Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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domingo, março 18, 2012
Aula 2 do Curso Intensivo de Black Music: Rhythm & Blues
O final da Primeira Guerra Mundial marcou também o estouro dos gramofones – o tataravô do CD player – e a consolidação do mercado de discos.
Gravadoras como Victor, Decca, Paramount e Columbia expandiram seus bem-sucedidos negócios do norte para o sul dos Estados Unidos e começaram a garimpar novidades no sul (pobre) para vender no norte (rico).
Os primeiros alvos dos discos de blues eram Chicago, Detroit e Nova York, principalmente o bairro do Harlem.
Não por acaso, o primeiro blues a virar disco foi gravado em Nova York pela cantora Mamie Smith, em 1920.
A música “Crazy Blues” superou todas as expectativas, vendendo 75 mil cópias por semana.
Com o sucesso, Mamie voltou ao estúdio três vezes em três meses e virou uma verdadeira febre entre os moradores dos guetos.
A partir de 1921, todas as grandes gravadoras americanas passaram a ter seus “race records” (“discos de raça”), subdivisões que lançavam discos de músicos negros para o consumo da população dos guetos urbanos do sul.
A primeira onda de sucesso em vendas de discos foi capitaneada por cantoras como Bessie Smith, Gertrude Ma Rainey e Alberta Hunter.
Mas somente em 1925 começa uma regionalização que marcaria o blues nas décadas seguintes.
Nascia o blues do Delta (do rio Mississipi), de Chicago, de Memphis, do Texas, de Saint-Louis, de Nova Orleans e da Costa Leste.
Até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o mais importante celeiro do blues era a região do Delta do Mississipi.
Ali surgiram bluesmen fundamentais como Charlie Patton, Tommy Johnson, Son House, Skip James, Big Joe Williams (foto) e o lendário Robert Johnson.
Apesar de ter sido um dos últimos a aparecer, Robert Johnson foi o maior divulgador do blues do Delta.
E sua vida tornou-se a lenda mais famosa da história do blues.
Johnson nasceu em Hazlehurst, Mississipi, fruto de uma relação extraconjugal de sua mãe, abandonada logo depois por seu pai, um trabalhador rural.
Ele seguiu o mesmo caminho do pai e casou-se quando tinha 16 ou 17 anos.
Depois da morte de sua mulher, enquanto esta tentava dar à luz, sua vida mudou completamente.
Johnson se entregou ao blues, primeiro tocando gaita e depois, violão.
Ele logo começou a viajar pela região do Delta, apresentando-se em todo tipo de lugar.
Quando sua fama começou a crescer, o bluesman sumiu por seis meses.
Há quem diga que ele viajou pelo país em busca de seu pai.
Mas a lenda conta que, nessa época, Johnson estava fechando seu acordo com o diabo.
O negócio era simples: em troca de sua alma, Johnson tornar-se-ia o maior bluesman da área.
O próprio músico alimentava a lenda (ou seria verdade?), compondo canções como “Crossroads” – em que narra seu “encontro” com o Demo numa encruzilhada – e “Devil Blues”, o blues do Demônio.
De fato, ele gravaria suas músicas logo depois e viveria um breve período de sucesso.
Mas Johnson morreu com apenas 24 anos, em 1938.
As testemunhas de sua agonia colocaram ainda mais lenha na fogueira.
O bluesman teria caído de joelhos, latido e uivado como um cão antes de morrer, sem nenhuma causa aparente.
Já os historiadores acreditam que Johnson foi envenenado por um marido traído. Seja como for, o mito eternizou-se.
Desde então, Robert Johnson passou a ser venerado por todas as gerações de músicos de blues.
Seus discos são item obrigatório de qualquer coleção do estilo e suas músicas foram regravadas incontáveis vezes.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os negros foram para as frentes de batalhas como os brancos e trabalharam nas fábricas como os brancos.
Surgia uma promessa de integração racial. Pura ilusão.
Terminada a guerra, os negros encontraram o mesmo cenário na volta para casa.
Eles então passaram a se isolar cada vez mais em bairros próprios e, pouco a pouco, foram desenvolvendo uma consciência racial, que desembocaria nos movimentos pelos direitos civis, nos anos 60.
Por essa época, o mercado de discos ainda rotulava a música negra de “race music”, expressão politicamente incorretíssima.
Para dourar a pílula, gravadoras começaram a usar novos eufemismos como “ebony” (MGM), “sepia” (Decca e Capitol) e “rhythm & blues” (RCA Victor).
Em junho de 1949, a revista Billboard passou a empregar o termo da RCA e o estilo ficou conhecido, daí em diante, como rhythm & blues.
O rhythm & blues na verdade era uma forma de blues urbano mais rápido, usando guitarras e eventualmente baixos, eletrificados.
Abria também sua instrumentação para saxofones estridentes e roucos, imitando os gritos e – contrariando a índole melódica do instrumento – ajudando a marcar o ritmo frenético da nova música.
O nome rock’n’roll – que definiu o som mais marcante do século – veio da letra de um velho blues de 1922, regravado depois da guerra por Big Joe Turner: “My baby she rocks me with a steady roll”, ou seja, “minha gata me embala num balanço legal”.
Não é preciso ter nenhuma bola de cristal para adivinhar que o bluesman estava descrevendo uma trepada.
Quem chamou esse estilo de rock’n’roll, em 1951, foi Alan Freed, um admirador ferrenho de Beethoven e Wagner, que produzia um programa noturno de música clássica para uma rádio de Cleveland, Ohio.
Um dia, um amigo o levou quase à força para visitar uma loja de discos freqüentada pela juventude local.
Freed ficou pirado quando viu jovens casais dançando num embalo legal ao som de uma música de que ele sempre ouvira falar mal: o rhythm & blues.
A continuação dessa história, que mostra o desdobramento “branco” do rhythm & blues, pode ser acompanhado no livro “Rock: a música que toca”, publicado pelo Coletivo Gens da Selva – Editora Valer, em 1996, e reeditado em 2006.
Uma parte do material está postada aqui no blog, sob o título de “Curso Intensivo de Rock”, nos arquivos de julho de 2011 para trás.
O desdobramento “negro” é o que iremos mostrar a seguir.
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