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quarta-feira, julho 28, 2010

O Karmann-Ghia envenenado

Morador da rua Barcelos, nas proximidades do Boteco da Lió, na Cachoeirinha, Douglas Mascarenhas possuía um velho Karmann-Ghia, que vivia parado por falta de peças.

Douglas vivia fuçando os ferros-velhos da cidade em busca das peças faltantes, mas sem sucesso. Já havia colocado anúncios em jornais. Nada.

Ele então resolveu apelar para os amigos: quem soubesse da existência de algum sujeito querendo se desfazer de qualquer tipo de Karman-Ghia, sucateado ou não, que o comunicasse, que ele compraria na mesma hora.

Um seis meses depois, o livreiro Antônio Diniz telefona para Douglas:

– Parceiro, eu descobri uma verdadeira galinha morta pra você. É um Karman-Ghia todo detonado, que está pegando sol e chuva em frente de uma residência, ali pro rumo da Praça 14. Acho até que o dono não vai te cobrar nada pra se desfazer do bagaço. O carro está tão lascado, que só falta mesmo ir pro ferro-velho. Mas ainda dá pra salvar algumas peças.

Douglas ficou mais alegre do que pinto no lixo.

– Me dá o endereço do dono do carro, que eu vou lá agora mesmo! – avisou.

– Eu não sei o nome da rua, não. Mas você vem aqui na livraria, que eu te levo lá...

Em menos de meia hora, Douglas estava entrando na livraria Sebão da Cidade.

Mais quinze minutos, e os dois estavam aboletados no carro do Antônio, se dirigindo para o local onde estava o Karman-Ghia.

Douglas estava eufórico:

– Bicho, tu achas que o cara vai querer mais de mil paus pela carcaça? – perguntou.

– Mil paus? – espantou-se Antônio Diniz. “Aquela sucata não vale 200 reais. O Karman-Ghia está tão detonado que não tem mais nem pneus. Está montado em cima de quatro torres de tijolos. A tinta já descascou, as portas estão comidas pela ferrugem, os para-lamas estão cheio de buracos. O dono vai dar graças a Deus você tirar aquele monte de ferro velho de frente da casa dele...”.

Douglas ria, divertido.

Os dois desceram a avenida Sete de Setembro, dobraram à esquerda depois da Escola Técnica e seguiram pela rua Duque de Caxias em direção à Praça 14.

Depois do antigo depósito do DER-AM, o carro dobrou à direita. Mais alguns minutos e Antônio parou o carro.

– O Karman-Ghia é aquele ali! – avisou.

Douglas tomou um susto.

– Porra, Antônio, mas esse aí é o meu Karman-Ghia...

O livreiro não sabia onde esconder a cara. Também, quem mandou confundir o bairro da Praça 14 com a Cachoeirinha...

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