Augusto Nunes
Pelos padrões da TV, 70 minutos são uma eternidade — e foi
essa a duração da conversa entre Dilma Rousseff e Jô Soares. Sobrou tempo até
para o diálogo de hospício reproduzido abaixo, transcrito da íntegra da
entrevista publicada pelo Portal do Planalto:
Jô Soares: Presidente, a gente não falou ainda, mas é
fundamental que a gente fale. Em 2012 você mudou o comando da Petrobras. É que
você já pressentia que havia algo de podre no reino do petróleo?
Presidenta: Olha, ô Jô, quero te dizer o seguinte: eu não
tinha…Não eram pessoas da minha confiança. Quando você sobe ao governo, você
coloca as pessoas da sua confiança. Bom, a Petrobras não é um barquinho que
você vira rapidamente, não é? Então, passou um ano e eu troquei a diretoria
toda e coloquei uma diretoria da minha confiança, foi isso que eu fiz.
Jô Soares: Agora, o pré-sal, eu cheguei a lamber uma pedra
do pré-sal…
Presidenta: Eu te mostrei ela.
Jô Soares: É, ficou de me mandar uma e não mandou.
Presidenta: Vou mandar, vou mandar. Prometi, agora eu vou
mandar.
Jô Soares: Não, porque agora prometeu no ar. Tem cheiro de
querosene, não é?
Presidenta: É.
Jô Soares: E eu lambi e senti que tinha gosto de sal, mas eu
acho que foi a minha imaginação. A pedra está aí, não, não é? Deve estar no…
Presidenta: Não, a pedra está no Planalto.
Jô Soares: É uma pedrona.
Presidenta: Uma pedra.
Jô Soares: Tem gente que não sabe que o pré-sal já está
funcionando, com mais de 500 mil barris/dia.
Presidenta: Bem mais. O pré-sal…
Jô Soares: Já me perguntaram quando é que vai funcionar o
pré-sal. Quando funcionar, o preço do petróleo vai estar tão baixo que não vai
mais compensar. Eu queria que você explicasse um pouco sobre isso, porque isso
é uma falta de informação em vários níveis, porque as pessoas acham: “Ah, isso
aí não vai dar em nada, o pré-sal não vai dar em nada”. Não têm ideia de que já
está produzindo.
Presidenta: Olha, para você ter uma ideia dessa questão: não
só está produzindo, como a Petrobras ganhou o “Oscar” na área de… este ano, a
Petrobras ganhou o Oscar na área de óleo e gás.
O besteirol acima consumiu quase 400 das mais de 9 mil
palavras ditas em parceria por Jô e Dilma. Mas na montanha de consoantes e
vogais não aparecem uma única vez expressões inevitáveis numa entrevista com a
presidente do Brasil do Ano da Graça de 2015. Corrupção, por exemplo. Ou
Petrolão. Ou pelo menos escândalo.
Até bebês de colo e índios de tribos isoladas hoje associam a Petrobras a essas palavras —
além de roubalheira, ladroagem e outras bem menos gentis. A entrevistada,
previsivelmente, tentou driblar todas. O entrevistador, lastimavelmente, também.
Dilma mentiu em todas as respostas. Jô não contestou nenhuma.
Ele sabe que a estatal foi saqueada por uma quadrilha parida
pelo padrinho Lula e amamentada pelo governo Dilma. Achou mais relevante contar
que já lambeu uma pedra do pré-sal. Ele sabe que o maior esquema corrupto da
história engoliu bilhões de dólares. Preferiu celebrar milhares de barris
imaginários.
Foi assim que o que deveria ter sido uma entrevista acabou
virando conversa de comadre ufanista.
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