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quinta-feira, agosto 22, 2013

Quando o coletivo faz a arte: o último clipe de Johnny Cash


Sylvio Rocha

Ele disse não haver túmulo que o segurasse embaixo da terra e alguns fãs ainda esperam que reapareça. A sentença foi profética. Johnny Cash morreu em setembro de 2003 e seu último álbum, gravado três meses antes, foi lançado em 2010: “Ain’t no Grave” (Não há sepultura, numa tradução literal) é um dos grandes sucessos deste que é um dos maiores artistas norte-americanos.

Também foi em 2010 que um projeto intrigante surgiu numa conferência de arte em Portugal. Chris Milk, cineasta e diretor de clipes de música que já havia trabalhado para o Chemical Brothers, o U2 e o GreenDay, se juntou a Aaron Koblin – design de tecnologias digitais e diretor do media creative lab do Google, com trabalhos no acervo permanente do MoMa, em Nova York, e do Centre Pompidou, em Paris – para elaborar um clipe de música colaborativo.

Além do desafio tecnológico, dois problemas teriam de ser resolvidos. Primeiro, fornecer às pessoas uma ferramenta de criação online. Segundo, arrumar um motivo que instigasse pessoas do mundo inteiro a participarem da brincadeira. A solução surgiu depois de uma conversa com o lendário produtor musical Rick Rubin, que estava produzindo o último álbum de Cash. Milk usou imagens do cantor em um documentário dos anos 1960 e fez uma montagem especial para a música que dá nome ao disco.


A plataforma digital foi lançada no ano em que Cash comemoraria 78 anos e, até hoje, qualquer pessoa pode alimentá-la. Basta acessar o site e clicar em contribute (contribuir) que aparece na tela uma janela com três imagens do cantor. Escolha uma e use as ferramentas de criação disponíveis. Quando terminar, clique em submit frame (submeter imagem). Seu desenho fará parte do banco de dados do site e será incluído como parte do clipe da música.

O premiado projeto não para de receber novos desenhos e é um dos mais belos exemplos de criação coletiva utilizando plataformas digitais. É possível assistir ao vídeo com diferentes curadorias. Basta entrar no site, clicar em explore (explorar) e escolher uma das opções. Na de Chirs Milk, o clipe começa aos 2:50, depois de uma pequena parte com depoimento dos participantes. São 1.300 frames, um de cada artista.


O trabalho fez de Milk uma das grandes referências de cineastas com trabalhos colaborativos – atividade difícil de ser imaginada 10 anos atrás. Nos últimos meses, ao longo dos quais a arte colaborativa e os coletivos de arte ganharam destaque na imprensa brasileira, é interessante ver um exemplo de sucesso que usa a criatividade e o trabalho em equipe para criar – sem procurar qualquer forma de poder pessoal.

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