Xico Sá
Um jovem, moço mesmo, ali na casa dos vinte e poucos anos,
pede um autógrafo em um dos meus livros e, com a timidez de um Woody Allen
juvenil versão Brooklin paulistano, indaga se pode fazer uma pergunta que não
pôde fazer em público, no debate sobre os quereres das mulheres etc. Solene,
nervoso, óculos maiores do que os meus, diz que precisa de um conselho para a
sua vida amorosa. Uma dica.
Com o fuzuê de gente por perto, cochicha no meu ouvido. Quase
passo a pergunta ao amigo Marcelo Rubens Paiva, que autografava ao meu lado, na
Livraria Cultura, no Market Place, SP, “As verdades que ela não diz” (Ed. Foz).
Paiva certamente daria uma melhor resposta ao noviço.
– Como pedir sexo anal à minha namorada? – era a indagação
do moço, pobre moço.
Contou que já estavam juntos havia uns dois anos e nada do
gênero, ao contrário de alguns amigos, que haviam praticado o ato sexual mais
heterodoxo.
Meu caro leitor, ponha uma coisa na cabeça: Sexo anal não se
pede. Sexo anal é dádiva, oferecimento, mimo, presente. Atitude da menina que
louva aquele que bem merece. Pode ser também, em alguns casos, medida
emergencial para tentar segurar o vagabundo que está de partida. Pode ser, mas
não é regra.
Se você insiste, meu Woody do Brooklin paulista, fica chato,
já era. Se você força, pior ainda. Aliás, forçar a barra nunca, amigo, respeite
a moça que ela merece. Sexo anal, a menos que seja uma mocinha mais perversa –
nada contra! –, só acontece em momentos especiais. Uma viagem a uma praia mais
distante, por exemplo, é uma ocasião e tanto.
Você pode até sugerir, de leve, ao acariciá-la na cama, na
delicadeza, toques dos dedos etc, mas, repito, sem forçar a barra. Se sentir
que não tem chance, que ainda não chegou a hora, esqueça, meu rapaz, relaxe e
continue amando, digamos assim, pelas vias mais convencionais. Assistir juntos
a clássicos do cinema erótico como “O Último Tango em Paris”, que trata
–poeticamente! – do tema… também ajuda a iniciar a jovem no assunto. Gera uma
oportunidade para os dois, quem sabe, conversarem livremente sobre o desejo em
pauta.
E vou ficando por aqui, meu rapaz, e tomar meu café da manhã com uma
gostosa tapioca com manteiga de garrafa, tipo assim, meu guri, o derradeiro
tango do Agreste.
Nenhum comentário:
Postar um comentário