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terça-feira, outubro 19, 2010

Causos de Bambas - Dom Um Romão

Doum Romão, o músico. Ou Dom Um Romão, para os menos íntimos.

Pele cor-de-tâmara, cara de árabe, cavanhaque, cabelo cacheado, cara de malandro, sorriso eterno: tudo isso encimando um corpo seco e musculoso, moldado pelos nervos de baterista.

Na juventude, era um cabra folgado, metido a capoeira, encarava qualquer briga de rua.

Carioca da Zona Norte, com livre trânsito na Zona Sul, foi um dos inventores do Beco das Garrafas.

Uma ocasião, o baterista descia com outros companheiros do Brasil 66 – antecessor do Brasil 88, de Sérgio Mendes, onde ele tocava – pelo elevador do Hotel Hilton, de Tóquio.

Num dos andares entra um japonês baixinho, metido num quimono de seda cinzenta, ambos – japonês e roupa – seriíssimos.

Sabe como é brasileiro em bando fora do Brasil: parte direto para o deboche.

O Doum não deixou por menos, começou a rir e a falar em português:

– Olha só o japona, uns e outros! Parece madame nissei de São Paulo, endomingada para Festival do Tomate Shintô. É do tipo que se desce corrimão pelada faz brrrr...

A brincadeira foi por aí, durou até o térreo.

O japonês saiu do elevador, deu uns quatro passos, voltou-se, plantou-se nas duas pernas, cerrou os punhos, olhou Doum no fundo da retina e perguntou, glacial:

– Are you looking for trouble?

Doum, amarelo-marinho, num inglês aos farrapos, só faltou ajoelhar.

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