolescente, fiz 18 anos.

No dia seguinte, estava na porta do Detran para tirar a carteira de motorista. Passei no psicotécnico. Passei na legislação. Passei na direção. Aliás, eu passaria em cima de qualquer um que tentasse me sacanear, já que aprendi a dirigir com 13 anos, por insistência de meu pai, Acram Isper.

No teste médico, uma surpresa: eu nunca mais deveria tirar os óculos nem no banheiro. Cumequié? Sim, eles haviam atestado 5 graus de miopia. Trocando em miúdos, conforme me disseram os caras antes de me entregar a carteira de habilitação, meus óculos agora eram uma necessidade constante pro resto da vida. Principalmente dirigindo.

É evidente que, aos 18 anos, todo mundo é rebelde. Pilotando os carros do velho, a 120 km por hora, eu me fazia de autosuficiente e colocava os óculos sobre os cabelos, como se fosse uma simples tiara. Eu ainda acreditava que usar óculos “queimava o filme”.

Nas festinhas, batia o terror. O problema era que, além de passar por metida e esnobe (afinal, como se cumprimenta alguém de longe se você não sabe que a pessoa esta lá, lhe acenando?), eu ainda acabava precisando de amigas para me ajudar a paquerar.

Pior: acabava paquerando errado (sorrindo inocentemente para os sujeitos mais feios, marrentos e travosos da festa!). Quando, enfim, resolvia colocar os óculos, os sujeitos fugiam de mim como se eu fosse uma nerd exponencial querendo catequizá-los.

Meio no desespero, tentei trair o “movimento nerd” e aderir às inovadoras lentes de contato, bonitinhas pero ordinárias. Meu pai importava dos EUA exclusivamente pra eu usar. Eram gelatinosas, confortáveis, fáceis de colocar e retirar... Mas nem tanto!

A sensação constante de cisco nos olhos não fazia minha cabeça. Sem contar que aquilo era uma fonte constante de infecções oculares. Deus me livre! Perdi várias lentes no banheiro, na hora de retocar a sombra, e, devido a coceiras enfurecidas, ficava, digamos assim, “meio cegueta”, vendo bem apenas de um lado só. As lentes mudavam de posição quase que sozinhas. Um horror!

Foi quando me rendi à parceria inseparável, e até charmosa, dos óculos. A reação do “público” é diversa. Uns, amam de paixão e elogiam. Outros encaram como falta de vaidade e criticam. O certo é que, pra mim, é uma necessidade física.

Enxergar legal é muito mais bonito. Eu uso óculos. E daí? Vai encarar...

3 comentários:

Bruno Roots disse...

You, with glasses, look very very very very nice... no doubt about it...

Tio Acram disse...

Linda, Inteligente e nem os Paralamas do sucesso conseguiam fazer melhor.....beijs

Anônimo disse...

eu também uso óculos adoro meus óculos.