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quarta-feira, novembro 03, 2010

O primeiro campeão moral do Peladão

No dia 25 de junho de 1968, o Fast enfrentou o Vasco da Gama na Colina e venceu por 1X0, gol de Amaro. O time foi esse aí. Em pé: Antônio Piola, Pompeu, Nonato, Pedro Brasil, Luizinho e Zequinha Piola. Agachados: Alfredo, Edson Piola, Amaro, Santana e Zezinho.

Agosto de 1977. Dono da companhia de despachos Atlântica, o eterno playboy da Cachoeirinha e fastiano roxo Odivaldo Guerra resolveu colocar uma equipe de futebol no 5º Peladão.

O objetivo dele, claro, era fazer merchandishing de sua empresa – o que viesse depois, seria lucro.

Para realizar a tarefa, ele convidou vários dirigentes de peso: Nelito Bandeira, Frank Cavalcante, Olíbio Trindade, Jorge Almeida, Roberto Amazonas e Wilson Fernandes, todos, como ele, fundadores do bloco Andanças de Ciganos, que naquele ano tinha se sagrado bicampeão do carnaval amazonense.

O goleiro Pompéia, ex-Santa Rita, foi contratado para ser o técnico. O colored Pompeu, ex-lateral esquerdo do Fast Clube, foi contratado para ser cabeça de área e capitão de equipe.

O resto do time era formado por ex-jogadores do Sancol, Murrinhas e Inútil.

O time base do primeiro jogo da competição era formado por Erivam Cabocão, Luiz Lobão, Lucio Preto, Petroba e Arquimedes; Pompeu, Paulo César e Silva; Cassianinho, Manuel Augusto e Áureo Petita.

No banco estavam Pompéia (goleiro), Zeca Boy, Irineu, Petrônio Aguiar, Orlando, Kepelé e o próprio Odivaldo Guerra, entre outros craques.

Nesta primeira fase, a Atlântica venceu o Dulima por 2X0, gols de Manuel Augusto e Cassianinho, o Havaí por 2X0, gols de Paulo César e Áureo Petita, o Skorpius por 4X1, gols de Manuel Augusto (2), Pompeu e Silva, o Grêmio Airão por 3X0, gols de Cassianinho, Áureo Petita e Zeca Boy, e o Palmeiras do Parque 10 por 4X0, gols de Manuel Augusto (2), Paulo César e Silva.

Campeão da chave 4, o time se transformou em uma das sensações do Peladão por ter feito 15 gols em cinco partidas e sofrido apenas um.

Não virou manchete do jornal A Crítica porque na mesma fase o Torpedo, do Japiim, do centroavante André, havia feito 32 gols em cinco partidas e sofrido apenas dois.

Na segunda fase, a Atlântica venceu o Juruá por 3X0, gols de Manuel Augusto (2) e Cassianinho, empatou com o Ana Nery em 2X2, gols de Áureo Petita e Paulo César, venceu o Tropical por 3X1, gols de Cassianinho (2) e Silva, venceu o Palmeiras de São Jorge por 3X0, gols de Manuel Augusto, Áureo Petita e Zeca Boy, venceu o Barcelona por 2X0, gols de Manuel Augusto e Cassianinho, venceu o Major Gabriel por 1X0, gol de Áureo Petita, e venceu o Arrisca Tudo por 6X0, gols de Manuel Augusto (2), Cassianinho (2), Áureo Petita e Zeca Boy.

Campeão invicto da segunda fase, a Atlântica começou a atrair uma legião de torcedores da Cachoeirinha para acompanhar seus jogos.

Na fase do “mata mata”, a Atlântica derrotou o Tiradentes por 1X0, gol de Zeca Boy, derrotou o Sport Club Recife por 2X0, gols de Manuel Augusto e Irineu, derrotou o Baioque 4X1, gols de Zeca Boy (2), Áureo Petita e Paulo César, derrotou o Príncipe de Gales por 3x1, gols de Manuel Augusto (2) e Cassianinho, derrotou o Academia por 2X0, gols de Paulo César e Silva, e derrotou o Lavor por 1X0, gol de Irineu.

Seis times estavam classificados para as quartas de final: Atlântica, Einstein, Banik, Transmovéis, Consag e Imperial.

O campeonato foi suspenso para essas equipes enquanto era decidido a chave “Pelamor de Deus”, considerada a repescagem da repescagem, com 64 times disputando duas vagas para a última fase.

Acabaram se classificando os times do Lavor e Ótica São Paulo.

