Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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sexta-feira, março 09, 2012
A saga encantada de Mestre Ambrósio, uma das minhas bandas favoritas
Mestre Ambrósio é um personagem do Cavalo Marinho, folguedo tradicional da região da Zona da Mata Norte pernambucana.
O Cavalo Marinho é uma variante do Bumba-Meu-Boi, uma mistura de encenação, música e dança.
Mestre Ambrósio, ou Seu Ambrósio, ou ainda, simplesmente, Ambrósio, é o responsável pela introdução dos diversos personagens que aparecem na brincadeira.
É, portanto, um símbolo da diversidade.
O personagem do folguedo emprestou seu nome à banda recifense que toca a música tradicional de Pernambuco permeada por elementos de diversos outros ritmos, do Brasil e do mundo.
Cada integrante possui uma formação musical diferente, que vai desde a música erudita, passando pelo rock’n’roll, música cubana, ritmos afros, jazz e música árabe.
Quando foi fundado, em 1992, o Mestre Ambrósio tinha Siba (Sérgio Veloso), inicialmente na guitarra e depois na rabeca, Eder “O” Rocha, percussionista, e Helder Vasconcelos, ex-guitarrista e tecladista, depois percussionista e fole de oito baixos.
Mais tarde, entraram Mazinho Lima (baixo elétrico e triângulo), Sérgio Cassiano (percussão e vocal) e Mauricio Alves (percussão).
Filhote da mesma vertente mangue beat de Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, o Mestre Ambrósio usa menos referências importadas que seus pares, permanecendo mais ligado às bases nordestinas.
O CD independente Mestre Ambrósio (1996), produzido por Lenine e Marcos Suzano, foi bem aceito e vendeu 20 mil cópias. (pra baixar clique aqui)
A divulgação boca-a-boca deu um caráter cult à banda.
O clipe “Pé-de-calçada”, gravado e produzido por eles, começou a ser veiculado na MTV, o que serviu para mostrar as credenciais do grupo fora do circuito pernambucano.
A porta de entrada foi São Paulo, onde se radicaram em 1997.
No mesmo ano, excursionaram por mais de 10 cidades europeias, passaram pelos Estados Unidos e foram indicados para o MTV Video Music Brasil na categoria Banda/Artista Revelação com o clipe “Se Zé Limeira Sambasse Maracatu”.
A música “José” foi incluída na coletânea Strictly Worldwide, do selo alemão Piranha Records, especializado em música étnica.
Uma de suas músicas, “Baile Catingoso”, foi incluída na trilha sonora de Baile Perfumado, de Lirio Ferreira e Paulo Caldas.
O segundo disco, “Fuá na Casa de Cabral” (1998), foi lançado por uma gravadora multinacional, a Sony, e gravado acusticamente com inclusões eletrônicas, assinadas pelo produtor Suba.
O lançamento oficial foi no Abril Pro Rock, em Recife, em 1999. (para baixar clique aqui)
O disco emplacou melhor nos Estados Unidos do que aqui, entrando no top ten alternativo do crítico do New York Times Jon Pareles, e a banda começou 2000 fazendo uma turnê norte-americana.
Ainda pela Sony, em 2001, lançam o CD “Terceiro Samba”.
Além da conhecida mistura de estilos tradicionais do Nordeste, a banda colocou neste disco dois sambas no melhor estilo carioca: “Saudade” (do vocalista e multiinstrumentista Sérgio Cassiano) e “Lembrança de Folha Seca” (de Siba).
Em seu terceiro trabalho, o Mestre Ambrósio decidiu explorar radicalmente alguns instrumentos ainda pouco conhecidos no Sudeste, como o fole de oito baixos, o ilu (tipo de atabaque que veio das religiões afro-brasileiras), a alfaia de maracatu e a caixa-prato.
O disco é considerado o trabalho mais maduro e o que melhor transmite o perfil da banda. (para baixar clique aqui)
Com a crise geral do mercado fonográfico, o Mestre Ambrósio foi um dos primeiros grupos incluídos na lista dos dispensados pelas gravadoras multinacionais.
Mas a versão dos músicos é outra: “Nosso contrato acabou no dia 30 de outubro de 2001 e a gente não estava mais a fim de continuar na gravadora. E eles também não falaram se queriam renovar”, afirma Hélder Vasconcelos, músico, ator e dançarino.
Hélder diz que a gravadora não fez investimento algum após o lançamento dos discos.
“Eu não entendo. O mercado, a gente já tinha pronto, a questão era ampliar o nosso público. Por que estaríamos no cast se eles não nos achassem vendáveis? E se não nos achavam vendáveis, por que não fizeram nada para mudar isso? Acho que eles arriscam assim: ‘Ah, se por acaso o grupo estourar, é nosso’”, especula.
Os números de vendagem alcançados realmente não justificam a estrutura de uma multinacional: “Eles falaram que vendemos entre 30 e 50 mil de cada disco. Ora, levando em conta apenas o intervalo de tempo maior, nós vendemos isso do disco independente”, destaca Hélder.
O músico vai mais além e joga a hipótese de que o mercado seria fechado não só por referências de sucesso e dinheiro, mas “por uma questão muito mais complicada, além do nosso conhecimento”.
E é categórico: “Não consigo pensar em uma coisa amena para justificar toda essa situação. Tudo é uma coisa só, dentro do esquema de uma política maior. Há um interesse mais sério, que é o do controle cultural”.
