Nascido em Humaitá, Plínio Ramos Coelho era o líder de maior importância entre os políticos amazonenses que se tinham revelado com a queda da ditadura getulista em 1945.
Advogado e jornalista, ele levantava as massas com a sua oratória brilhante e a sua posição firme e vigilante em defesa dos interesses dos trabalhadores e da moralidade da administração pública – o que lhe valeu ser chamado de “o Ganso do Capitólio”.
Elegera-se sucessivamente deputado estadual constituinte em 1947 e deputado federal em 1950, sempre sob a bênção de Álvaro Maia, mas não tardaria a romper a aliança com o pessedismo e tornar-se o mais duro crítico do seu ex-mentor.
Ao assumir a liderança da oposição comandando o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), ele se lançou candidato ao governo contra Ruy Araújo, o candidato da situação.
A futura consagração de Plínio Coelho nas urnas sinalizaria o ocaso da longa trajetória política de Álvaro Maia.
Em agosto de 1954, Plínio Coelho realizou um gigantesco comício no bairro da Praça 14, cujas ruas esburacadas, sem iluminação e tomadas pelo mato eram uma fonte permanente de dor de cabeça para os moradores.
– Se for eleito, minha gente humilde da Praça 14, eu prometo iniciar o saneamento das finanças públicas do Estado para readquirirmos nossa capacidade de investir na infraestrutura e avançarmos rumo à justiça social – vociferou Plínio. “Para tanto, vou criar uma série de empresas de economia mista, como Celetramazon, Papelamazon, Alimentamazon, Telamazon, Cimentamazon e Transportamazon. Essas empresas vão significar a redenção do homem da capital e de nossos irmãos desassistidos nos grotões do interior”.
O discurso seguiu nesse diapasão, entre o técnico e o messiânico.
O povão não entendia direito, mas aplaudia com fervor quase religioso.
Um assessor discretamente cochichou para o orador sobre aquilo que a população realmente desejava ouvir: uma solução para o problema das ruas do bairro.
Plínio não contou conversa:
– Por último, meus amigos, eu quero reafirmar que uma das minhas primeiras medidas como governador será fazer um arruamento à altura deste bairro tão querido e bonito. Quem votar no PTB vai ficar de cima! Podem anotar! Quem votar no PTB, quem votar comigo, vai ficar de cima! Vai ficar de cima!
Os urros e vivas da multidão davam pra ser ouvidos no Seringal-Mirim.
O bairro da Praça 14 votou maciçamente em Plínio Coelho, que acabou sendo eleito.
Em junho de 1955, uma patrulha mecanizada do DER-AM se estabeleceu no bairro para começar a fazer o arruamento.
Seis meses depois, quando a patrulha se deslocou para repetir a dose no bairro da Cachoeirinha, a Praça 14 estava completamente mudada.
As casas da rua Nhamundá, por exemplo, estavam agora a três metros de altura do nível da rua.
Idem as casas das ruas Tarumã, Japurá, Apurinã, Afonso Pena etc.
O novo governador havia cumprido a promessa: fez um arruamento profundo, à altura da expectativa dos eleitores, e o povão agora estava “de cima”...
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