Pesquisar este blog

segunda-feira, dezembro 16, 2013

Rappers homossexuais fazem sucesso no mais homofóbico dos gêneros musicais


O rapper Caushun diz que adora sentar numa boneca

O rap, estilo de música nascido nos bairros negros dos Estados Unidos, ficou restrito aos guetos por mais de duas décadas.

O ritmo só foi inteiramente absorvido pela indústria musical no fim dos anos 90, quando caiu no gosto dos consumidores.

Eminem, o rapper de maior sucesso da atualidade, com mais de 30 milhões de discos vendidos, é um branquelo.

O que não mudou no rap foram as letras raivosas, cheias de ódio à polícia, apologia da violência e abuso nos palavrões.

O rap tem sido também o mais homofóbico dos gêneros musicais – Eminem canta versos como “Vou te apunhalar se você for gay”, para citar o mais leve.

A surpresa é que a nova sensação do rap nos Estados Unidos, o nova-iorquino Caushun, é homossexual e declara isso abertamente em sua música.

Há dois anos, ele lançou o que chamou de “o primeiro CD assumidamente gay de rap”.

Seu sucesso The Gay Rapper’s D-Lite (ou o Deleite do Rapper Gay) – uma canção que cita os artistas idolatrados pelos homossexuais – ficou três semanas entre os mais pedidos na MTV americana.

Caushun lançou seu segundo disco, Shock and Awe (Choque e Espanto), durante a Parada Gay de Nova York, neste ano.

Caushun era cabeleireiro no hotel The Plaza, o preferido das celebridades em Nova York.

Lá, cuidou dos cabelos da atriz e cantora Jennifer Lopez, que o apresentou a Russell Simmons, o megaempresário do rap. Foi de Simmons a idéia de vender o artista iniciante como o pioneiro de um novo gênero musical, o rap gay.

Era para ser apenas uma jogada de marketing, mas acabou assumindo um sentido de contestação social.

“O rap sempre foi um veículo para expressar formas marginalizadas pela sociedade. Não poderia ser diferente com a comunidade gay”, diz a professora Cheryl Keyes, do departamento de musicologia da Universidade da Califórnia.

O sucesso de Caushun ajudou a promover outros rappers homossexuais.

Cinco anos atrás, a rapper Queen Pen fez sucesso com a música Girlfriend.

A letra era convencional: vangloriava-se por ter dormido com a namorada de alguém.

A diferença é que a namorada era roubada por outra mulher.

Quando a polêmica aumentou, Queen Pen desconversou: disse que se tratava apenas de rimas e se recusou a falar da própria sexualidade.

De lá para cá, surgiu meia centena de rappers gays.

As letras deles são tão violentas quanto as de qualquer rapper – com a diferença de que não atacam os homossexuais.

“Decidi ser real / Ser quem eu sou – uma rainha”, canta o rapper MC DutchBoy.

Em Nova York, há alguns meses, houve três dias de shows e discussões sobre o futuro do rap gay.

Evidentemente, os rappers tradicionais ainda torcem o nariz para os novos companheiros de viagem.

“Faz parte da mítica que o rapper seja durão. Quem vai querer investir dinheiro em um rapper gay?”, diz Frank Williams, editor da revista de hip hop The Source.


O rapper Mykki Blanco é um exímio engolidor de cobra

O rapper Michael David Quattlebaum Jr., mais conhecido como Mykki Blanco, chocou muita gente e agradou tantos outros ao lançar o clipe de seu primeiro single, Wavvy, em que aparece vestido como mulher.

Em 2012 lançou o EP Mykki Blanco & the Mutant Angels e no começo do ano divulgou a Cosmic Angel: The Illuminati Prince/ss.

“Oh this fag can rap? Yeah they saying that they listening” (Ah, essa bicha pode fazer rap? sim, estão dizendo que estão ouvindo) diz a letra de Wavvy, uma das muitas que embalam a luta de outros artistas do gênero, que se irritam pelo fato de sua orientação sexual chamar mais atenção do que o seu trabalho.

O rap de Blanco, alter ego do cantor e poeta Michael David Quattlebaum, também é uma resposta a declarações recheadas de intolerância como a de Snoop Dogg, que durante uma entrevista ao site Huffington Post afirmou que “não há espaço para gays no mundo do hip hop”.

Na esteira do pioneiro Mykki Blanco, uma onda de artistas gays como o duo nova-iorquino House of Ladosha, as lésbicas do Theesatisfaction e o transexual Rocco Katastrophe não planejam restringir o seu trabalho aos guetos/redutos gays e avançam com força em direção ao mainstream.


O rapper Frank Ocean ganhou o respeito do casca grossa 50 Cent

Um deles já chegou lá. Frank Ocean, membro do coletivo Odd Future (do qual também faz parte Syd tha Kid, que é abertamente lésbica), saiu do armário em junho de 2012, semanas antes de lançar seu primeiro e elogiado álbum solo channel ORANGE, em que fala sobre o amor que sente por outro homem.

Em faixas como Bad Religion, Pink Matter e Forrest Gump, Ocean canta sobre paixão e faz referências óbvias a ‘ele’, e não ‘ela’.

O fato é que uma grande cena estava a todo vapor, antes mesmo das declarações de Ocean.

Em março do mesmo ano, o produtor Diplo lançou a faixa Express Yourself, em parceria com o rapper gay Nicky Da B.

Mais tarde foi a vez de Azealia Banks assumir sua bissexualidade e do cantor Le1f, produtor do coletivo Das Racist, lançar sua mixtape de estreia, Dark York, que recebeu bons elogios da crítica especializada.

A aceitação dos novos nomes do rap tem sido lentamente conquistada.

Apesar da homofobia explícita ainda percorrer gêneros como o reggae, o rock e o metal, o rap permanece o mais intolerante.

Basta lembrar rimas de nomes como Eazy E (“This is one faggot that I had to hurt” – “Essa é uma bicha que eu tive que machucar”), Eminem (“Hate fags? The answer’s yes” – “Odeia bichas? a resposta é sim”) e Lil Wayne (“I ain’t got no worries, no, Frank Ocean, I’m straight” – “Não estou preocupado, Frank Ocean, sou hétero”), para absorver o pensamento preconceituoso de grandes astros da cena. 

Em contrapartida, alguns membros da comunidade hip hop, como 50 Cent, condenam qualquer tipo de preconceito no mundo do rap: “Qualquer um que tenha qualquer problema com Frank Ocean é um idiota”.

Em resumo, os artistas da galeria acima estão ligados por sua sexualidade, mas ser gay não é um gênero musical. É apenas uma faceta da personalidade de cada artista e uma forma de renovar o hip hop.

Nenhum comentário: