Por Alexandre Acioli
A afirmação de que os “maracatus são todos iguais” não é verdadeira. Maracatus são diferentes; iguais só na alegria. Folião não precisa ter conhecimento aprofundado sobre os maracatus, mas é interessante, pelo menos, saber o que diferencia esses grupos de brincantes.
Não cabe aqui aprofundar essa discussão, mas quem se interessar pelo tema pode recorrer à leitura de alguns escritos de pesquisadores como Câmara Cascudo, Mário de Andrade e Guerra Peixe, que centraram a atenção na questão da origem dessas manifestações culturais.
Em Pernambuco temos Maracatus de Baque Virado (Maracatu Nação) e Maracatus de Baque Solto (Maracatu Rural). São manifestações com características diferentes e bem definidas. Os elementos que compõem os grupos diferem nos personagens, na estrutura estética, nos instrumentos e nas particularidades musicais. O olhar mais atento, a escuta das loas e toadas bastam para identificá-los e diferenciá-los.
O Maracatu de Baque Virado tem suas origens na instituição dos reis negros, conhecida em Portugal desde o século XVI. Em Pernambuco, os estudos apontam o ano de 1674 como data dos primeiros registros de coroações de soberanos do Congo e de Angola, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Recife. Esses cortejos passaram a acontecer também no Carnaval e receberam, na época, a denominação de maracatus - conotação pejorativa para denominar “ajuntamento de negros”.
Já o Maracatu de Baque Solto surgiu na Zona da Mata Norte pernambucana, no final do século XIX, como “brincadeira de cambindas” (homens que se vestiam de mulher), uma brincadeira eminentemente masculina. É o resultado da junção cultural de diversos folguedos populares da região canavieira, como o bumba-meu-boi, o pastoril, o cavalo-marinho e o reisado. Nele não existe a Corte Real e o seu maior destaque é a presença do caboclo de lança, também chamado de lanceiro ou caboclo de guiada.
Os personagens também são diferentes. As figuras tradicionais dos Maracatus Nação são a Dama do Paço, mulher responsável pela condução da calunga (ícone detentor do axé do maracatu); Rei e Rainha; as Baianas de Cordão (com roupas de tecidos estampados) e Baianas Ricas (vestidas de branco, com turbantes e cordões coloridos que fazem alusão à cor de cada orixá) e o Caboclo “Arreia Mar” (Caboclo de Pena), figura vinculada especialmente às práticas da Jurema Sagrada.
A orquestra é formada apenas por instrumentos de percussão (tarol, caixa de guerra, gonguê, alfaias, abês e atabaques). O comando do batuque (ou baque) é do Mestre de Apito, que conduz as batidas e toadas, também chamadas de zuelas ou loas.
Nos Maracatus Rurais os caboclos de lança, transformados em símbolos da cultura pernambucana, são destaque à parte: camisas estampadas de mangas longas e calças de chita com franjas; rostos pintados, óculos escuros e cravo branco na boca. Carregam nas costas um surrão onde estão presos os chocalhos (em número ímpar, “para não dar azar”). Na cabeça, um lenço e uma enorme cabeleira com tiras de pano colorido; nas mãos, uma lança de madeira medindo cerca de dois metros.
As manobras, ordenadas pelo Mestre, são feitas em torno do cortejo. Esse tipo de maracatu apresenta quatro tipos de cantoria: marcha (sempre de quatro versos), samba curto (de quatro a seis versos, o tipo mais comum), samba comprido (geralmente de 10 versos, mas podendo ter até vinte), e o galope (normalmente de seis versos).
Então folião, se você chegou até aqui, agora sabe que os “maracatus não são todos iguais”. Existem maracatus e maracatus.
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