O cantor e compositor Aroldo Melodia fez parte do dream team da União da Ilha, ainda que a escola não tenha ganha tantos títulos como a seleção de basquete americana. Na verdade, não ganhou nenhum.
Mas ele foi personagem importante da melhor fase da agremiação: a segunda metade dos anos 70, quando a tricolor subiu para o grupo especial e se projetou com seu estilo bom, bonito e barato, em contraste com a pompa de escolas tradicionais como a Mangueira e ricas, como a Beija-Flor de Nilópolis.
Se as imagens de 1977 (exemplares daquela época) eram de balões de gás, carrossel e pranchar de isopor, a voz de Aroldo compunha a cena: com expressão bem-humorada, foi o melhor intérprete para o lirismo de “Domingo”, que falava do lazer do fim de semana, enquanto outras preferiam temas históricos e grandiosos.
O grito de guerra “Alô, bateria! Segura marimba! Minha Ilha! Minha Ilha!” também fez a diferença: imagine se Jamelão desceria do pedestal para fazer algo do gênero.
A União da Ilha ficou em terceiro lugar em 1977, apesar do sucesso de público, que gritou “Já ganhou! Já ganhou” do princípio ao fim, e de crítica: recebeu o Estandarte de Ouro de melhor escola e o de melhor samba-enredo.
A campeã foi a Beija-Flor, mas para insulanos da antiga aquele desfile puxado por Aroldo Melodia será sempre inesquecível.
Aroldo Melodia começou a se apresentar em Manaus a pedido de Carriço, então presidente da Sem Compromisso, tendo gravado um dos mais bonitos sambas-enredo da escola, o famoso “Hotel Cassina”.
Aqui ele se enturmou com a moçada do pagode e ficou literalmente apaixonado pela “jardineira” da dona Englantina, tia do Edu do Banjo.
Sempre que se preparava para voar para Manaus, ele telefonava antes pedindo para o prato ser providenciado.
Aquela mistura de jabá, jerimum de leite, chouriço, maxixe, quiabo, couve picada e carne-seca deixavam o sambista em estado de graça.
Numa dessas viagens, Reinaldo Buzaglo foi encarregado de apanhá-lo no aeroporto, por volta do meio-dia, mas por conta de problemas técnicos em Brasília, o voo atrasou por quase duas horas.
Aroldo Melodia desceu da aeronave vazado de fome.
Os dois se mandaram para a casa da dona Englantina, onde uma roda de pagode já estava formada. A “jardineira”, entretanto, ainda não dera sinal de vida.
Rinaldo e Aroldo estavam distraindo a fome com uma garrafa de conhaque Palácio.
Por volta das três da tarde, completamente gorozado e faminto, Aroldo Melodia foi na cozinha pegar um copo limpo, viu uma panela fumegante no fogo e não teve dúvidas: levantou a tampa, encheu um prato e pôs-se a comer avidamente.
Notando a ausência do parceiro, Rinaldo foi ver o que estava ocorrendo e também não teve dúvidas: encheu um prato e pôs-se a comer gulosamente.
Como a fome era tirana, cada um deles ainda repetiu mais dois pratos. Quase secaram a panela.
Aí, saciados e satisfeitos, voltaram para a roda de pagode, onde se refestelaram em cadeiras de balanço de macarrão.
Dez minutos depois, dona Englantina chamou os pagodeiros para a mesa que a “jardineira” estava sendo servida.
Aroldo e Rinaldo agradeceram, explicando que já haviam comido na cozinha e que a comida estava verdadeiramente deliciosa. Estavam tão cheios que estavam com medo de explodir.
Intrigada, dona Englantina foi até a cozinha ver o que estava acontecendo. Ela quase caiu pra trás.
Os dois “glutões” haviam detonado a comida que estava sendo preparada para as duas cadelas pastor alemão existentes na casa: picadinho de bobó, com arroz, carne de cabeça e ração seca pra cachorro da marca Friskies.
Confundir aquela pasta horrorosa com uma suculenta “jardineira” só mesmo se os dois sujeitos estivessem pra lá de Marrakesh.
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