Ruy Goiaba
A internet sempre surpreende. Eu, que achava que o
cavalheirismo fosse um daqueles costumes fenecidos do século 19, como o
telégrafo e a varíola, descobri faz um tempo que há gentes que se dão ao
trabalho de escrever extensos artigos contra ele.
Se você circula pelos mesmos ambientes virtuais que eu,
conhece o argumento: mascarado de gentileza, cavalheirismo é um modo de tratar
a mulher como “ser inferior”.
Parece que é um comportamento mais ofensivo que a troca de
tapas, que ao menos pressupõe relação entre iguais.
Pra dar verossimilhança à coisa, os tais artigos costumam
incluir “histórias reais” de cavalheiros sendo machistas, achando um absurdo
que a mulher pague a conta do restaurante etc.
Eu realmente não sei em que caverna conseguem encontrar
esses seres que se sentem FERIDOS em sua dignidade de macho diante da possibilidade
de uma mulher pagar a conta – e devo ser mais feliz por isso.
Mas OK, suspendo a descrença e admito que exista gente assim
por aí, correndo pra impedir mulheres de abrirem livremente a porta do carro.
Aqui é o momento de dizer: eu entendo o ponto do argumento.
Além disso, ninguém está aqui para ser “fiscal de
militância”, como diz uma amiga, e dar dicas às mulheres de como deveriam agir
– Deus me livre de fazer como certa esquerda POGRECISTA, e invariavelmente
branca, que volta e meia se mete a ENSINAR como Joaquim Barbosa, do STF,
deveria se comportar se fosse um “negro de verdade”.
Mais ainda: acredito que pessoas blasées em relação ao
feminismo (“ai, que coisa chata”) devem alguns direitos bem básicos à chatice
de militantes – de um pessoal que teve de ser mala pra que gerações posteriores
não precisassem ser.
Mas olhando daqui, de longe, da minha perspectiva distorcida
e condenável de macho-adulto-branco, tenho a impressão de que a briga com o
cavalheirismo é só um pouquinho mais difícil que empurrar bêbado de skate
ladeira abaixo.
Na verdade, a própria formulação do problema entrega a
origem classe-média-branquinha de quem o formula: para uma mulher pobre que
sofre violência física cotidianamente (pois é, existem e são muitas), ser
tratada de modo cavalheiresco já seria um passo na direção de reconhecê-la como
ser humano.
Mesmo quando não se trata de gente pobre ou agredida, eu
diria que o mundo precisa de mais, não menos, gentileza e que todo movimento no
rumo dela é bem-vindo.
Talvez não seja difícil: é só chamar cavalheirismo de
gentileza, aceitar retribuição da moça (ou entre moça e moça, ou moço e moço,
que aqui não se discrimina ninguém) e pronto: cabô polêmica.
Favor votar em mim para o próximo Prêmio Nobel da Paz.
Outro dia circulou pela internet, como exemplo de machismo,
reportagem de uma revista pra adolescentes em que um zé-ruela dizia que mulher,
pra ele, tinha que ser “humilde e totalmente depilada”.
Achei coisa de moleque bobo – no mínimo, o cara vai deixar
de conhecer moças bacanas –, mas me pareceu gosto pessoal, não uma sentença do
tipo “TODA mulher tem de ser assim”.
Bastaria ignorar, mas algumas mulheres preferem se importar
com o zé-ninguém a ponto de alçá-lo ao trono do MACHO OPRESSOR. Tá certinho.
Pelo menos uma boa notícia pra encerrar a coluna: vocês
terão férias de mim até o início de setembro.
Estarei muito ocupado com mulheres, iates, mulheres, mansões
e mulheres, mas sentirei saudades. Orrevoá!
Nenhum comentário:
Postar um comentário