Agosto de 1980. Por volta do meio-dia de um sábado luminoso, os folgados Rubens Bentes e Jones Cunha convencem Simas Pessoa a roubar o Opala do velho e irem tomar banho na Praia da Ponta Negra porque o calor daquele dia está realmente infernal.
Simas não se faz de rogado. Dali a pouco, os três, só de sunga, estão se encaminhando para a praia. Ambos estão lisos e confiados.
Rubens para em uma tendinha, conversa rapidamente com um sujeito que está assando alguns peixes e já volta com três latinhas de cerveja na mão.
Os três dão alguns mergulhos, ficam conversando na areia e, com uma precisão de relojoeiro suíço, a cada 15 minutos o sujeito anda 100 metros de praia para lhes entregar três latinhas de cerveja estupidamente geladas. A fuzarca promete.
Por volta das 2h da tarde, em vez das três latinhas, o sujeito lhes entrega duas gigantescas bandas de tambaqui assado na brasa acompanhados das guarnições (baião de dois, vinagrete, farofa, molho de tucupi, etc).
Os degenerados comem a tripa-forra. Depois, haja latinhas de cervejas estupidamente geladas.
Por volta das 5h da tarde, eles resolvem puxar o carro. Rubens se dirige sozinho a tendinha:
– Meu tio, o seu tambaqui estava nota dez e aquele baião-de-dois era de comer rezando. Muito bom! Muito bom! O senhor está de parabéns. Agora, verifique quanto é a nossa conta!
Todo pimpão, o sujeito calcula o estrago de cabeça:
– Foram 60 latinhas a R$ 2, mais um tambaqui inteiro de R$ 90, dá R$ 210 tudo!
– Pode arredondar pra R$ 250 porque o seu atendimento também foi de primeira! – diz Rubens, enquanto mete a mão dentro da sunga, supostamente para tirar a grana.
Aí, de repente, ele faz uma cara de desespero:
– Puta que pariu, eu acabei de perder mais de 400 paus...
E, antes que o sujeito pudesse abrir a boca, Rubens, nervosíssimo, já sai procurando pela grana em direção a água.
Simas e Jones juntam-se a ele procurando uma coisa que absolutamente não existe.
O sujeito da tendinha faz a mesma coisa.
Fingindo estar cada vez mais nervoso (pela perda da grana) e cada vez mais aborrecido (pela situação constrangedora que acabou de criar), Rubens, pedindo mil desculpas, estende para o sujeito um bonito relógio que acabou de tirar do pulso:
– Segure esse meu relógio Cartier aí com o senhor, em consignação, enquanto eu vou ali no estacionamento pegar dinheiro no meu carro! Esse Cartier foi comprado na loja Beta e vale 2 mil reais! É só o tempo de eu ir ali no estacionamento e voltar com a grana...
Deus deve amar os puros e ingênuos. Deve ser por isso que fez tantos deles.
O sujeito concorda em receber o relógio em consignação.
No estacionamento, Rubens avisa pro Simas, peremptório:
– Liga o carro e vamos embora!
– Mas e o teu Cartier? – questiona o Simas.
– Aquela merda? Aquilo é falsificado, que me deu foi o Frankinho. Não custa nem R$ 10 nas bancas de camelôs! – explica Rubens.
E, sem nenhuma dor de consciência, os três foram embora deixando o ingênuo sujeito da tendinha com um prejuízo impagável. Nos dois sentidos.
Um comentário:
Não acredito que isso aconteceu!!! Foi verdade? Muito louco hehehhe. Me imaginei lá na data. E a frase sobre os ingênuos foi fantástica.
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