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segunda-feira, junho 20, 2011

Aula 42 do Curso Intensivo de Rock: Jimi Hendrix


“Os mitos devem morrer cedo. Eles jamais podem envelhecer.”

Ainda que cínica, a frase de Bob Dylan (que achava que iria morrer aos 21 anos) tem lá seus méritos.

De Wolfang Amadeus Mozart a Jimi Hendrix, passando por Otis Redding, Janis Joplin, Jim Morrison e Ian Curtis, a galeria de jovens artistas que passaram como um raio pelo planeta é imensa, deixando sempre como rastro a inevitável pergunta: o que teriam realizado se tivessem vivido mais alguns anos?

A especulação é livre, mas raramente leva a algum lugar.

Assim, o melhor é mergulhar no que efetivamente estes gênios fizeram ou deixaram como legado.

Entre os artistas citados anteriormente, o caso do guitarrista Jimi Hendrix, o músico que tornou a guitarra uma seta flamejante apontada para o futuro, nos parece ser o mais singular.

Desde que deixou Seattle em 1961 para servir o Exército – tornou-se pára-quedista, machucou o joelho num salto e foi para reserva –, a vida do músico virou um verdadeiro furacão.

Foi em 64, num hotel do Harlem que Jimi Hendrix recebeu o primeiro convite importante da sua vida: tocar com o grupo Isley Brothers.

O guitarrista acompanhou-os numa excursão pelos Estados Unidos, Canadá e Bermudas.

No Tennessee, ingressou num pacote itinerante de rhythm’n’blues que incluía seu ídolo B.B. King, mas acabou perdendo o ônibus e ficou a pé em Kansas City.

Ali achou um lugar na banda que acompanhava Little Richard em mais uma de suas idas e vindas pelo mundo profano do show business.

Depois de brigar feio com o temperamental pianista, que o acusava de estar querendo aparecer mais do que ele durante os shows, Hendrix largou a banda em São Francisco e logo se engajou na excursão de Ike & Tina Turner, que o levaria até Nova York, onde teria que recomeçar tudo de novo, num angustiante vai e vem.

Por algum tempo, Jimi rodou pelo Harlem, fazendo uns biscates aqui e ali com a guitarra.

Como não se identificava com a problemática negra naquela quase guerra civil desencadeada por Malcom X e companhia, as platéias negras lhe davam o troco, tratando-o com desprezo.


Desanimado, um dia ele pegou um metrô e se mandou para Greenwich Village, centro da intelectualidade boêmia de Nova York.

Em poucos dias, roubaram tudo o que possuía, até sua inseparável guitarra.

Com um instrumento emprestado, Jimi tocou no Café Wha e foi descoberto por outro músico, John Hammond.

Os dois ficaram amigos íntimos e começaram a se apresentar juntos no Café Au Go Go.

Aproximava-se o verão de 66 e uma quantidade de supergrupos ingleses circulava pelos EUA.

Muitos passaram pelo Village e chegaram a ouvir Hendrix: os Beatles, três dos Rolling Stones e até mesmo Bob Dylan, cuja voz esganiçada deu a Hendrix a certeza de que ele também podia cantar.

Mas foi Chas Chandler, baixista do grupo The Animals (que em popularidade só perdia para os Beatles e os Rolling Stones), que também excursionava pelos EUA naquele verão de 66, quem endoidou ao ouvir aquele crioulo canhoto estraçalhando uma guitarra elétrica.

“Quando vi aquele negro tocando e cantando, pensei logo: puta que pariu, quando ouvirem o som desse cara todos os guitarristas do mundo vão morder o cabo de seus instrumentos...”, contou Chandler, anos depois.

O baixista convenceu o guitarrista a partir pra Inglaterra e também orientou os passos seguintes.

Arranjou um baixista e um baterista, Noel Redding e Mitch Mitchell, brancos, um visual incrível, com aquele ar de excentricidade e decadência que ninguém sabe cultivar tão bem como os ingleses.


