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segunda-feira, março 26, 2012

Aula 16 do Curso Intensivo de Black Music: Jackson Five e Stevie Wonder


Dois talentos mirins também se destacaram na história da Motown: o grupo The Jackson Five e Stevie Wonder.

Em 1962, na cidade de Gary, Indiana, o guitarrista Joseph Jackson organizou um grupo chamado The Jackson Brothers, que incluía seus filhos Jackie, Tito e Jermaine e dois outros jovens vizinhos, Milford Hite (na bateria) e Reynaud Jones (nos teclados).

Em 1964, Michael, então com seis anos, e seu irmão mais velho, Marlon, começaram a tocar atabaque e pandeiro, respectivamente, e foram incorporados ao combo.

Em 1966, Michael tornou-se o vocalista principal do grupo, quando tinha apenas oito anos de idade.

Com Michael no frontside, o grupo começou a excursionar pelos EUA e chegou a venceu um concurso de grupos amadores no bairro do Harlem, em Nova York.

Em 1967, o grupo, rebatizado de “The Jackson Five”, assinou seu primeiro contrato de gravação com a Steeltown, uma gravadora local, e, no ano seguinte, tiveram seu primeiro sucesso regional com a canção “Big Boy”.

Ainda em 1968, dois importantes grupos musicais da época, Gladys Knight & the Pips e Bobby Taylor & The Vancouvers, conheceram o trabalho musical dos moleques quando excursionavam pela cidade de Gary e os indicaram para a gravadora Motown.

Em 1969, Berry Gordy comprou o contrato da gravadora Steeltown, assinou com o grupo, e os levou para Los Angeles, onde pretendia transformá-los em astros mundiais.


Eles foram apresentados ao grande público pela cantora Diana Ross, que garantiu aos jornalistas que eles seriam “a próxima grande atração da Motown”.

Os primeiros quatro singles do grupo, “I Want You Back” e “ABC” (1969), e “The Love You Save” e “I’ll Be There” (1970) foram catapultados imediatamente para o primeiro lugar nas paradas dos Estados Unidos, um feito inédito até então.

Seguiram-se outros grandes sucessos como “Mama’s Pearl” e “Never Can Say Goodbye” (1971), “Lookin’ Through The Windows” (1972), “Get It Together” (1973) e “Dancing Machine” (1974).

O Jackson Five gravou catorze álbuns para a Motown, enquanto Michael, Jermaine e Jackie ainda gravaram álbuns-solo como parte da “franquia” familiar.

Muitos dos sucessos do Jackson Five foram produzidos por renomados produtores da Motown – Berry Gordy, Freddie Perren, Alphonzo Mizell, Deke Richards e Hal Davis.


Das roupas e coreografias até os arranjos das canções, tudo referente ao grupo era detalhadamente estudado por Berry Gordy, o que, depois de certo tempo, passou a encher o saco dos moleques.

A saída foi mudar para a Epic, subsidiária da Columbia, e mudar o nome para The Jacksons.

Em 1973, o grupo – com exceção de Jermaine Jackson, que se casou com a filha de Berry Gordy e permaneceu na gravadora – pagou uma multa de 600 mil dólares para cair fora da Motown.

Com Randy no lugar de Jermaine, o grupo ainda acumularia uma série de hits, mas no início dos anos 80 aconteceria uma debandada geral e Michael Jackson – então sozinho – tornar-se-ia um capítulo à parte na história da música negra.


Se Ray Charles guardou pelo menos alguma memória das coisas que viu até os seis anos, Stevie Wonder já nasceu cego.

Como Ray, ele se insere na tradição do músico que, por ser cego, tem realçadas as suas capacidades auditivas (pelo menos é o que reza o folclore...).

Batizado de Steveland Morris, ele nasceu em Saginaw, Michigan, em 1950, e aos oito anos já dominava uma boa quantidade de instrumentos, doados por parentes e amigos: piano, gaita-de-boca, bongô e bateria.

Stevie acabou sendo recomendado para Berry Gordy e, aos 13 anos, conseguia o feito de emplacar um single e um LP no primeiro lugar das paradas.

Ficou conhecido como Little Stevie Wonder, o Steviezinho Maravilha, descrição sucinta de seu tamanho e talento.

