Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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sexta-feira, março 23, 2012
Aula 9 do Curso Intensivo de Black Music: Otis Redding
Um dos maiores hits de Aretha em todos os tempos foi “Respect”, assinado por Otis Redding, outro que também se tornaria superstar no verão de 1967.
Tivesse surgido em outra época, Redding tomaria certamente o rumo do blues.
Ele nasceu em 1941, em Dawson, e mudou-se depois para a vizinha Macon, na Geórgia, ambas no Blue Belt – o Cinturão Azul do blues.
Como Aretha e muitos outros, Otis começou a cantar no coro da igreja e da escola.
Em pouco tempo pegava a estrada, como roadie e cantor substituto da banda Johnny Jenkins & The Pinetoppers.
Um dia, em 1962, quando Jenkins gravava no estúdio da Stax, em Memphis, Redding aproveitou uma sobra no tempo de estúdio e gravou duas composições suas, “These Arms Of Mine” e “Hey Hey Baby”.
Um chefão da Stax ficou impressionado com o que ouviu, contratou Otis na mesma hora e lançou “These Arms Of Mine” num compacto.
O single teve boa colocação nas paradas e abriu caminho para o primeiro álbum de Redding, “Pain In My Heart”.
Mas, mesmo gravando regularmente desde 1962, Otis enfrentava problema idêntico ao de Aretha: o público americano ainda não o descobrira.
Ele era até mais apreciado na Europa, em particular na Inglaterra, do que na sua terra natal.
Redding participou de várias turnês do elenco Stax-Atlantic entre 1964 e 1966, liderando a excursão de 1965 à Europa.
Sua grande oportunidade chegou com o Festival Monterrey Pop, em 67, onde se tornou estrela da noite para o dia.
Naquele ano, tudo parecia estar dando certo no seu caminho rumo ao megaestrelato.
Dois meses antes, ele fora eleito o melhor cantor do ano pelos leitores da revista Melody Maker, tomando o título que fora de Elvis Presley nos dez anos anteriores.
Sua participação no Festival Monterey Pop, em junho, tinha sido um arraso, de trazer lágrimas aos olhos de Brian Jones, que confidenciou para o fotógrafo Jim Marshall: “nós, dos Stones, pensávamos que éramos a melhor banda do mundo, mas nem por um milhão de libras eu entraria em um palco depois de Otis Redding”.
Os próprios Beatles haviam interrompido a finalização de “Sgt. Pepperr’s Lonely Heart Club Band” para tentar – em vão – arrumar uma jam session com Booker T. And The MG’s, a banda de apoio de Otis Redding.
Redding era o coração da gravadora Stax.
James Brown podia ser o “Godfather” do soul, mas Otis era o verdadeiro “Rei” (apesar de Wilson Pickett e Salomon Burke) e também já conquistara definitivamente o público branco.
Conseguira fazer uma fusão surpreendente da energia de Little Richard com a elegância de Sam Cooke.
“Ele é o passado, o presente e o futuro... As performances de Otis Redding constituem o mais alto nível de expressão do rock’n’roll já realizado... Otis Redding é rock’n’roll”, escrevia o jornalista Jon Landau, na revista Rolling Stone.
Sua atividade era frenética em 67.
Duas turnês europeias, dois álbuns (“King & Queen”, com Carla Thomas, e “Otis Redding Live In Europe”), mais um disco gravado ao vivo no Whiskey A-Go-Go e material para diversas coletâneas lançadas nos anos seguintes.
Só parou mesmo em outubro, quando teve que operar a garganta.
O médico recomendou dois meses de repouso.
No início de dezembro, quando voltou ao estúdio, estava cheio de idéias e com cerca de trinta canções prontas para serem gravadas.
Otis Redding estava bastante entusiasmado com o álbum “Sgt. Pepper’s” e queria que sua música fosse uma extensão do que os Beatles estavam fazendo.
A música “manifesto” dessa nova fase foi “(Sittin’On) The Dock Of The Bay”, co-escrita com o guitarrista Steve Cropper, do Booker T. And The MG’s.
A primeira pessoa para quem Otis mostrou a música foi seu road manager, Speedo Simms.
“Eu fiquei batendo na perna, seguindo o ritmo”, contou Simms ao jornalista Peter Guralnick, “enquanto ele tocava o violão. Mas não consegui acompanhá-lo. Era a primeira vez que isso acontecia. Eu não conseguia entender. Mesmo depois, quando ele escreveu a letra, a canção ainda continuou me soando estranha”.
Os próprios donos da Stax ficaram na dúvida em gravar a faixa.
O empresário de Otis deixou claro que não havia gostado.
O cantor não vacilou: “É a hora de mudar minha música. As pessoas podem se cansar de mim.”
Infelizmente ele não teve muito tempo para confirmar sua previsão.
Morreu em 10 de dezembro de 1967 com quatro membros da banda que o acompanhava, os Mar-Keys, quando seu avião caiu no lago Monona, perto de Madison, Wisconsin.
Três dias antes, Otis gravara aquela que seria sua última canção, uma espécie de hino soul à cidade mais cantada daqueles anos, San Francisco.
Lançada no final de março de 1968, “(Sittin’ On) The Dock Of The Bay” logo chegava ao número um nas paradas dos Estados Unidos e Inglaterra, ficando nessa posição por quatro semanas (um feito nunca igualado por James Brown ou qualquer outra estrela do soul).
Havia uma certa atmosfera sinistra nesse hit póstumo, realçada pela sonoridade de gaivotas e ondas que evocavam o fim do cantor no fundo das águas.
O mistério era reforçado por rumores, não confirmados, que corriam no boca a boca do underground, de que quando retiraram o avião das águas geladas do lago encontraram – adivinhem quem? – segurando o manche, no lugar do piloto: exatamente, o próprio Otis Redding...
E havia mais: anos depois, houve rumores a respeito de uma possível “maldição de Monterrey”.
Qualquer pessoa, medianamente supersticiosa, tem tudo para acreditar nessa história.
Dos músicos que tocaram, cantaram ou tiveram algum papel importante no Festival de Monterrey, nada menos que oito morreram nos 11 anos seguintes: Otis Redding, o primeiro da lista, ainda em 1967, aos 27 anos.
Brian Jones, dos Rolling Stones – que foi a Monterrey dar uma força a Jimi Hendrix –, afogado misteriosamente na piscina da sua casa na Inglaterra, em 1969, aos 27 anos.
Al Wilson, do Canned Heat, de overdose, em 1970, aos 27 anos.
Jimi Hendrix, sufocado por seu próprio vômito, num hotel de Londres em 1970, aos 27 anos.
Janis Joplin, poucos dias depois, de overdose, num hotel de Los Angeles, aos 27 anos.
Ron ‘Pigpen’ Mackernan, do grupo Grateful Dead, de hemorragia estomacal, causada por excesso de álcool, em sua casa na Califórnia, em 1973, aos 27 anos.
Não é mesmo muita coincidência?
Mas ainda tem mais: Cass Elliott, a gordinha sexy dos Mamas & Papas, morreu de parada cardíaca devida à obesidade, num hotel de Londres, em 1977, aos 31 anos.
Keith Moon, baterista do The Who, de uma overdose de Heminevrin – tabletes usados no combate ao alcoolismo – no seu apartamento de Londres, em 1978, aos 32 anos.
É uma maldição pra ninguém botar defeito.
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