Havia também o nome do grupo e Chandler acabou inventando The Jimi Hendrix Experience, baseado em sua curtição particular por histórias de ficção científica.

Não por coincidência, neste mesmo ano era publicado na Inglaterra o clássico “The Politics of Experience”, do pai da antipsiquiatria, Ronald Laing.

O livro se tornaria a terceira Bíblia dos jovens hippies, com sua pregação em favor da abertura de cuca total, abrangendo não só a política, mas todas as áreas do comportamento humano – uma trilha que Jimi Hendrix já vinha percorrendo havia algum tempo.

Começaram então as entrevistas à imprensa e as sessões de fotografias, com Jimi, Noel e Mitch rivalizando no uso de roupas cada vez mais ousadas, o que incluía uniformes de antigos hussardos e granadeiros, com passamanares, franjas, borlas e galões dourados, coletes marroquinos, calças de veludo ou de cetim, tudo em cores vivas, cravejado de pedrarias, as cabeleiras enormes e o afro eriçado coroando a cabeça de Hendrix como a de um legítimo príncipe etíope.

A primeira gravação foi um compacto, “Hey Joe”, contando a história de um homem que mata sua mulher a tiros, mas nada aconteceu.

Fizeram o circuito de clubes noturnos de Londres. Nada aconteceu.

Abriram uma apresentação de John Haliday no Olympia de Paris. Nada aconteceu.

De volta à Inglaterra, Chas Chandler tentou a última cartada: empenhou tudo o que possuíam, até as guitarras do Experience, e ofereceu uma grande festa, em regime de boca-livre-total.

A partir daí, choveram os contatos para apresentações e “Hey Joe” começou a pintar nas paradas.

O rejeitado na América em pouco tempo tornou-se uma celebridade na Inglaterra.


Hendrix não era mais um, mas “the number one”, e acabou sendo venerado por todos os guitarristas da época nem tanto pela técnica – sua guitarra era propositalmente suja – mas pela concepção musical, que arrebentava todas as estruturas que o rock (branco) e o blues (negro) impunham.

Jimi era um extraterrestre, como muito bem cantou em “Up From The Skies” (do segundo disco), muito além de qualquer definição, e viveu intensamente o estranhamento que sua música provocava.

Seus dois companheiros de trio, Mitchell e Redding eram brancos, e a turnê americana que fizeram em 1967 acabou provocando ciúmes raciais.

“Os negros provavelmente falavam de nós como cães sem alma. Eu tentava explicar sobre a nova música que fazíamos, mas tudo acabava quando começávamos a tocar. Eles se entreolhavam e diziam: este cara é maluco!...”, contava Hendrix, divertido.

Certa vez, Jerry Lee Lewis e o guitarrista se encontraram em um aeroporto nos Estados Unidos, e Jimi estendeu a mão ao pianista, que o ignorou. Soberba ou ciúme? Ninguém sabe.

O certo é que a América custou a reconhecer um de seus maiores gênios.

Os ingleses, sob certos aspectos menos etnocêntricos, logo perceberam a nova linguagem musical que surgia com o guitarrista e trataram de abrir os ouvidos.

O álbum “Are You Experienced?” brigou mano a mano com “Sgt. Pepper’s” durante 33 semanas na parada inglesa.

Ou seja, aquele americano maluco ousava desafiar The Beatles em seu próprio território. A partir daí as loucuras começaram.

Numa apresentação em Munique, na Alemanha, durante uma invasão do palco por fãs histéricas, Hendrix caiu de peito sobre a guitarra e a esmagou.

Transtornado, recolheu o que restava do instrumento e se pôs a quebrá-lo contra os amplificadores. A platéia foi à loucura.

Desde então, o sacrifício das guitarras tornou-se uma rotina em seu show.


Noutro concerto, em Londres, Jimi introduziu uma inovação: colocou a guitarra no palco, esparramou sobre ela o conteúdo de uma lata de fluido para isqueiro, riscou um fósforo e a guitarra se transformou numa pira ritual, enquanto ele extraía os sons mais loucos possíveis.

