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quinta-feira, agosto 08, 2013

Cavalheireza e gentilismo são artigos em extinção


Ruy Goiaba

A internet sempre surpreende. Eu, que achava que o cavalheirismo fosse um daqueles costumes fenecidos do século 19, como o telégrafo e a varíola, descobri faz um tempo que há gentes que se dão ao trabalho de escrever extensos artigos contra ele.

Se você circula pelos mesmos ambientes virtuais que eu, conhece o argumento: mascarado de gentileza, cavalheirismo é um modo de tratar a mulher como “ser inferior”.

Parece que é um comportamento mais ofensivo que a troca de tapas, que ao menos pressupõe relação entre iguais.

Pra dar verossimilhança à coisa, os tais artigos costumam incluir “histórias reais” de cavalheiros sendo machistas, achando um absurdo que a mulher pague a conta do restaurante etc.

Eu realmente não sei em que caverna conseguem encontrar esses seres que se sentem FERIDOS em sua dignidade de macho diante da possibilidade de uma mulher pagar a conta – e devo ser mais feliz por isso.

Mas OK, suspendo a descrença e admito que exista gente assim por aí, correndo pra impedir mulheres de abrirem livremente a porta do carro.

Aqui é o momento de dizer: eu entendo o ponto do argumento.

Além disso, ninguém está aqui para ser “fiscal de militância”, como diz uma amiga, e dar dicas às mulheres de como deveriam agir – Deus me livre de fazer como certa esquerda POGRECISTA, e invariavelmente branca, que volta e meia se mete a ENSINAR como Joaquim Barbosa, do STF, deveria se comportar se fosse um “negro de verdade”.

Mais ainda: acredito que pessoas blasées em relação ao feminismo (“ai, que coisa chata”) devem alguns direitos bem básicos à chatice de militantes – de um pessoal que teve de ser mala pra que gerações posteriores não precisassem ser.

Mas olhando daqui, de longe, da minha perspectiva distorcida e condenável de macho-adulto-branco, tenho a impressão de que a briga com o cavalheirismo é só um pouquinho mais difícil que empurrar bêbado de skate ladeira abaixo.

Na verdade, a própria formulação do problema entrega a origem classe-média-branquinha de quem o formula: para uma mulher pobre que sofre violência física cotidianamente (pois é, existem e são muitas), ser tratada de modo cavalheiresco já seria um passo na direção de reconhecê-la como ser humano.

Mesmo quando não se trata de gente pobre ou agredida, eu diria que o mundo precisa de mais, não menos, gentileza e que todo movimento no rumo dela é bem-vindo.

Talvez não seja difícil: é só chamar cavalheirismo de gentileza, aceitar retribuição da moça (ou entre moça e moça, ou moço e moço, que aqui não se discrimina ninguém) e pronto: cabô polêmica.

Favor votar em mim para o próximo Prêmio Nobel da Paz.

Outro dia circulou pela internet, como exemplo de machismo, reportagem de uma revista pra adolescentes em que um zé-ruela dizia que mulher, pra ele, tinha que ser “humilde e totalmente depilada”.

Achei coisa de moleque bobo – no mínimo, o cara vai deixar de conhecer moças bacanas –, mas me pareceu gosto pessoal, não uma sentença do tipo “TODA mulher tem de ser assim”.

Bastaria ignorar, mas algumas mulheres preferem se importar com o zé-ninguém a ponto de alçá-lo ao trono do MACHO OPRESSOR. Tá certinho.

Pelo menos uma boa notícia pra encerrar a coluna: vocês terão férias de mim até o início de setembro.

Estarei muito ocupado com mulheres, iates, mulheres, mansões e mulheres, mas sentirei saudades. Orrevoá!

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