Pelo sorteio, a Atlântica enfrentou o Banik no estádio Vivaldo Lima. Foi um dos melhores jogos do campeonato.

O timaço do Banik fez 2X0 no primeiro tempo, mas com Áureo Petita em uma noite inspirada (fez dois gols), acabou cedendo o empate e só não perdeu a partida no tempo normal porque Zeca Boy, já nos descontos, acertou no travessão um voleio sensacional.

Pelas regras da competição, não havia disputa em pênaltis. Em caso de empate, passava para a fase seguinte a equipe de melhor campanha. A Atlântica despachou o Banik.

Nos demais jogos, o Lavor venceu o Transmóveis por 6X1, a Ótica São Paulo ganhou do Einstein por 2X1, e o Consag empatou com o Imperial em 2X2.

Como o Imperial havia feito uma campanha melhor do que o Consag, o time do técnico Arturzinho foi despachado.

Nas semi-finais, a Atlântica venceu o Imperial por 1X0, gol de Manuel Augusto, e a Ótica São Paulo derrotou o Lavor por 5X1.

O jogo decisivo entre Atlântica e Óticas São Paulo foi marcado para a noite do dia 4 de janeiro de 1978, uma quarta-feira, no estádio da Colina, em São Raimundo.

Em pé: Roberto Amazonas (todo de branco), Sicy Pirangy, Petroba, Luiz Lobão, Erivan Cabocão, Pompeu, Arquimedes, Silva, Lucio Preto, Pompéia, Orlando e Irineu. Agachados: Paulo César, Manuel Augusto, Zeca Boy, Kepelé, Áureo Petita, Dorval, Cassianinho e Odivaldo Guerra.

No dia 6 de janeiro de 1978, sexta-feira, o jornal A Crítica publicou uma matéria intitulada “Ótica São Paulo conquista o título do Peladão”, que transcrevo a seguir:

A Ótica São Paulo é o novo campeão do Peladão, conseguindo o título na madrugada de ontem, depois de uma luta que começou às 22 horas de quarta-feira.

A vitória só surgiu nos pênaltis, depois de 0X0 no tempo regulamentar e nas duas prorrogações que se seguiram.

O estádio da Colina ficou quase totalmente lotado, com uma torcida entusiasmada que vibrou com as jogadas sensacionais de lado a lado.

No tempo regulamentar de 60 minutos, a Atlântica foi mais time, dominando as ações, mas nos 30 minutos de prorrogação a Ótica, que tem um time mais novo, tomou conta da partida e esteve a ponto de garantir a vitória, só não conseguindo graças a estupenda atuação do goleiro Pompéia e de toda a zaga Atlântica.

A Atlântica tentou decidir o jogo de saída. O centroavante Manuel Augusto, em grande noite, levava perigo constante a meta de Oscar, que esteve muito feliz na partida.

Logo aos 2 minutos, Cassianinho perdeu um gol feito, não concluindo com êxito um bom trabalho de Manuel Augusto.

Notou-se no começo do jogo que a Atlântica queria afogar a Ótica.

O volante Pompeu, melhor do que nunca, caiu em cima do craque Julio Cesar e conseguiu anulá-lo em quase todo o tempo regulamentar.

Com seu melhor jogador em campo sem poder fazer nada, o time da Ótica permaneceu o tempo todo em seu próprio campo de defesa.

A marcação individual, a atenção constante para os deslocamentos do irrequieto ponta de lança Costa, a cobertura precisa do central Lucio Preto e o perfeito entrosamento da zaga, mostrava a Atlântica bem posicionada na colocação em campo e senhora absoluta das ações ofensivas.

A Ótica não tinha espaço para realizar seu costumeiro jogo de toques rápidos.

Entretanto, havia um erro muito grande no time da Atlântica: a falta de chutes a gol, já que os atacantes teimavam em levar a bola até dentro da pequena área, com firulas e dribles desnecessários.

E, por mais paradoxal que possa parecer, apesar do amplo domínio da Atlântica foi a Ótica que esteve mais perto de marcar.

Numa cabeçada de Costa, o quarto zagueiro Petroba salvou em cima da linha depois do goleiro Pompéia já estar vencido.

Depois foi o excelente zagueiro Luiz Lobão que parou com a barriga uma bola que ia entrando, oferecendo condições para Pompéia voltar e contornar o perigo.

No final do tempo regulamentar, a Atlântica já mostrava muito cansaço. E as modificações foram se sucedendo, acabando com o ritmo e o entrosamento da equipe.

Enquanto isso, a Ótica mantinha o mesmo time em campo e aos poucos ia tomando conta da partida.

