As famílias de colonos, retirantes, miseráveis, açoitados pela seca, ocuparam uma parte ínfima das grandes terras do latifundiário Janjão, no sertão pernambucano, e ele foi expulsá-los de lá.
– Mas o padre disse que a terra pertence a Deus – disse um mais afoito. “Que a terra é de todos...”
– Isso é lá pras negas dele! – berrou Janjão, que ficou injuriado e foi à aldeia tomar satisfações com o padre.
O padre era um holandês moderno, desses que usam calça jeans, óculos ray-ban, fumava sem parar e, para dar um ar de bacanidade ao ritual, soltava fumaça pela venta.
Janjão o encontrou no meio da missa, instruindo os fiéis com um sermão, e foi entrando mais os dois jagunços, chapéu na cabeça, papo-amarelo na mão, anunciando:
– Vou-lhe dizer uma coisa, baitola fio da égua...
– Isto aqui é a Casa de Deus! – protestou o padre, erguendo um crucifixo. Pura perda de tempo.
– A terra é minha, comprei com meu dinheiro e quem aparecer lá sem minha licença vou lhe mostrar o que sucede.
E deu dois tiros para o ar. Não satisfeito, ordenou ao povo que estava na igreja, perplexo.
– Agora, quero ouvir todo mundo cantando Ó Jardineira.
E em Rio Branco , ex-Arcoverde – ou vice-versa –, um coro aterrorizado entoou inteira a marchinha Jardineira composta por Humberto Porto e Benedito Lacerda para o carnaval de 1939, regido pela competente batuta 44 do maestro Janjão.
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