Edson Aran
A grande novidade deste São Paulo Fashion Week é a entrada
em cena da Camu’s Models, primeira agência de modelos existencialista do mundo.
A agência é uma criação do sociólogo e empresário Jean-Paul Largerfield. “Enfado
é demais de chique”, explica ele. “Daí a idéia de procurar intelectuais
existencialistas que sentem náuseas autêntica da vida e, por isso, são muito
mais naturais.”
A modelo mais bem paga da Camu’s Models é a brasileira
Berenice Beauvois, a Berê Deprê, estrela do ensaio “The Fashion Winter of Our
Discontent” da revista inglesa I-Depressive de novembro passado.
O fotógrafo Dick Small não poupa elogios á brasileira: “Ela
é demais! Berê acredita que a concepção hegeliana da existência não é permeável
à práxis marxista que tem, evidentemente, derivação rosseauniana. Ela e a Nana
Never, uma sartreana, discutiram horrores durante o make-up. Eu amei.”
Numa das fotos, Berê Deprê sintetiza a nadificação da
consciência com uma pose calculadamente desleixada e um olhar propositadamente
entediado.
Nesta edição do SPFW, o estilista Alexandre Hepatitich
escalou todo o cast da Camu’s Model para o desfile de sua nova marca, a Engajé
Jeans.
“O principal modelo da coleção masculina seria o Paulo Zulu”,
disse Hepatitich, “mas ele está ocupado demais escrevendo um paper sobre a
influência da Mitologia Afro-Teutônica na Concepção Junguiana do Inconsciente
Coletivo, por isso não pôde vir. Foi aí que eu preferi desfilar a coleção
inteira com a Camu’s Models.”
A coleção de Hepatitich tem como tema o inverno nas favelas
brasileiras. “Nunca pisei numa favela, mas deve ser o ó”, declarou o estilista.
“Por isso, fiz uma coleção socialmente engajada com jeans estrategicamente
rasgados. É o que eu chamo de índigo indignado.”
Depois do surgimento da Camu's Models, a procura por
intelectuais que modelam tem crescido exponencialmente. Novas agências como a
Freud Fashion (especializada em paranóicos esquizofrênicos para desfiles
performáticos) e a Kant Casting (para desfiles mais formais, de precisão quase
matemática) tomaram conta do mundo da moda.
“Renovação é tudo de bom”, declarou a crítica de moda Erika
Leibniz. “Mas o contraponto dialético é um componente intrínseco ao mundinho
fashion. Ou, como diria Parmênides, essa coisa muito pitagórica é, tipo assim,
o stylish da contra-tendência.”
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