Cresceu, deixou o Little de lado, e como Stevie Wonder passou a fazer uma música cada vez mais rica e complexa, mas esbarrando sempre no radicalismo de Gordy.


Há uma piada dos irmãos Marx que define bem a situação de Stevie Wonder na gravadora Motown.

Em “Uma noite em Casablanca”, Groucho Marx encarna um diretor de hotel que decide trocar os números dos quartos dos hóspedes.

Quando um deles reclama que aquilo seria “uma loucura”, Groucho replica: “Mas também seria uma diversão dos diabos!”

A maior “loucura” de Stevie Wonder chamou-se “Talking Book” e cristalizou a independência do cantor em relação aos padrões rígidos da Motown.

Até então, na gravadora americana, as músicas deveriam ter três minutos – no máximo! – e abordar nas letras temas como o amor e futilidades.


Wonder queria ter controle total de suas produções e ainda a liberdade para abordar nas músicas os assuntos que quisesse, com a duração que bem entendesse.

Com o passar dos anos, essa exigência ficou cada vez mais cara para os cofres da gravadora e ainda menos rentável com a perda do prestígio de Wonder.

Mas, pelo menos ele conseguiu emplacar diversas obras-primas.

O álbum “Talking Book” veio mostrar um artista maduro aos 22 anos, brincando com uma invenção dos anos 70, o sintetizador – que foi descoberto em “Music Of My Mind”, seu disco anterior, também de 72.

Os instrumentos em que Wonder não meteu a mão foram tocados por gente da categoria de Jeff Beck (o solo de guitarra em “Lookin’ For Another Pure Love”) e o saxofonista David Sanborn (“Tuesday Heartbreak”).

As letras, em sua maioria, falavam da separação de Wonder e Syreeta Wright, da descoberta de um novo amor pelo compositor, de política e misticismo.


A música “Superstition” foi o maior hit do disco e quase virou um sucesso com Jeff Beck.

Stevie Wonder havia cedido a música para o guitarrista e se recusava a lançá-la em single.

“Você está louco? Esta canção tem de promover o álbum”, rebateu o pessoal da Motown.

A contragosto, o cantor teve que gravar o single e ele entrou direto nas paradas radiofônicas.

Não é preciso ser nenhum gênio para apostar no sucesso da música.

Basta ouvir a introdução, com a marcação forte da bateria e o sintetizador de Wonder.

O resultado foi um estremecimento da amizade entre o temperamental Jeff Beck e o cantor/compositor.

A relação entre Wonder e Syreeta foi destrinchada em “Maybe Your Baby”, “Tuesday Heartbreak”, “You’ve Got It Bad Girl” e “Blame It On The Sun”.

Na primeira, Wonder colocava para fora os fantasmas do ciúme e da solidão, com timbres estranhos de sintetizador e os wah-wah da guitarra de Ray Parker Jr. (que depois fez um pífio trabalho-solo).

“Tuesday” é uma visão irônica sobre o fim de uma relação e na letra de “Blame It On The Sun”, co-escrita com Syreeta, ele busca uma resposta para o fim do amor entre os dois.

Mas, ainda assim, Stevie colocava certa esperança no disco.


A canção “You Are The Sunshine Of My Life” nasceu de seu namoro com a vocalista Gloria Barley, que dividiu os vocais com ele na música.

E para quem duvidava de sua capacidade em temas políticos, Wonder rebateu com “Big Brother” – paralelo entre o “Grande Irmão” do livro “1984”, de George Orwell, e o pouco caso do governo americano em relação aos negros.

Quem achava que ele era só um baladeiro, tinha ali a prova de seu gênio.

A partir daí, Stevie Wonder conquistou o mundo da música pop com canções pegajosas como “My Cherie Amour” e “Isn’t She Lovely”, mas cada frase de suas composições, antes de chegar ao topo das paradas, foi banhada na tradição do blues.

Um comentário:

Anônimo disse...

Penso q o Simão perdi muito em escrever sobre os enlatados americanos. Conheço o Simão como um profundo especialista na arte escraxada da sedução feminina, nas sacadas sacanas, nos comentários provocativos sobre o sexo frágil. Descordo dessa perda de tempo ao escrever sobre músicas, torço pelo retorno do Simão autor do Manual do Canalha.