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quinta-feira, dezembro 05, 2013

Conhece o Lulu?


Chico Anysio, como Professor Raimundo, faz o clássico gesto de avaliação dos perfis no Lulu

Ruy Goiaba

Se você também passa o dia nas redes sociais e só volta pra casa pra dormir – mais ou menos como o Zé Dirceu cumprindo pena no semiaberto –, sabe que o grande assunto do último fim de semana foi o Lulu.

“Mas que Lulu?”, indaga o leitor distraído (pergunta, aliás, com enorme potencial pra se tornar a nova “Mas que Mário?”). “Lulu do Bolinha? Lulu daquele filme com a Louise Brooks? Ou aquela outra de ‘Ao Mestre com Carinho’? Lulu Santos? Lulu Reed?”

Lulu, oh desplugado leitor, é aquele aplicativo que permite às moças avaliar anonimamente rapazes que tenham perfil no Facebook, fazendo comentários e dando notas.

É tipo um Guia Quatro Rodas com opiniões sobre a comida, o serviço de quarto e outros itens dos hotéis – e você, ser humano dotado de cromossomos XY e perfil no Feissy, é a espelunca em avaliação.

Disseram que, se fossem rapazes avaliando moças, algumas feministas já teriam convocado a Al Qaeda pra derrubar as Torres Gêmeas (Twitter e Facebook); que esse negócio de dar nota pros meninos é pura sexta série; e que a vida não virtual já oferece esse aplicativo pra homens e mulheres, com o nome de “bar”.

E o Lulu mal chegou ao Brasil, mas posso apostar que a produção de veneno nele já seja suficiente pra abastecer o Butantan por uns três anos.


Mas, sinceramente, eu acho é pouco.

Por que não sair da internet e levar os métodos do aplicativo para as ruas, como nas manifestações de junho (aquelas que renderam lindas fotos no Instagram)? “Ah, porque é só uma brincadeira.”

Não, minhas amigas! Não se derruba a Bastilha da objetificação feminina sem sair de trás do laptop.

Chegou a hora da revanche – e, como gosto de estar sempre do lado DO BEM, faço algumas sugestões.

Plaquinhas – Juradas mascaradas à moda do Black Bloc (para manter o anonimato) vão até a casa – ou faculdade, ou trabalho – do alvo e levantam plaquinhas de avaliação, como se fosse concurso de saltos ornamentais (de certo modo, é).

As placas podem incluir notas (0,5), o sinal de joinha do Facebook virado de ponta-cabeça, a foto do Renato Aragão dizendo “eu vou se suicidá” ou aquele gesto que o Professor Raimundo fazia quando falava “e o salário, ó”.

Apuração do Carnaval – A comissão julgadora leva o locutor da apuração das escolas de samba para ler em voz alta – MUITO alta – as notas dos avaliados.

“ACADÊMICOS DO FULANINHO DE TAL! QUESITO: HIGIENE PESSOAL! NOTA: ZERO VÍRGULA SETENTA E CINCO!”
(Ninguém manda não cortar as unhas dos pés. E, como não há homem perfeito, não precisamos ter o trabalho de ressuscitar Carlos Imperial pra ele gritar DEEEZ, NOTA DEEEZ!)

O carro da pamonha – Tempos atrás, o alto-falante desse carro (“são as pamonhas de Piracicaba, é o puro creme do milho!”) podia ser ouvido em lugares onde nem Deus chegava.

Podemos resgatar essa tecnologia – não para anunciar as pamonhas, mas para ajudar as mulheres a evitar OS pamonhas.

“Fulano combina cinto com sapato caramelo! Puro creme da cafonice!”, “Sicraninho de Tal, safado, sem-vergonha! É o puro creme da canalhice!”, “Beltrano gosta de Romero Britto! Fujam!”

E por aí vai – apenas modestas propostas para deixar a vida da gente mais parecida com o Facebook, aquele lugar adorável onde amigos e parentes conseguem nos constranger ainda mais do que na vida real.

(Moral da história? Objetificação no Lulu dos outros é refresco.)

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