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quinta-feira, dezembro 09, 2010

Com ajuda do metal e do rap, música eletrônica solta suas bruxas


Por Marcus Vinicius Brasil, do G1

Sobre o palco, dois rapazes vestem máscaras de caveira, feitas de fibra de vidro e colocadas sobre capuzes.

À frente da dupla, a vocalista se esgoela de olhos fechados ao microfone usando um vestido de plástico preto, que a faz parecer embalada num saco de lixo.

A cena estranha se passa durante um show da banda paulistana The 666 Order, representante nacional do gênero que está sendo chamado de “witch-house”, ou “house da bruxa”, em blogs e publicações especializadas.

O principal representante do estilo é o trio americano Salem, formado pelos músicos John Holland (teclado), Heather Marlatt (vocais) e Jack Donoghue (rimas).

Sua maior influência é o rap produzido em Houston pelo DJ Screw (morto em 2000, vítima de uma overdose).

Screw desenvolveu uma técnica em que reduzia a velocidade das músicas nos toca-discos para produzir uma sonoridade arrastada, entorpecida.

Criado em fevereiro deste ano, o The 666 Order conta com os produtores musicais Cello Zero e Zack Wire mais a cantora Chloe de Wolf.

Os três produzem uma mistura de música eletrônica com thrash metal, em que vale o uso de notas soturnas de piano, urros assustadores no meio das faixas.

“Nossas influências são Black Sabbath, Slayer, Megadeth e Daft Punk. Queríamos fazer essa mistura de metal bem obscuro com eletrônico”, diz Cello, que produz há cerca de seis anos.

Sobre o palco, nenhuma guitarra: eles usam dois teclados sintetizadores, bateria eletrônica e sampler.

Seu primeiro lançamento, o EP “I have a bad feeling about this”, acaba de ser lançado pelo selo virtual capixaba Smoke Island.

Os músicos Zack Wire, Chloe De Wolf e Cello Zero formam o 666 Order

Salem: ícone do baile das bruxas

Com vocais cheios de eco e teclados que parecem ter saído de um filme de terror em faixas como “Sick” e “Asia”, o Salem tem visual - dos clipes à capa dos discos - todo pensado para provocar arrepios.

Nas apresentações, eles usam máquina de fumaça e projeções de carros pegando fogo.

Capa do álbum King night, do trio americano Salem

E deu certo: desde que surgiram, em 2006, fizeram shows em eventos importantes, como o South by Southwest, no Texas. O primeiro álbum, “King night”, foi elogiado pela crítica e bem comentado na web.

Entre esses feitos, o mais recente foi ter composto a trilha-sonora para o desfile da grife francesa Givenchy.

“Compartilhamos um monte de música entre nós e dividimos muitas ideias. O Salem é onde nossas estéticas se encontram”, disse Donogue em entrevista à revista americana “XLR8R”.

E não é apenas o Salem que vem fazendo a fama da witch-house. Há uma porção de grupos que têm sido associados ao rótulo, por compartilharem desse som obscuro e medonho: caso do americano Creep, formado pelas produtoras Lauren Flax e Lauren Dillard.

Seu primeiro single, “Days”, será lançado no dia 20 de dezembro e conta com a colaboração de Romy Madley Croft, integrante do The xx.

As faixas são lentas e com melodias eletrônicas sinistras, ainda que a sonoridade seja mais “limpa”, menos distorcida, que a do Salem.

“Ainda sou obcecado por tudo que eu ouvia no colegial e nos anos 90. Portishead, The The, Catherine Wheel, shoegaze, trip-hop... Então caí na cena rave, e em Detroit me eduquei bem na house e na dance music”, diz Lauren.

Capa de EP do projeto oOoOO

Essas bandas também compartilham o gosto por nomes bizarros. Um bom exemplo é o oOoOO (pronuncia-se “oh”, como um suspiro).

Também entusiasta de Portishead, Christopher Dexter Greenspan, cabeça do projeto, começou a compor sob esse pseudônimo há cerca de um ano.

“Eu estava estudando para me tornar um acadêmico, pesquisador na área de urbanismo e neurose coletiva. Então percebi que me sentar numa biblioteca e observar a luz do sol se mover lentamente ao longo da mesa não era o que eu queria para minha vida”, diz Dexter.

Essa dramaticidade toda aparece também em suas músicas. Com um LP engatilhado para o ano que vem, ele reunirá faixas como "Nosummr4u" e "Burnout eyess" – dois exemplos em que o americano faz música eletrônica com altas doses de melancolia e suspense.

A lista de grupos continua, e vai longe: Balam Acab, White Ring, Xix, Silent Diane...

“Gêneros não passam de opiniões glorificadas. As pessoas vão lhe categorizar não importa o que você faça. É importante que nós não fiquemos presas num estilo particular”, diz Lauren Flax, do Creep, mostrando ceticismo quando perguntada sobre a opinião dela sobre o destino da witch-house.

“Eu realmente não me importo”, disse Marlatt, do Salem, à “XLR8R”.

Ainda que essas bandas voltem para as catacumbas de onde saíram, quando passar o barulho em torno de seu surgimento, elas já serviram para algo: revelar novos nomes da eletrônica que, com ou sem bruxarias, vale a pena ficar de olho.

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