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segunda-feira, dezembro 13, 2010

A Pedra da Roseta desse tal de rock'n'roll

Talvez seja impossível encapsular uma bomba atômica explodindo. Da mesma forma, nem sempre é possível saber o momento exato em que uma lenda nasce.

Só que foi justamente isso o que aconteceu quando todos viram a capa do primeiro LP de Elvis Presley, lançado em 1956.

Mas, antes de chegar a esse momento supremo, vamos voltar um pouco para ver como tudo realmente aconteceu.

O rosto de Elvis Presley foi a segunda figura mais reproduzida do século 20 - só perde para Mickey Mouse.

Ocorre que, lá no início, ele até era confundido com um artista negro. Para saber que ele era realmente um tímido rapaz branco, era necessário olhar suas fotos.

Elvis começou a gravar na pequena Sun Records, em 1954, e logo foi descoberto por um ladino empresário de música country chamado “Colonel” Tom Parker.

Ele sabia que tinha ouro nas mãos e, aos poucos, passou a explorar a imagem do rapaz.

Mas o futuro Rei do Rock não estava muito preocupado com nenhuma revolução estética eminente.

Com o cabelo engordurado pela indefectível brilhantina, Presley também não gastava muito dinheiro com roupa.

Tocava basicamente no circuito country do sul dos Estados Unidos e não tinha a menor afeição pelas roupas de caubói.

Seu uniforme era formado por paletós ligeiramente largos, surrados e básicos.

Dessa forma, ele fez seu nome no sul da América, tocando em feiras, ginásios e onde mais tivesse gente disposta a pagar.

Mesmo com um orçamento reduzido, o Colonel fazia o possível para que esses shows fossem fotografados.

Em julho de 1955, Elvis estava se apresentando na Flórida quando foi fotografado em plena ação. O material foi guardado, mas teria uso certo alguns meses depois do show.

Quando Parker conseguiu negociar o passe de Elvis com a multinacional RCA-Victor (pagando à Sun a bagatela de 35 mil dólares), era a hora de multiplicar a histeria das garotas sulistas por toda a América.

A RCA era muito poderosa na área country e tinha em seu cast artistas na linha mais popular, sem o refinamento de uma Capitol, que gravava Frank Sinatra, Nat “King” Cole e outros.

No dia 10 de janeiro de 1956, Elvis entrou no estúdio da RCA de Nashville para gravar Heartbreak Hotel, seu primeiro single. Ao seu lado, Steve Sholes, o homem responsável por sua contratação.

Em seguida, Elvis fez suas primeiras aparições na TV e o magnetismo de sua imagem falou por si.

Finalmente, em abril, a canção chegou ao primeiro lugar.

Sholes respirou aliviado, mas ainda tinha muito trabalho pela frente. Ele queria ver um LP com o nome de Elvis sem muita perda de tempo.

O rock estava dando seus primeiros passos e não existia essa coisa chamada “LP de rock and roll”.

Astros de música country e R&B às vezes lançavam álbuns, mas as vendas eram geralmente fracas.

Muitos permaneciam em um selo sem nunca ver seu trabalho compilados em um disco de 12 polegadas.

Os LPs eram veículos para artistas do pop branco e romântico, trilhas sonoras e grandes orquestras. E, na RCA, singles e álbuns eram organismos totalmente separados.

Departamentos que não interagiam tomavam conta dos produtos.

O single não era um “trailer” do álbum, era um produto em si.

Assim, Heartbreak Hotel não entrou no LP - àquela altura sem nome nem repertório.

Elvis tinha acabado de participar de algumas sessões na RCA, mas elas não eram suficientes.

Para “encher” o LP, Steve Sholes usou gravações feitas na Sun Records que permaneciam inéditas.

Bem, o público não precisava saber! E também não precisava saber que a foto da capa fora tirada alguns meses antes, naquele show na Flórida.

O Colonel não perdeu tempo em trazer o material arquivado para ilustrar o disco.

A foto em preto e branco feita por William S. Randolph, conhecido como Popsie, mostrava Elvis de olhos fechados, com a bocarra aberta, exibindo as amígdalas.

Magérrimo e vestido com um daqueles ternos vagabundos, parecia dar cabo do pobre violão. Pura energia primal.

A foto foi ampliada ao máximo para que nenhum efeito fosse perdido.

No canto esquerdo, “Elvis” escrito em rosa e, embaixo, “Presley” em verde.

Com sua singular mistura de rosa, branco, preto, verde e violência musical pura, não à toa a imagem foi homenageada duas décadas depois na obra-prima do punk London Calling, do The Clash. Tudo começou ali.

A contracapa da estréia do Rei trazia um pequeno texto dizendo que Elvis se tornaria a maior sensação dos próximos tempos. E mais algumas fotos tiradas nos estúdios da RCA no começo daquele ano.

No dia 5 de maio de 1956, o disco com a capa berrante ocupava a primeira posição nos Estados Unidos. A história tinha sido feita.

Um disco 100% roqueiro dava um chega pra lá em álbuns de crooners e orquestras.

O impacto visual da capa foi imediato e a RCA reproduziu a foto em dois EPs que saíram em seguida.

Porém, para o segundo disco, a gravadora mudou tudo. Elvis foi fotografado em cores, de lado, dedilhando oniricamente um violão. A capa não era nem um pouco roqueira.

A RCA passou a apostar na boa-pinta do garoto de Tupelo, exibindo-o como um típico galã de Hollywood.

No Brasil, Elvis Presley teve capa e repertório totalmente diferentes.

 O álbum (disputado a tapa pelos colecionadores do mundo todo) reproduzia a capa de um EP americano que destacava Elvis, Bill Black (baixista) e Scotty Moore (guitarrista).

Mas logo a RCA tupi lançaria os EPs com a capa americana da estréia de Elvis. Foi desse jeito que os brasileiros conheceram esta lendária foto.

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