Setembro de 1987. Apesar de gostar de rodas de samba e de ter formado um grupo de pagode particular, o bicheiro Ivan Chibata bebia moderadamente.
Ele gostava mesmo era de disbutal, pervitin, diazanil, panbenil, mandrix, reactivan e glucoenergan, ou seja, a velha e boa anfetamina.
Também conhecida como “rebite”, a anfetamina é uma droga sintética de efeito estimulante da atividade mental.
Essa droga foi sintetizada por um químico alemão, Lazar Edeleanu, em 1887.
Na década de 30, começou a ser comercializada sob forma de inalante para tratar congestionamento nasal e logo os laboratórios americanos conseguiram piratear a fórmula.
O uso desse psicotrópico cresceu no período da 2ª Guerra Mundial, sendo fornecido para soldados cujos deveres incluíam longas horas de vigília, atenção aos detalhes e disposição para matar ou morrer numa boa.
Nos anos 50, os “malucos” dos EUA descobriram como abrir os inaladores, retirar o papel encharcado em anfetamina e enrolá-lo em “bolinhas”, que engoliam com café ou coca-cola, para ficarem “ligados”, isto é, sem sono, sem cansaço e sem fome.
A ação da anfetamina é estimulante, provocando aceleração do funcionamento mental, por meio do aumento da liberação e tempo de atuação de dopamina e noradrenalina no cérebro.
O efeito do aumento desses neurotransmissores no cérebro é uma alteração nas funções de raciocínio, emoções, visão e audição, provocando sensação de satisfação e euforia.
Quando administrada pela via injetável, tem início de ação bem rápido. Já pela via oral, tem um início de ação lento, porém dura de oito a dez horas.
A redução da sensação de fadiga ocasionada pela anfetamina pode ser prejudicial, já que ao disfarçar o cansaço provoca um esforço excessivo para o corpo.
Porém, quando o efeito da droga passa, o usuário sente uma grande falta de energia e depressão, não conseguindo realizar nem as tarefas que fazia anteriormente ao uso.
Quando é consumida em quantidade excessiva, todos os efeitos no organismo são agravados e surgem outros como agressividade e temperamento irritadiço.
Além disso, o usuário passa a suspeitar de que as pessoas estão tramando contra ele, ficando num estado de alerta exagerado conhecido como delírio persecutório.
Querendo dar um tempo no consumo exagerado de anfetaminas, Ivan Chibata solicitou a prestimosa ajuda de um de seus cambistas, o afável Vlademir Brother, para lhe arranjar um “bagulho” do bom.
Vlademir Brother não se fez de rogado e forneceu ao patrão uma pacoteira de “manga rosa” prensada, cuja pureza e qualidade tinham sido atestadas pelo famoso Velho Gaúcho, um dos mais famosos fornecedores de kaya da zona oeste da cidade.
Rastafari diletante, Ivan Chibata preparou cinco “joints” de 15 centímetros e detonou um atrás do outro.
Não deu outra. Ele começou a passar mal e entrou num “bode”.
Vieram as alucinações, os delírios, as paranóias, acompanhadas de ansiedade, angústia e medo da morte.
Em virtude de estar tendo um maior fluxo de idéias, com o pensamento mais rápido do que a capacidade de falar, Ivan Chibata não conseguia explicar para sua esposa o que estava acontecendo.
Limitava-se a comer barras de chocolates em quantidade industrial – para combater a secura na boca e a larica – e a dar risadas histéricas e gritos cavernosos como reação involuntária a qualquer estímulo verbal.
Ao perceber o aumento da freqüência cardíaca (taquicardia) e a hipermia das conjuntivas (olhos vermelhos) do marido, Milca entrou em pânico e telefonou para o Vlademir Brother:
– Tu estás querendo matar meu marido, desgraçado? Que foi que tu destes para ele tomar, que deixou ele virado no cão desse jeito?...
– Doutora Milca, eu não tenho a menor idéia do que a senhora está falando, mas acho melhor levar o Ivan Chibata pro médico! – devolveu Vlademir Brother, intuindo o que havia acontecido. Ele sabia que o patrão era exagerado.
Milca colocou o marido dentro do carro e se mandou para uma clínica particular. Os dois foram atendidos na hora.
Milca explicou rapidamente o que estava acontecendo.
O médico tentou ser simpático:
– Muito bem, senhor Ivan Albuquerque, o que é que o senhor tem?
Com a língua ficando cada vez mais pesada, Ivan Chibada não tergiversou:
– Porra, doutor, o senhor não está vendo que eu estou completamente maconhado?...
Quase que o médico expulsa o bicheiro do consultório. Pela insolência.
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