Augusto Nunes
Há dois dias, o comentário de 1 minuto para o site de VEJA
constatou que, por negar-se a enxergar as mudanças operadas pela Lava Jato na
paisagem brasileira, a alma penada de Lula ainda não descobrira que, hoje,
nenhum fora da lei está acima da lei. Descobriu nesta manhã, quando a mão do
destino ─ disfarçado de Polícia Federal ─ bateu à porta do apartamento do
ex-presidente em São Bernardo.
Até este histórico 4 de março, Lula acreditava que, se todos
são iguais perante a lei, ele sempre seria mais igual que os outros. Esse
status de condenado à perpétua impunidade lhe permitiria, por exemplo, rejeitar
intimações judiciais, zombar de autoridades dispostas a fazer Justiça e
debochar do Estado Democrático de Direito. Acordou para a vida real ao ser
acordado pela 24ª fase da Lava Jato, batizada de Alethea.
Conduzidos coercitivamente ao local do depoimento, Lula e o
filho Lulinha tiveram de abrir o bico ─ pela primeira vez ─ sobre as
bandalheiras em que se meteram. A família que se julgava inimputável foi
enquadrada por juízes, procuradores e policiais que não temem criminosos da
classe executiva. Alethea, convém ressaltar, é uma palavra grega que significa
“busca da verdade”. Nesta sexta-feira, a verdade venceu a mentira.
A busca da verdade não cessará tão cedo. Mas a Era da
Canalhice está perto do fim, confirmaram a patética discurseira do chefão e a
bisonha contra-ofensiva ensaiada pelos agonizantes. Um dia depois de divulgado
o desastroso desempenho do PIB em 2015, Lula tornou a festejar o Brasil
Maravilha que só existe na cabeça de embusteiros juramentados.
Ele também relançou a candidatura à Presidência que as
revelações de Delcídio do Amaral haviam afundado de vez na véspera. A Alethea,
por sinal, já dispunha de munição suficiente quando Delcídio começou a contar o
que sabe ─ e o que sabe o ex-líder do governo no Senado vai adicionar toneladas
de dinamite ao vasto arsenal da Lava Jato. Como Lula tentará escapar da
sequência de explosões?
A resposta é fácil: ele vai ampliar ainda mais o acervo de
mentiras que engordou algumas arrobas com o falatório desta tarde. Os truques e
vigarices do mágico de picadeiro já não iludem sequer marilenas chauís. De
novo, Lula não deu um pio sobre as acusações que o transformaram em campeão de
impopularidade. Ele simplesmente não tem como justificar as delinquências que
protagonizou, sobretudo as praticadas no ofício de camelô de empreiteira.
A “mobilização nacional da militância” prometida por
cartolas do PT e pelegos que prosperam nos “movimentos sociais” só serviu para
reafirmar que o partido que virou sinônimo de roubalheira tornou-se um
ajuntamento de fanáticos sem cura. Manifestaram-se nesta sexta os devotos que
restam. Os protestos da turma da estrela reuniram menos gente que procissão de
vilarejo.
Muito mais abrangente e eficaz foi a mobilização da Polícia
Federal decretada pela Alethea. Munidos de mandados de busca e apreensão,
destacamentos de agentes vasculharam residências, escritórios e esconderijos de
gente graúda engajada no projeto criminoso de poder. Declarações de delegados
envolvidos na ofensiva atestaram que a Lava Jato já reuniu muito mais provas do
que se imaginava.
Outras tantas foram recolhidas na devassa que atingiu 44
alvos, de Marisa Letícia e três lulinhas a Paulo Okamotto e o bunker no
Instituto Lula, da Odebrecht e da OAS aos sitiantes de araque Fernando Bittar e
Jonas Suassuna, passando por coadjuvantes como o engenheiro que trabalha de
graça nas férias. Ficou ainda mais variado o elenco recrutado pela operação que
investiga o maior esquema corrupto descoberto desde o Dia da Criação.
Hoje se ouviu o choro das carpideiras transformadas em
animadoras de velório. Em 13 de março, a imensidão de indignados invadirá as
ruas para exigir, além da punição de todos os poderosos patifes, o imediato
despejo do governo destroçado pela incompetência, pelo cinismo, pela corrupção
e pelo Código Penal. Oito dias depois
dos uivos da subespécie em extinção, a nação ouvirá o rugido do país que
presta.
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