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sexta-feira, julho 09, 2010

Men of certain age: a nova aposta arriscada de Romano



Paulo Serpa Antunes

Ray Romano foi o primeiro comediante após Jerry Seinfeld a chegar ao topo. Eu tenho pena deles. Sério. Tenho medo do sucesso. Tenho medo de que, quando se chega lá em cima, lá no cume, logo após aquele suspiro de alívio, logo após o coração se encher de realização e desfrutarmos aquele dose imensa de felicidade, o cérebro dispare uma sinapse assustadora, lançando a pergunta: e agora?

Assim como Seinfeld, Romano tem mais dinheiro do que jamais conseguirá gastar em vida. Romano não precisa mais trabalhar. Romano pode fazer o que quiser. Quer dizer, em termos. Porque Romano, ao conduzir com brilhantismo por nove anos Everybody Loves Raymond, chegando ao alto da montanha, ele ganhou um bem precioso e frágil, chamado credibilidade.

Romano é relativamente jovem, não pode ficar parado, se aposentar. Mas cada movimento é um risco, e se a credibilidade se perde, quebra, desaparece? O que fazer?

Ele decidiu seguir os passos do Seinfeld. Primeiro sumiu da mídia por um tempo, pra diminuir a pressão. Depois percebeu que o caminho é fazer algo totalmente diferente do que fazia. Diversificar. Seinfeld fez desenho animado, tentou roubar alguns milhões do Bill Gates, relembrou os velhos tempos ao lado do Larry David e parece que vai investir em reality show.

Romano decidiu partir pro drama. E assim nasceu Men of a Certain Age.

O título da série, que estreou na segunda-feira, dia 7 de dezembro do ano passado, no canal americano TNT, é auto-explicativo. Men of a Certain Age gira em torno do universo masculino, em especial da vida de três baby boomers, membros desta geração de norte-americanos que comandou a economia do mundo e ditou as tendências culturais e, bom, não se deram por conta disto na época. Hoje assistem aos X e aos Y tomar conta do mundo que um dia foi deles e se debatem para recuperar a identidade e a dignidade perdida depois da crise financeira.

O tema é ótimo. E arriscado. Depois que Sex and the City se tornou uma máquina de fazer dinheiro muitos produtores pensaram: e se fizermos uma versão masculina, com homens de meia idade? Veja bem, a princípio a ideia é ótima, e comercialmente espetacular – estamos falando de fazer um show para esta horda de norte-americanos que assistem muita TV (Internet é para os jovens) e dão índices de audiência gigantescos para o Sunday Night Football e NCIS.

O melhor seriado nesta linha foi a comédia britânica Manchild. Houve recentemente uma tentativa de se fazer uma versão norte-americana, que ficou no piloto. Na época de Sex and the City tivemos The Mind of the Married Man, muito honesta, mas um pouco sem gás e às vezes um pouco rude. De lá pra cá esta temática vai e volta, geralmente resultando em séries medíocres como Big Shots ou estas comédias sem graça dos canais de TV paga, como Californication.

Men of a Certain Age, felizmente, consegue se descolar das acima logo na saída. Digo mais, ela se distingue já na vinheta de abertura, que me conquistou com imagens mostrando a infância dos três protagonistas, emulando de forma mais saudosa e menos grandiosa a bela abertura de Anos Incríveis. As imagens sugerem que o tema do universo masculino será abordado com sensibilidade. E a sensibilidade segue ao longo de 42 minutos, no roteiro despretensioso, na boa direção de atores, na trilha sonora setentista, na fotografia inteligente (belos planos fechados, sempre buscando as expressões faciais e as rugas dos atores).



Men of a Certain Age - Piloto

Dito isto vem o pavor de que Men of a Certain Age seja chata. Não, não é. É uma dramédia, cujos momentos cômicos funcionam razoavelmente bem no episódio piloto. Quem leu o livro de Ray Romano “Tudo e Mais uma Surpresa” (a venda no Submarino, recomendo), sabe que ele é muito bom stand up comedian, dono de um humor leve, ingênuo, construído em torno da observação do comportamento das pessoas. Em Men of a Certain Age este senso de humor gera bons diálogos de small talk – já nos primeiros minutos ele conta para os amigos que emagreceu um quilo depois de fazer xixi, iniciando uma divertida discussão tola.

Romano está incrivelmente bem na série, a vontade no papel de Joe, pai separado, dono de uma loja de artigos para festa e golfista frustrado. E bem acompanhado, ao lado do brilhante Andre Braugher (Hack, House) e do razoável Scott Bakula (Enterprise, Chuck), aqui meio canastrão, talvez por ter o personagem mais clichê dos três.



Eu não gostaria de correr o risco de apostar no sucesso ou fracasso de Men of a Certain Age. Até porque, apesar dos bons números de audiência da estreia, a série corre sério risco de sumir na grade de programação da TNT, construída em torno de The Closer, e que nos últimos anos tirou do ar, sem dó nem piedade, Saved, Heartland, Trust Me e agora Raising the Bar.

Pesa contra Men of a Certain Age ainda o fato da série não ter nenhuma grande trama, o que provavelmente causará desgosto no pessoal mais jovem (esta mesma turma que acha Mad Men um tédio). O que vemos são homens de meia idade zanzando pela tela, na maior parte do tempo desapontando suas famílias, seus colegas ou a si mesmos. Não há nada vagamente heróico na série (como por exemplo há em Friday Night Lights ou em qualquer drama médico ou policial) e estes personagens são inofensivos, no máximo mentirosos, bem distante dos anti-heróis amorais que hoje povoam o imaginário dos telespectadores ao redor do mundo.

Justamente por isto, pela simplicidade da fórmula e ao mesmo tempo a ousadia de ir contra a corrente, Men of a Certain Age me conquistou.

Há um diálogo na série em que o personagem de Bakula cita Sísifo, o mortal condenado pelos Deuses para rolar pela eternidade uma grande pedra até o cume de uma montanha, que por fim acabava caindo montanha abaixo. A história fica na cabeça de Joe e parece que o que veremos pelas próximas nove semanas é a sua tentativa de mudar as coisas em sua vida.

Men of a Certain Age pode fracassar ou não, mas o que posso afirmar com certeza é que a credibilidade de Ray Romano sairá intacta desta série, senão maior. A sensação que tenho, neste momento, é que Romano começou sua jornada particular para escalar a montanha de novo. Como Sísifo. Ele já é um exemplo pra mim e, vejam só, acho que acabo de perder um pouco daquele medo de chegar no topo.

NOTA: A série estréia no Brasil , no canal Warner, na próxima terça-feira, 13, às 22h

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