Agosto de 1970. O artista plástico Afrânio de Castro desce do ônibus na rua Sete de Setembro e começa a caminhar em direção ao Café do Pina, na praça da Polícia, onde se reuniam os intelectuais do Clube da Madrugada.
De longe, o troglodita avistou um casal que discutia e, por simples curiosidade, resolveu se aproximar dos brigões.
A mocinha, jovem e simpática, parecia querer explicar alguma coisa, que o outro não deixava, ameaçando a todo instante de esbofeteá-la.
De pequena estatura e visivelmente embriagado, o sujeito esculhambava a mocinha, agressivamente, com toda sorte de palavrões.
Ela, intimidada, já não falava nada. Limitava-se a colocar as mãos em frente ao rosto, visando defender-se de possíveis ataques físicos do agressor.
De repente, o sujeito deu um tapão no pé do ouvido da mocinha, quase a arremessando no chão.
Vendo aquilo, Afrânio de Castro nem pensou duas vezes.
Completamente transtornado, ele suspendeu violentamente o agressor nos braços, acima da sua cabeça e, soltando verdadeiros gritos de guerra, saiu correndo com ele em direção à piscina existente na praça, onde o atirou, com todo o ímpeto e a fúria de um troglodita contrariado.
Assombrado com o que acabara de acontecer, o rapaz, de olhos arregalados, a roupa e os sapatos encharcados, saltou pelo outro lado da piscina e saiu numa correria desenfreada, como se tivesse acabado de ver o cão chupando manga, até sumir no meio da multidão.
Como nos filmes de bang-bang, Afrânio de Castro, o mocinho vingador de damas indefesas, foi recepcionado no Café do Pina com muitas palmas e gritos de “vivas” dos presentes.
Ele também recebeu um forte abraço de Rosinha, a jovem agredida, que passou a namorá-lo a partir daquele dia e se tornou, ao que se sabe, o primeiro e único amor que o artista plástico teve em vida.
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