Chico Anysio, como
Professor Raimundo, faz o clássico gesto de avaliação dos perfis no Lulu
Ruy Goiaba
Se você também passa o dia nas redes sociais e só volta pra
casa pra dormir – mais ou menos como o Zé Dirceu cumprindo pena no semiaberto
–, sabe que o grande assunto do último fim de semana foi o Lulu.
“Mas que Lulu?”, indaga o leitor distraído (pergunta, aliás,
com enorme potencial pra se tornar a nova “Mas que Mário?”). “Lulu do Bolinha?
Lulu daquele filme com a Louise Brooks? Ou aquela outra de ‘Ao Mestre com
Carinho’? Lulu Santos? Lulu Reed?”
Lulu, oh desplugado leitor, é aquele aplicativo que permite
às moças avaliar anonimamente rapazes que tenham perfil no Facebook, fazendo
comentários e dando notas.
É tipo um Guia Quatro Rodas com opiniões sobre a comida, o
serviço de quarto e outros itens dos hotéis – e você, ser humano dotado de
cromossomos XY e perfil no Feissy, é a espelunca em avaliação.
Disseram que, se fossem rapazes avaliando moças, algumas
feministas já teriam convocado a Al Qaeda pra derrubar as Torres Gêmeas
(Twitter e Facebook); que esse negócio de dar nota pros meninos é pura sexta
série; e que a vida não virtual já oferece esse aplicativo pra homens e
mulheres, com o nome de “bar”.
E o Lulu mal chegou ao Brasil, mas posso apostar que a
produção de veneno nele já seja suficiente pra abastecer o Butantan por uns
três anos.
Mas, sinceramente, eu acho é pouco.
Por que não sair da internet e levar os métodos do
aplicativo para as ruas, como nas manifestações de junho (aquelas que renderam
lindas fotos no Instagram)? “Ah, porque é só uma brincadeira.”
Não, minhas amigas! Não se derruba a Bastilha da
objetificação feminina sem sair de trás do laptop.
Chegou a hora da revanche – e, como gosto de estar sempre do
lado DO BEM, faço algumas sugestões.
Plaquinhas –
Juradas mascaradas à moda do Black Bloc (para manter o anonimato) vão até a
casa – ou faculdade, ou trabalho – do alvo e levantam plaquinhas de avaliação,
como se fosse concurso de saltos ornamentais (de certo modo, é).
As placas podem incluir notas (0,5), o sinal de joinha do
Facebook virado de ponta-cabeça, a foto do Renato Aragão dizendo “eu vou se
suicidá” ou aquele gesto que o Professor Raimundo fazia quando falava “e o
salário, ó”.
Apuração do Carnaval
– A comissão julgadora leva o locutor da apuração das escolas de samba para ler
em voz alta – MUITO alta – as notas dos avaliados.
“ACADÊMICOS DO FULANINHO DE TAL! QUESITO: HIGIENE PESSOAL!
NOTA: ZERO VÍRGULA SETENTA E CINCO!”
(Ninguém manda não cortar as unhas dos pés. E, como não há
homem perfeito, não precisamos ter o trabalho de ressuscitar Carlos Imperial
pra ele gritar DEEEZ, NOTA DEEEZ!)
O carro da pamonha
– Tempos atrás, o alto-falante desse carro (“são as pamonhas de Piracicaba, é o
puro creme do milho!”) podia ser ouvido em lugares onde nem Deus chegava.
Podemos resgatar essa tecnologia – não para anunciar as
pamonhas, mas para ajudar as mulheres a evitar OS pamonhas.
“Fulano combina cinto com sapato caramelo! Puro creme da
cafonice!”, “Sicraninho de Tal, safado, sem-vergonha! É o puro creme da
canalhice!”, “Beltrano gosta de Romero Britto! Fujam!”
E por aí vai – apenas modestas propostas para deixar a vida
da gente mais parecida com o Facebook, aquele lugar adorável onde amigos e
parentes conseguem nos constranger ainda mais do que na vida real.
(Moral da história? Objetificação no Lulu dos outros é
refresco.)
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