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segunda-feira, março 26, 2012

Aula 18 do Curso Intensivo de Black Music: Temptations, Four Tops e The Vandellas


O grupo The Temptations foi uma das crias mais bem-sucedidas da Motown, mas teve uma trajetória atribulada.

Inicialmente batizado de The Primes, se anunciavam como o “único grupo vocal com cinco solistas”, ou seja, os fundadores Eddie Kendricks e Paul Williams, mais Otis Williams, Melvin Franklin e Eldrige Bryant.

Com essa formação, gravaram quatro compactos.

A grande fase dos Temptations se deu entre 64 e 72, um período dividido em dois momentos criativos distintos.

Primeiro, David Ruffin entrou no lugar de Bryant e o grupo foi colocado nos trilhos por Smokey Robinson (sempre ele!).

O líder dos Miracles foi o autor da maioria dos primeiros hits do grupo até 66, todos eles doces, enxutos, aerodinâmicos e mortalmente românticos, como “The Way You Do The Things You Do”, “My Girl”, “It’s Growing”, “You’ve Really Got A Hold On Me” e “Get Ready”, regravado depois como rock melódico pela banda Rare Earth.

Naquele último ano, que sinalizava o início do movimento hippie, David Ruffin, dono de uma fantástica voz de barítono, partiu para uma carreira solo e a direção artística foi entregue a Norman Whitfield.

Ele conferiu ao som dos Temptations uma cor revolucionária, mais próxima do acid rock e mais sofisticada, com seus famosos arranjos de cordas e uma seção rítmica muito influenciada por Sly & The Family Stone.

O repertório do grupo passou a incluir composições de conteúdo político-social, referindo-se principalmente ao uso das drogas, algo até então impensável para os padrões da Motown.

Essas mudanças foram cristalizadas em três álbuns antológicos: “Cloud Nine” e “Puzzle People” (ambos de 69), e “Psychodelic Shack” (70).

Depois disso os Temptations ainda gravaram dois hits monumentais: a desbundada “Just My Imagination” e a hipnótica “Papa Was A Rolling Stone”.

Apesar de alguns percalços, o grupo continua na estrada até hoje.


Ao contrário da maioria dos artistas da Motown, os Four Tops eram profissionais experimentados quando passaram a integrar o elenco da gravadora de Detroit, em 63.

Esse magnífico grupo vocal já tinha conquistado uma sólida reputação graças aos seus shows bem ensaiados e vinha gravando discos desde 56, quando estreou no vinil na lendária gravadora Chess.

Formado em 1954 por Levi Stubbs, Lawrence Payton, Renaldo Benson e Abdul ODuke ÕFakir, os Four Tops foi o único quarteto vocal a permanecer unido com a mesma formação por 40 anos.

Entre 1964 e 1967, eles tiveram seus maiores hits, com o apoio do time de compositors e produtores formado por Brian Holland, Lamont Dozier e Eddie Holland, incluindo “It's The Same Old Song” (1965), “I Can't Help Myself” (1965), “Shake Me, Wake Me” (1966), “Bernadette” e “Standing In The Shadows of Love” (ambos de 1967) e aquele que talvez seja seu maior sucesso, “Reach Out I'll Be There” (1966).

Tanto “I Can’t Help Myself” (1965) quanto “Reach Out I'll Be There” (1966) chegaram ao primeiro lugar das paradas.

O Four Tops inaugurou uma nova fase na Motown, mais incisiva e orientada para as pistas de dança, que desaguaria na dance music.

Hoje, eles são um dos maiores e mais antigos grupos de soul ainda em atividade.


Outro grupo vocal, formado em Detroit no início dos anos 60, o Martha Reeves & The Vandellas se transformou, ao lado das Supremes, num dos mais populares girlgroups da década.

Escoltadas, também, pelo trio de produtores Holland-Dozier-Holland, tiveram em “Dancing In The Streets” o seu maior hit.

A música acabou tornando-se um dos hinos das celebrações pela lei dos direitos civis, proclamada em 1964, com sua letra que anunciava um novo tempo, adequada, em termos mais amplos, para toda a década de 60.

Até o início dos anos 70, as garotas sempre tiveram alguma música entre “as dez mais”, só que em 73 o grupo rompeu com a Motown e se dissolveu.

Martha tentou uma carreira-solo, mas nunca mais reeditou seu sucesso ao lado das Vandellas.


“Em 16 anos ganhei 367 milhões de dólares. Devia estar fazendo a coisa certa”, disse Berry Gordy Jr. ao vender a Motown em 1988 para a MCA e o grupo de investimentos Boston Ventures por 61 milhões de dólares.

Gordy não se aposentou, continuou administrando a Jobete Music Publishing, a editora que detém os direitos sobre quase todos os hits da Motown, incluindo os talentos que revelou, como Diana Ross, Stevie Wonder, Marvin Gaye, Lionel Ritchie, Michael Jackson e o Jackson Five.

Em compensação, Gordy não preparou sua criação para os anos 80.

A Motown se viu em crises de estrelismo de Marvin Gaye e Stevie Wonder, perdeu os Jackson Five e Diana Ross, mas o melhor sinal da decadência da Motown pode ser medido pelo número de artistas descartáveis que fazem parte do seu cast atual – Boyz II Men, Shanice, Debarge – e pela tentativa frustrada de Puff Daddy em tornar um hit o remix equivocado de “I Want You Back”, dos Jackson Five.

Se a comparação de artistas a gado de Hitchcock realmente tem alguma lógica, pode-se dizer que a Motown dos anos 90 acabou infectada pelo vírus da vaca louca.

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