Luís Fernando Veríssimo
O futebol dos sábados no sítio do Magalhães tinha começado
como uma brincadeira, uma maneira de abrir o apetite para o almoço. As mulheres
ficavam na piscina enquanto os homens jogavam num campo improvisado, que não
tinha nem goleira. Três, no máximo quatro de cada lado.
A hora do almoço dos sábados começou a aumentar, e o futebol
também. Magalhães ampliou o gramado e colocou goleiros. Os times se repetiam e
aos poucos foram adquirindo uma identidade. Não demorou muito, tinham uniforme,
flâmula e até bandeira.
Mesmo assim a Marta só descobriu como a coisa ficara séria
quando tentou interromper uma partida porque estava atrasando o almoço e foi
corrida do campo pelo marido, o Sales. Pediu o divórcio na semana seguinte,
embora o Sales negasse que estivesse tentando acertá-la com um pontapé,
irritado com a intromissão, já que seu time estava perdendo.
Depois foi a vez da Silvinha, que no meio de um almoço de
sábado fez protesto. O futebol estava acabando com a vida social dela e do
Aderbal. Na sexta, o Aderbal não queria fazer nada, dormia cedo para estar em
forma para o jogo da manhã seguinte. E no sábado, depois do jogo, não tinha
condições de se mexer, o que dirá fazer alguma coisa. Eles não iam mais a
teatro, não iam mais a cinema, não saíam mais para jantar.
Várias das outras mulheres concordaram com a Silvinha. Os
homens ficaram mudos. E os do time do Aderbal olharam para ele com orgulho. Ali
estava alguém com uma noção correta da importância relativa das coisas na vida
de um homem. No sábado seguinte, o Aderbal apareceu sem a Silvinha.
O terceiro problema foi com a própria mulher do Magalhães.
Num certo sábado, ela viu um bando de meninos seminus atravessar o gramado
correndo e pular na piscina onde – não que ela fosse racista, mas francamente!
– nunca entrara alguém com pele escura a não ser pela ação do bronzeador. Uma
invasão!
Ela já ia chamar a polícia quando o Magalhães explicou que
eram os filhos do Gedeão, segurança da firma, que ele convocara para reforçar a
defesa do seu time. Ela que se acostumasse, o Gedeão e os filhos estariam
almoçando lá todos os sábados. Precisava do Gedeão para o meio da zaga. A
mulher do Magalhães também pediu divórcio.
Hoje são quatro times de sete jogadores que disputam
intermináveis torneios e copas por qualquer pretexto – a atual é a Copa
Patrícia Pilar – e muitas vezes esquecem de almoçar.
Numa espécie de galpão ao lado da piscina, Magalhães
instalou o que se chama de “a Federação”, a sede da “Liga dos Sábados”, e é ali
que estão dois painéis, um o dos “Campeões”, com fotografias dos times
vencedores dos diversos torneios, e outro o das “Caídas”, com fotos das
mulheres que não aguentaram o tranco. São 12. A décima segunda foto,
recém-inaugurada, é da Laurita, mulher do Marco Antônio, meia-armador do time
do Sales.
A Laurita aguentou o que pôde, mas pediu o divórcio depois
que encontrou o Marco Antônio fazendo uma preleção tática para o seu time na
sala apartamento, e usando suas miniaturas de porcelana para explicar as
jogadas.
Há um terceiro painel, intitulado “Frouxos”, já que
“Traidores” foi considerado forte demais. Neles estão as fotos do Olimar e do
Galvão, que cederam à pressão e abandonaram seus times!
O Galvão ainda com o agravante de ter comunicado sua decisão
de parar na véspera da decisão da Copa Trigêmeas da Playboy...
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