Por Mário Sérgio Lorenzetto
Entre 1980 e 2010 a malária acabou com a vida de 1,2 milhão a 2,7 milhões de pessoas a cada ano. Dois terços eram menores de cinco anos. Não resta dúvida, os mosquitos mataram mais pessoas que qualquer outra enfermidade ou guerra ao longo da história. Fruto do estudo do inglês Timothy Winegard, ficou claro que as fêmeas dos mosquitos Anopheles enviaram para o outro mundo algo como 52 bilhões de pessoas do total de 108 bilhões que existiram ao longo da história de nosso planeta.
No transcurso da história os danos provocados por esse minúsculo inseto determinaram o destino de impérios e nações, paralisou atividades econômicas e decidiu resultados de guerras importantes. A linhagem exterminadora dos mosquitos, composta por umas três mil espécies, desempenhou o papel mais importante – e mais desconhecido – na configuração de nossa história.
Os cartagineses (povo que hoje vive na Tunísia) subiram e desceram os Alpes com dezenas de elefantes. Foram esses imensos animais decisivos nas derrotas iniciais sofridas pelas tropas romanas. O fim dessa guerra se deu em um enfrentamento entre o general cartaginês Aníbal Barca e o jovem Públio Cornelio Escipion. Aníbal foi derrotado na batalha de Zama – em 202 a.C.. Era o fim de um conflito que durara 17 anos. Mas não é bem assim...
O declive do exército cartaginês começara nos pântanos italianos quando os mosquitos da malária infligiram enormes perdas de soldados. O inseto ajudou a proteger Roma de Aníbal e suas imensas tropas.
Os visigodos, dirigidos pelo rei Alarico, foram os primeiros bárbaros a atacar Roma. A história conta que as tropas romanas estavam enfraquecidas pelo descontrole administrativo do império. Em 408 d.C., as tropas de Alarico começaram a sitiar Roma, que tinha um milhão de habitantes, em três ocasiões distintas. Em 410 d.C., ocorreu o último sítio. Uma vez dentro dos muros romanos, as hordas de Alarico empreenderam três dias de pilhagens, estupros, destruição e morte.
Satisfeitos com os estragos e o saque, os visigodos abandonaram Roma e se dirigiram ao sul da Itália, deixando atrás deles um rastro de sangue e ruínas. Ainda que tenham planejado retornar a Roma para arrasá-la para sempre, quando terminou a campanha do sul da Itália, as tropas de Alarico é que estavam arrasadas. A malária os dizimara. O poderoso rei, o primeiro a saquear Roma, morreu de malária no outono de 410 d.C. O general mosquito salvara Roma novamente.
Era 451 d.C. Uma coalizão de visigodos e romanos enfrentava o imbatível exército dos hunos comandados por Átila. A primeira derrota dos hunos ocorreu nas Ardenas (na Bélgica atual). Átila girou seus ferozes hunos e foi atacar o norte da Itália. Deixava um rastro de pânico e morte. Muito melhor do que fizeram os espartanos nas Termópilas, uma diminuta força romana, conseguiu deter os hunos que avançavam nas terras pantanosas próximas ao Rio Po. Uma gigantesca legião de mosquitos entrou rapidamente na batalha. Uma vez mais o General Mosquito salvara Roma.
Os mosquitos têm sido, durante milênios, a força mais poderosa para determinar o destino da humanidade. Desde a antiga Atenas até a Segunda Guerra Mundial, passando pela Guerra de Independência dos EUA ou pelo domínio de espanhóis e portugueses nas Américas, os mosquitos sempre foram decisivos.
Esse inimigo parecia, e segue parecendo, insignificante. Mas nunca foi derrotado. Afinal, quem deseja gastar com armas contra mosquitos se podem jogar fortunas gigantescas em imensas bombas?
NOTA DO EDITOR DO MOCÓ:
Quando o poeta e cantor roraimense Eliakin Araújo se uniu ao cantor e compositor amazonense Armandinho de Paula para escreverem o megassucesso “Mosquito da Malária”, sequer sabiam que estavam ironizando uma parte crucial da história humana. Antenas da raça!
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