Os olhos ambos esbugalhados à força não de disfunção da tiroide, mas de agentes externos mesmo (a popular diamba, birra, bengue, pango, jererê, maria joana, kaya, mato, surema, pererê, fumacê, dirijo. Vocês sabem).
Chamavam-no Milton Ilha Rasa, sutil referência ao farol que lá se ergue.
O Milton era uma espécie de São Cristovão: grandalhão e santificado, só queria dar os tainhas dele e cantar samba raiado a pedido de João Gilberto, que adora cutucar folclore.
Uma noite, João está reunido no Bar Restaurante Zeppelin, central de atividades gratuitas da extinta Ipanema, com dois empresários interessados em lhe engordar os ganhos, na época ainda magros.
Entra Milton, vê o João, encaminha-se na sua direção. O cantor corta a investida do Milton com um olá gelado, distante, irreconhecível.
O visitante, desapontado, senta-se duas ou três mesas adiante e se põe, na cara de pau, a enrolar lentamente um charo.
Quando termina a fase industrial da operação, passa ao consumo.
Acende a beata, escancara mais os olhos e ocupa todo o espaço do bar com a voz colossal, voz de assombração, e oferece ao vizinho:
– Ô João! Vai num fuminho?
Isso alto. Apesar de usuário de carteirinha, João empalidece, pede licença, levanta-se, aproxima-se do Milton e diz baixo:
– Muito obrigado, Milton. Obrigado por mim, pela Astrud, pelo Marcelo.
O Milton arremata a grossura:
– Atacando de Santíssima Trindade é, bicho?
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