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terça-feira, março 27, 2012

Aula 21 do Curso Intensivo de Black Music: Kanye West


Kanye Omari West, mais conhecido como Kanye West, nasceu em Atlanta, na Georgia, no dia 8 de junho de 1977, mas aos três anos foi viver em Chicago, Illinois, depois do divórcio de seus pais.

Kanye significa “único”, no dialeto suwahili, o idioma banto com o maior número de falantes no planeta.

Ele é filho único de Ray West, um ex-membro dos Panteras Negras e um dos primeiros fotojornalistas negros do Atlanta Journal-Constitution e de Donda West, ex-professora de inglês na Clark Atlanta University e ex-professora no departamento de inglês da Chicago State University, que largou tudo para virar empresária do filho.

Donda também escreveu o livro “Raising Kanye”, onde conta como foi dura a vida para manter Kanye nos eixos.

Depois de frequentar a The American Academy of Art, uma escola para estudantes de arte, Kanye frequentou a Universidade de Chicago, mas desistiu para poder começar a trabalhar na carreira musical.


Kanye já produzia beats para alguns artistas semidesconhecidos quando estava na universidade, mas só veio a ganhar fama muito tempo depois ao produzir músicas que se transformaram em hits de hip-hop e R&B para gente como Eminem, Jay-Z, Janet Jackson, Common, Jadakiss, The Game, Alicia Keys, Foxy Brown, Memphis Bleek, Beanie Sigel, Cam’Ron, Hugh “MC Son” Ryan, Brandy, Talib Kweli, Keyshia Cole, Dilated Peoples, Ludacris, Lupe Fiasco e John Legend.

Incentivado pelo produtor No I.D., que produzia o rapper Common, Kanye começou a samplear antigos hits de soul, lhes dando um novo “sabor”, entre o clássico e o moderno.

Na época, Kanye já era mais que um produtor versátil, era um cantor de soul em potencial, que também sabia cantar rap.

Só que as gravadoras não lhe davam a menor imporância.

O jogo começou a mudar quando Kanye conheceu Damon Dash e Jay-Z, os chefões da Roc-a-fella Records.

Em 2002, depois de produzir quatro faixas de um dos melhores discos de Jay-Z (“The Blueprint”), Kanye começou a trabalhar também com grupos e MCs do rap underground para provar que era um produtor completo.

Ele produziu três músicas para o segundo disco de Talib Kweli (“Quality”), inclusive o single “Get By”, também fez três faixas para o melhor disco do Scarface (“The Fix”), além de uma música para o celebrado “The Lost Tapes”, do Nas.


Em 2004, depois de um longo período de gestação, ele colocou no mercado o seu tão esperado disco solo, “College Dropout”, que trazia participações tanto de nomes do mainstream, como Ludacris e Twista, quanto de nomes do underground, como Mos Def, Talib Kweli e Common.

Ao estourar nas paradas americanas com os hits “All Falls Down” e “Jesus Walk”, Kanye West simplesmente quebrou a banca.

E não parou mais.

O jornalista Pedro Antunes, do Jornal da Tarde, assistiu ao show de Kanye West no SWU do ano passado e registrou o seguinte:

Do céu estrelado e pop formado pela primeira noite do festival SWU – Starts With You, anteontem, em Paulínia (SP), um buraco negro surgiu e engoliu todas as outras estrelas ao seu redor.

Impiedoso, ele desbancou os favoritos do dia com talento e um ego tão grande quanto o sistema solar.

Pior para o rapper Snoop Dogg, cujo show antecedeu Kanye West, e foi destruído por canções profundas e bem produzidas.

Não era um duelo de popularidade, mas, sim, de qualidade.

Os palcos Energia e Consciência, um de frente para o outro, formavam uma espécie de grande arena, com grandiosas batalhas musicais.

Cinco minutos separavam os shows e com quase nenhum atraso – um tempo até curto para o público, que chegou aos 64 mil, ir ao banheiro ou pegar uma bebida.


Snoop Dogg e Black Eyed Peas, no Energia, atraíram um público visivelmente maior, em razão de seus hits radiofônicos, melodias fáceis e pouca originalidade.

Kanye, cuja apresentação integrava a programação do palco Consciência, ganhou pela técnica.

West e Dogg são dois exemplos extremos da cultura hip hop.

O segundo é uma espécie de cafetão do rap.

Em seu show, ele é acompanhado por três dançarinas belíssimas que circulam à sua volta, dançando sensualmente.

