Edson Aran
As Mídias – Heródoto (“Histórias”, tomo IV) afirma
que são primas das musas. Suas formas são diversas, porém as vozes são uma só,
contam os detratores. As mídias são descritas como servidoras de reis, mas na
tradução de Burton de "As Mil Noites Menos Uma", elas irritam o
grão-vizir da Pérsia Menor quando falam que o povo come o pão que o diabo
amassou. O grão-vizir manda calar as mídias e pede que o diabo abaixe em 10% o
preço do pãozinho.
Plínio, o Pedicuro, escreve que as mídias estão mortas e
suas vozes são ecos de tempos passados. A culpa, porém, é delas mesmas, que
sempre festejaram o próprio ocaso. Quando Odisseu as encontra no Canto VIII do
poema de Homero, as mídias dizem:
“Oh, bravo guerreiro
Somos mídias moribundas
Escutai nosso berreiro
Nossa agonia é profunda
Pode passar a mão na nossa carteira”
Os Cabeças-de-Bagre – Parecelso (“Tratado Geral dos
Ambientes Abomináveis”, volume VIIII) menciona, brevemente, um país onde todos
os habitantes nascem com um bagre no lugar da cabeça. Gulliver, o Odisseu de
Swift, também aporta nesta terra singular em uma de suas viagens.
Esse povo anfíbio só toma decisões erradas. Votam nos
néscios, lêem os imbecis, ouvem os cretinos e adoram reality show.
O sistema político dos cabeças-de-bagre é a democracia
representativa. De quatro em quatro anos, a população vota no
Supremo-Cabeça-de-Bagre que passa, então, a reger o destino da nação. A
população sempre vota errado, mas como a apuração também dá errado, eles acabam
elegendo o candidato certo. Não importa. O vencedor será sempre um
cabeça-de-bagre.
Plínio, o Vesgo, conta que o nativo da ilha vive até os 130
anos. Quando se entedia da vida, ele mergulha num rio e fica boiando até que a
cabeça se desprenda do corpo e siga a correnteza. Aí ele sai da água e vira
ministro.
A Dil-Mah –
Plínio, o Volúvel, situa a origem da criatura monstruosa na Bulgária. Dona de
índole irritadiça, a Dil-Mah não tem amigos. Vive sozinha a errar e a urrar
pelo planalto central.
Na vaga mitologia dos embusteiros, povo que habita o
Embustão, a Dil-Mah é formada pela saliva do Lula de Duas-Cabeças, que dá a ela
uma existência fugaz.
O Lula nasce com apenas uma cabeça e sua chegada prenuncia
uma era de conquistas e mudanças. No decorrer das eras, a criatura se modifica,
crescendo em fealdade e horror. Nasce uma segunda cabeça, mais conformista e
conformada, disposta a negociar favores e apoios. É este Lula de Duas-Cabeças
que pare a Dil-Mah para se perpetuar no panteão.
Quando a Dil-Mah está presente, o país entra em convulsão e
a economia não produz resultados. As colheitas secam nos campos e os jovens
maldizem a democracia representativa. Mas a Dil-Mah finge que não é com ela.
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