Apesar de todos os percalços, tanto Hélder quanto Sérgio Veloso – muito mais conhecido como Siba – fazem questão de dizer que a experiência na Sony foi boa.
“Foram ótimos trabalhos, tudo foi feito nas condições que a gente queria”, diz Helder.
Siba completa: “Não me arrependo nem um pouco da nossa passagem pela gravadora. Mesmo porque foi uma boa experiência para saber o que eu não quero mais”.
Após dez anos de carreira, o Mestre Ambrósio passava por um momento muito especial.
Hélder, Siba, Cassiano, “O” Rocha, Mazinho e Maurício começaram a tocar vários projetos pessoais.
Hélder criou o selo Terreiro Discos, que distribui trabalhos de músicos ligados às tradições.
“É um mercado muito interessante, já temos 45 discos no catálogo”, explica.
Hélder também está à frente do grupo de bumba-meu-boi Boi Marinho.
Outro que trabalha com grupo tradicional – este mais ligado ao maracatu – é “O” Rocha, com o Olho da Rua.
“Ele e Mazinho estão produzindo discos. O mais recente foi o da paulista Renata Rosa. E o Maurício tem se dedicado a um projeto de música e dança com crianças carentes”, detalha Hélder.
Nascido na cidade cosmopolita do Recife, em uma família que até hoje mantém sua forte ligação com suas origens rurais, Siba cresceu entre a cidade e o interior, dois mundos que fazem parte de um mesmo todo.
Desde seus primeiros contatos com as tradições da Mata Norte, começou uma longa história de aprendizado e colaboração, exercitando ao longo dos anos os fundamentos da poesia ritmada para se tornar um dos principais mestres da nova geração do maracatu e dos cirandeiros.
Ao mesmo tempo, como membro da banda Mestre Ambrósio, desenvolveu um estilo musical inovador e singular, da qual o diálogo entre o tradicional e o contemporâneo, o passado e o presente, a rua e o palco são marcas distintas.
Após viver em São Paulo por sete anos, Siba voltou para Pernambuco em 2002 para começar a “Fuloresta”, um grupo formado por músicos tradicionais de Nazaré da Mata, uma pequena cidade com 30 mil habitantes, distante 65 km de Recife.
Seu álbum de estreia, “Fuloresta do Samba”, foi gravado com uma unidade móvel perto de Nazaré, e lançado em 2003, seguido de apresentações em todo o Brasil.
O grupo também fez três turnês europeias entre 2004 e 2006, desenvolvendo com o tempo sua habilidade de adaptar uma música que dura a noite inteira para o formato mais conciso dos palcos.
“Nunca entendemos nosso passado ou nossas tradições como uma gaiola”, diz Siba. “Pelo contrário, nossa tradição nos oferece um vasto vocabulário, e nós nos esforçamos para usá-lo todo dia e a noite toda. É impossível reproduzir a maneira como envolvemos toda a comunidade na poesia e nas danças durante a noite toda, mas na hora ou nos 90 minutos que os festivais oferecem temos uma grande oportunidade de mostrar nosso impacto musical”.
O segundo lançamento de Siba e da Fuloresta, “Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar” (Ambulante Discos, 2007), trazia letras diretas de uma poesia intensa, cirandas, cocos-de-roda e frevos misturados com dubs, guitarras e pianos elétricos e uma orquestra de sopros executando arranjos inovadores, junto a convidados muito especiais, como Céu, Beto Villares, Marcelo Pretto, Fernando Catatau, Isaar França e o cirandeiro Zé Galdino.
Um álbum com um inesperado tom cosmopolita, que extrapolava e questionava as barreiras entre cultura popular e música pop, poesia oral e literatura e o já desgastado contraste entre tradição e modernidade.
Um dos feitos mais notáveis dessa viagem de Siba entre esses mundos aparentemente distintos foi sua parceria com a dupla de graffitti paulista “OsGemeos”, responsáveis pela arte da capa do CD e pela cenografia do DVD, que foi lançado no início de 2008.
Um encontro inusitado com resultados surpreendentes, sugerindo que para entendermos o Brasil contemporâneo, uma abordagem padronizada não é suficiente.
Formado por Siba (voz e percussão), Biu Roque (percussão e voz), Mané Roque (percussão e voz), Cosmo Antônio (percussão e voz), Zeca (percussão), Roberto Manoel (trompete), Galego (trombone) e Bolinha (tuba), o Fuloresta lembra muito aquelas bandinhas de retreta do interior.
Só que no terceiro disco, “Avante”, lançado no ano passado, Siba exagerou.
Para saber mais a respeito – e inclusive baixar o disco – clique aqui.
Simplesmente ducarálio!
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3 comentários:
Oi, estava à procura de uma matéria sobre o Mestre Ambrosio e encontrei o seu blog. Gostei muito. Temos uma preferência em comum.
Se quiser veja meu blog pessoal: parisvertigo.blogspot.
Abraço
Parabéns pela matéria!! acabei de fazer uma compilação de matérias sobre o mestre ambrósio e o Siba, e sua matéria ajudou muito!! vou começar a acompanhar seu blog com mais frequência.
Valeu,
Hélio.
Muito massa mesmo... Queria muito ter ido num show deles...
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