As moças começaram a apresentação com roupas de moletom, comportadas como freiras, mas, ao fim de quase uma hora de show, elas já estavam vestidas de enfermeira ninfomaníaca, secretária devassa e outra como dominatrix, com direito até a um chicote de couro nas mãos.

Enquanto isso, Dogg ficava sentadão numa cadeira no meio do palco, com seus óculos chamativos e um microfone personalizado.

Tudo dourado, cravado de brilhantes e com seu nome estampado.


Uma verdadeira ostentação ao sexo e ao dinheiro que, aliados ao livre consumo de drogas, compõem a tríade que alicerça a carreira de Dogg.

O som também desfavoreceu o rapper.

Era quase impossível ouvi-lo em determinados momentos, principalmente naqueles em que o som do baixo aumentava exageradamente.

A bateria também parecia mais uma figuração de tão inaudível.

Mas Snoop Dogg sabe jogar com o público.

Abusou dos hits, como P.I.M.P (“pimp” é cafetão em inglês), Sensual Seduction e Gangsta Luv.


Cantando de maneira desleixada, sequer bagunçando o cabelo, dividido em trancinhas infantis, Dogg colocou o público para pular com hits que têm em parcerias com outros artistas do R&B – e que acabaram por ampliar sua reputação e fama: Beautiful e I Wanna Love You, feitas com Pharrel e Akon. Uma hora de show esteve de bom tamanho.

Menos de cinco minutos após Dogg ter saído, as luzes do palco à frente foram acesas.

O rapper Kanye West parecia disposto a fazer com que todos ali na plateia esquecessem logo da apresentação anterior.

Ele também trouxe dançarinas no palco, 15 delas no total, mas estas mostraram coreografias que iam do balé clássico à dança contemporânea.

Um exagero, é bem verdade.

Mas pode-se esperar de tudo de um sujeito que diz que, se Deus tivesse um iPod, teria as suas músicas nele.

Confiar tanto em si mesmo pode levar à queda, mas afugenta o medo do fracasso.

Amplia as possibilidades.

Não por acaso Kanye West lançou, em dois anos, dois discos que estão na lista dos melhores do ano: My Beautiful Dark Twisted Fantasy, em 2010, e Watch the Throne, de agosto, uma parceria com o também todo-poderoso produtor e rapper Jay-Z.

De My Beautiful Dark Twisted Fantasy, Kanye escolheu sete das 13 canções.

Dentre elas, Dark Fantasy e Power abriram a apresentação de forma arrebatadora.


Enquanto Snoop Dogg cantou com um cenário simples, ele estampou, no fundo do palco, uma tela com a figura de esculturas renascentistas, anjos e demônios numa batalha sem fim.

Um belo pano de fundo para a poderosa Jesus Walks, vencedora do prêmio Grammy de melhor rap em 2005.

O show foi dividido em dois atos: um mais performático e outro mais intimista.

Kanye, arrogante, acha que ele se basta para fazer o público delirar e errou ao trazer parcerias com outros artistas, mas colocando-os em segundo plano.

Run This Town (com Jay-Z e Rihanna), Homecoming (Chris Martin) e E.T. (Katy Perry), com os outros músicos apenas no playback, foram abaixo do esperado.


Kanye West percebeu isso a tempo: durante Gold Digger, aquela em que ele incluiu samples de I’ve Got a Woman, de Ray Charles, o rapper parou nos primeiros versos e pediu para que começasse tudo de novo: “Eu quero vocês loucos, entenderam? Vamos tentar de novo”.

O público atendeu ao pedido.

Mas a estupenda interpretação de Runaway, outra do disco do ano passado, compensou qualquer cansaço.

Em quase 10 minutos de execução, ele é romântico: “Eu sou um solitário que viaja pelo mundo, sozinho. Vocês aí que têm alguém, prestem atenção. Os amigos vão dizer que ele fez isso, ou ela fez aquilo. Esqueçam e me façam um favor: se vocês amam alguém nesta noite, não deixe ele escapar”.

Casais se abraçaram e Kanye West, num palanque em cima do palco, sorriu como um padre que acaba de celebrar um casamento.

Em duas horas de show, o rapper mostrou segurança e canções firmes.

Arrogantes como ele, claro, mas que funcionaram bem.

E, se Deus vai colocar as canções dele em seu iPod, é uma discussão religiosa e filosófica complexa demais.

Mas, certamente, alguns fãs de Snoop Dogg devem fazer isso depois deste SWU.

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