Xico Sá
Uma vez que o ato sexual, mesmo com a maior e acertada das
regularidades, jamais eliminou a linguagem da masturbação – o velho gesto do ora pro nobis, ato igualmente católico e
engrandecedor! – tratemos de um novo aspecto do vício solitário: a bronha nos tempos
da tela do computador. Como velho discípulo dos catecismos de Carlos Zéfiro,
passando por toda uma sorte de Status, Ele & Ela e Playboy, sinto-me a
cavaleiro para adentrar o misterioso tema.
De Zéfiro à banda larga lá se vai uma eternidade. Aos treze,
um alumbramento na banca da praça Padre Cícero, em Juazeiro: Marina Montini,
apresentada por Di Cavalcanti, “estátua de bronze”, como balbuciou o pintor do
ramo. O ensaio de Status é de junho de 1976. Nossa Senhora! Viva a imaginação
de papel.
Depois chegaria o glorioso pornô nacional popular, com
Helena Ramos e grande elenco. Sessões para guardar e despejar, dias e dias, no
banho antes da equação de segundo grau. Banco de imagens acumulado no juízo,
qual o queijo dos gozos mais guardados e envelhecidos.
Tempos mais tarde, o vaivém do vídeo, Linda Love, Love,
Lovelace e a sua garganta profunda. Os sinos bimbalham, amém. Daí por diante, a
imaginação de papel dos tempos do PhotoShop, infelizmente sem as mais
desejáveis das gordinhas e ditas imperfeições da nova estética publicitária.
Arrivistas. Escaneia, mulata, escaneia.
Aí é chagada a hora daquela memória Ram 16, 32... Conexão na
lona. Mão no mouse, outra sustentando o juízo, Chats, madrugada chegou, o
sereno tá caindo... Fotos por cartas ou no lombo de burro, download dá um
tempo. Pura malandragem. Nem santo baixa. Já não havia o lençol engomado de
tanta gala e safadezas bem-dormidas.
Que fazer? Forrar o colo com uma toalha, um lençol, papel
higiênico? Num baldinho entre as pernas, como num peep-show? Soltar o mouse,
aprender a manusear o teclado? Ctrl tudo que não presta nesse mundo. Bate-papo
ou imagens? Prosa ou ficção? Direto para a webcam e mostrar as partes pelo
todo? Ou esquecer tais metonímias da nova era, nobilíssimo amigo Guimarães?
Claro que às vezes basta um ponto e vírgula bem posto num
e-mail, garrafa atirada do farol do Netscape. Como nos tempos das cartas sujas
dos amantes transatlânticos. É. Viva a tecnologia. Viva a velocidade,
desgostoso e querido Paul Virilo. Mas nunca esqueça, caro viciado solitário, da
mais antiga das invenções, o lírico e abençoado cuspe.
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