A Penitenciária da Papuda, em Brasília, recebeu visitantes
ilustres: uma comissão de servidores da Câmara dos Deputados, que foi procurar
o dublê de presidiário e parlamentar Natan Donadon (PMDB), o primeiro deputado
brasileiro a ser preso em pleno exercício do mandato. Os servidores foram lá
para notificar diretamente o ainda deputado do início do processo de cassação
do seu mandato. Donadon falou com os representantes da Câmara como os presidiários
falam com pessoas que vão lhes procurar fora dos dias de visitação: por uma
abertura na parede de uma sala do presídio. O quase ex-deputado por Rondônia
perderá o direito de cela individual tão logo perca a condição de deputado.
Resta-lhe o consolo de que em breve deverá ter a companhia de ex-colegas, ao
que tudo indica – ou pelo menos deveria indicar.
Fogo amigo
Não se sabe se com o intuito de mostrar que o PT está pouco
ligando para seus aliados de um modo geral ou se o problema é só com o PMDB,
mas o certo é que está dando o que falar a presença do secretário-geral da
Presidência de República, Gilberto Carvalho, numa manifestação contra o
governador fluminense Sérgio Cabral, realizada em Copacabana, em 26 de julho,
filmada por algum celular indiscreto e, claro, colocada na rede. As imagens
mostram Carvalho circulando desenvolto e sorridente entre os manifestantes.
Todo mundo está querendo saber que diabos uma figura tão proeminente do governo
do PT estava fazendo numa manifestação contra seu aliado peemedebista no Rio de
Janeiro.
Vândalo das esferas
O vídeo estrelado por Gilberto Carvalho, aliás, não é o
único acontecimento estranho envolvendo gente da Secretaria Geral da
Presidência da República nas manifestações de rua pelo país. É o caso do
sociólogo Pedro Contesini, membro do Conselho Nacional da Juventude, vinculado
ao ministério de Carvalho, que foi flagrado depredando o Palácio do Itamaraty
no dia 20 de junho e está respondendo a inquérito policial por isso. Além de
vândalo e servidor da Secretaria Geral da Presidência, o rapaz é membro da
executiva nacional da Rede Sustentabilidade, o novo partido da Marina Silva.
Maracutaia gigante
Em São Paulo, o Ministério Público Estadual investe firme
nas investigações sobre o escândalo envolvendo pagamento de propinas pela
Siemens e outras empresas a agentes públicos do governo do estado no processo
de compra e manutenção de trens para o metrô paulistano. O MP está negociando acordo de delação
premiada com os seis executivos da Siemens envolvidos no imbroglio. A proposta
está preocupando, e não é pouco, o alto tucanato paulista.
Fim do poço
A economia continua apontando na direção que mais assusta o
governo, desenhando um cenário de desaceleração semelhante – embora até agora
aparentemente menos agudo – ao que ocorreu no ano passado, marco histórico do
célebre “Pibinho” de Guido Mantega. É o que divulgou o Banco Central, de acordo
com a pesquisa semanal que faz junto a instituições financeiras. Desse modo, a
projeção para o crescimento do PIB este ano caiu de 2,28% para 2,24%. A
projeção de expansão da atividade industrial, segundo a mesma pesquisa, caiu de
2,10% para 2%.
O petróleo é nosso
Números recentes mostram que é cada vez mais lero-lero e
menos possibilidade real essa conversa de destinar tantos por cento dos
royalties do petróleo para a educação, mais tantos para a saúde, outra
fraçãozinha ali para a segurança pública, para atender às reivindicações da
chamada “voz das ruas”. Se depender do desempenho da Petrobras e da conta-petróleo
do país hoje, distribuir royalties pode significar distribuir prejuízos. O
noticiário econômico de hoje dá conta de que o déficit da balança comercial de
petróleo e derivados no primeiro semestre deste ano chegou a mais de US$ 8
bilhões, um recorde. Já a produção, segundo a Agência Nacional do Petróleo
(ANP), caiu quase 6% no primeiro semestre, em relação aos primeiros seis meses
de 2012. Aí complica.
Mais Médicos tem bico
tucano
O governo recuou – ou está em vias de recuar – de um dos
pontos mais positivos do seu programa Mais Médicos: a obrigatoriedade de os
formandos em medicina participarem de um ciclo obrigatório de dois anos
prestando serviços (e aprendendo) no sistema público de saúde. Segundo o
noticiário, o governo já admite diminuir esse período para somente um ano.
Curioso é que descobriram que a medida proposta por Dilma, já praticada em
outros países, não era novidade nem no Brasil. Quem primeiro jogou a ideia no
tabuleiro foi o renomado cirurgião Adib Jatene, quando ministro da Saúde no
governo tucano de Fernando Henrique Cardoso.
Serra e suas prévias
E lá vem José Serra outra vez com sua conversa recorrente de
realização de prévias no PSDB para escolha de candidatos tucanos a cargos
executivos – papo que às vezes cola, outras não; mas no qual ele sempre
insiste. Serra joga pule no fato de ser, ou achar que é, mais conhecido do que
os demais postulantes ao que quer que seja. Ele parece esquecer que fama é uma
coisa que pode ser boa como também pode ser ruim. E a dele, de uns tempos para
cá, se encaixa mais no segundo caso.
Agosto, mês do
desgosto
Depois que as manifestações de junho e julho nas ruas
brasileiras zeraram todas as projeções políticas e transformaram em uma
incógnita o processo eleitoral de 2014, revertendo previsões e fazendo
despencar a avaliação de governantes de norte a sul do país, partidos e
políticos tentam estabelecer novos caminhos e estratégias no plano nacional e
nos estados. Na verdade, estão todos como cegos em tiroteio, sem saber para que
lado ir, pensando em esperar as águas se acalmarem, mas observando que nada
aponta nesse sentido.
Pelo contrário: os meses de agosto e setembro prometem
acrescer mais confusão ainda ao cenário, com componentes explosivos. Como o
julgamento pelo STF dos recursos de defesa dos condenados do mensalão. Ou a
votação problemática no Congresso de vetos presidenciais e projetos de
interesse do governo como o programa Mais Médicos. Para completar a receita,
escândalos tucanos, petistas e peemedebistas, convocações de quebra-quebra
pelos black blocs e previsões de um 7 de Setembro incendiário, como anunciam as
redes sociais.
Agora, não se trata mais apenas de dar respostas que nada
respondem ou soluções que nada resolvem, como vem sendo feito até aqui pelos
políticos e governantes brasileiros, na ilusão de que podem contentar as ruas
oferecendo o que elas não estão pedindo e praticamente ignorando o que elas
realmente pedem. O momento agora é bem mais difícil e demanda uma dose de bom
senso que não parece estar muito disponível no mercado político. Agosto é tido
normalmente como um mês politicamente trágico para o país (suicídio de Vargas,
renúncia de Jânio etc. etc.). Reverter o caos previsto para este agosto que ora
se inicia deveria ser a prioridade da classe política brasileira. O problema é que parece que não é.
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