Quando foi iniciada a primeira prorrogação de 20 minutos, a Ótica já era dona das ações. Lucio Preto havia saído contundido e Pompeu teve de recuar um pouco para fortalecer a zaga, diminuindo a marcação individual em cima de Julio Cesar.

Aí, a Ótica se liberou e começou a rolar a bola, chegando ao ponto de entusiasmar sua pequena torcida.

Era evidente a queda do último invicto do Peladão.

A Atlântica, porém, resistiu heroicamente no final da primeira prorrogação e nos 10 minutos da segunda prorrogação.

Quase a uma hora da manhã de quinta-feira, ainda com o estádio lotado, o muito bom árbitro Manuel de Jesus encerrou a partida.

Nos pênaltis, a Ótica faturou 5, a Atlântica 3.

Ótica, campeã, Atlântica, vice-campeã invicta.

O presidente da Atlântica, Odivaldo Guerra, estava inconformado:

– A gente monta um time, vence todas as partidas, aí perde na final em pênaltis para um time que havia passado por duas respecagens, não dá pra entender! O certo seria marcar um novo jogo! – dizia Guerra. “O regulamento era bem claro ao falar que não haveria disputa por pênaltis, que passaria para a fase seguinte o time de melhor campanha, aí eles rasgam tudo e inventam novas regras. Isso é casuísmo!”

Outro dirigente da Atlântica que também estava inconformado era o engenheiro Roberto Amazonas:

– Eu fiquei afônico de tanto gritar para os jogadores chutarem em gol, mas eles não me ouviam por causa do barulho da torcida. A gente perdeu meia dúzia de gols feitos e isso mostra a superioridade do nosso time. A Atlântica, único time invicto da competição, é a campeã moral do Peladão! – desabafou.

Mais de 6 mil torcedores do Atlântica saíram da Cachoeirinha para torcer pelo seu time no bairro de São Raimundo. Os torcedores da Ótica São Paulo eram pouco mais de 1.500.

Na saída do estádio da Colina, a marcha silenciosa de quase mil veículos em direção a zona sul de Manaus era sinônimo da tristeza dos torcedores, jogadores e dirigentes da Atlântica.

Eles já haviam preparado uma festa na quadra do GRES Andanças de Ciganos, mas o brilhante goleiro Oscar Almeida colocou água no chope.

Pra completar, Oscar Mão de Onça, o carrasco da Atlântica, é nascido e criado na Cachoeirinha. Ele é irmão de Jorge e Orlando Almeida, ambos jogadores do Atlântica.

Craque do ano do Peladão em 1974, quando defendia o Murrinhas do Egito, o meia-armador Áureo Petita saiu de campo chorando.

Ele havia sido escalado para bater o último penâltido Atlântica e, depois, continuar fazendo as cobranças individuais até ser conhecido o vencedor. Não deu tempo.

Pelo sorteio, coube a Ótica São Paulo iniciar as cobranças das penalidades.

O zagueiro Salustiel converteu a primeira cobrança. Manuel Augusto empatou para a Atlântica.

O ponta de lança Costa colocou a Ótica em vantagem. Petroba empatou para a Atlântica.

Sarará converteu para a Ótica São Paulo. Zeca Boy empatou para a Atlântica.

A disputa estava em 3X3.

Zé Raimundo colocou a Ótica São Paulo novamente em vantagem.

Pompeu desperdiçou o penâlti, graças a uma defesa sensacional de Oscar Mão de Onça.

O craque Julio Cesar fez 5X3 para a Ótica São Paulo e saiu para comemorar o título correndo em direção ao goleiro Oscar, o grande herói da noite.

Sem acreditar direito no que havia acontecido, o time da Atlântica deixou o campo cabisbaixo.

A Cachoeirinha tinha o primeiro “campeão moral” do Peladão, argumento que a Seleção Brasileira também utilizaria naquele mesmo ano, durante a Copa do Mundo na Argentina.

Um comentário:

Unknown disse...

CARALHO SIMÃO, COMO VC ESQUEÇE DE MIM, EU ERA O RESERVA DO PETROBA NA LATERAL DIREITA E NA FINAL EU JOGUEI UNS DEZ MINUTOS.NA EPOCA EU ESTAVA SERVINDO O EXERCITO. QUANDO EU ESTAVA DE SERVIÇO O NELITO MANDAVA O FINADO LULUCA LEVAR DINHEIRO, PRA EU PAGAR UM COLEGA PRA FICAR NO LUGAR.