O visual em suas apresentações ia se enriquecendo, seu relacionamento quase sexual com a guitarra, suas contorções, assumiam o aspecto da dança de acasalamento de uma espécie estranha de seres alienígenas.

Ao mesmo tempo, Jimi se aperfeiçoava musicalmente, nos vocais mais seguros e nos sons distorcidos que arrancava do instrumento, envenenado por uma quantidade de novos macetes eletrônicos – às vezes a guitarra parecia tocar sozinha, enquanto ele erguia as mãos para o céu numa imprecação.

Esses truques e riffs iriam ter uma importância seminal nos novos solistas de heavy metal.

Orgulhosos de sua invenção, os ingleses resolveram exportar Jimi Hendrix para os Estados Unidos.

Não podia haver ocasião mais adequada do que o festival Monterey Pop, na Califórnia.

Era para ser um encontro sem maiores pretensões e não havia ninguém ali capaz de imaginar que os protagonistas entrariam para a história sem escalas e levariam de carona uma geração inteira.


Há 36 anos – mais precisamente entre os dias 16, 17 e 18 de junho de 1967 – foi armado o circo do Monterey Pop Festival, sala de entrada do movimento hippie nos Estados Unidos e resumo de uma série de tendências que influenciaram muita gente durante muito tempo.

Entre os esquisitões-beleza que aportaram por lá estava D. A. Pennebaker que, ao lado de outros cineastas independentes, produziu o documentário “Monterey Pop”, um registro do encontro com linguagem revolucionária, exibido como uma espécie de bíblia do rock no mundo todo.

O filme, além dos músicos e de suas respectivas performances, trazia depoimentos, entrevistas e cabeludos para todos os gostos – além de palavras de ordem capazes de detonar protestos contra a Guerra do Vietnã e embalar Woodstock.

Alguns críticos da época chegaram a anunciar que a partir do filme tinha nascido o cinema pop.

Antes do festival começar, já estavam mais ou menos confirmados Otis Redding, Mamas and Papas, Janis Joplin, The Who, Big Brother and The Holding Company, Country Joe & The Fish, Scott Mckenzie, Simon & Garfunkel, Hugh Masekela, Canned Heat, Grace Slick e Eric Burdon and The Animals, entre outros.

Mas faltava uma atração, um tal de Jimi Hendrix, trazido às pressas por indicação da galera dos Animals.

O sangue-bom Brian Jones (guitarrista dos Rolling Stones) viajou especialmente até Monterrey para apresentar ao público americano aquele guitarrista desconhecido (filho de uma dançarina de cabaré com um jardineiro de Seattle).

Agora, basta imaginar como os quietinhos motoqueiros dos Hell’s Angels – havia um acordo entre eles e os organizadores do festival para que não houvesse nenhum tipo de grosseria – assistiam ao The Who, que arrebentava toda a parafernália dos próprios equipamentos.

Mas isso foi só o começo. Janis Joplin teve, para muitos, a mais sensacional performance de sua carreira e o até então desconhecido Jimi Hendrix incendiou a própria guitarra, numa cena que é parte do acervo de qualquer lembrança roqueira.

Foi ali, naquele festival, que duas das maiores sensações da música americana do século 20 nasceriam da noite para o dia: Jimi Hendrix e Janis Joplin.

Duas sensações igualmente efêmeras, cuja impressionante atuação ficou imortalizada nas imagens do citado documentário.


Hendrix entregou-se como nunca à imolação da guitarra, um ato inteiramente novo e surpreendente para os americanos.

Os aplausos já duravam vinte minutos quando os The Mamas and Papas os cortaram, entoando o seu clássico “California Dreamin’”.

James Marshall Hendrix havia concretizado mais um sonho americano: acabava de conquistar a América.

Na seqüência, os barbudões dos Hell’s Angels, do alto de seus “índios” – aquelas motos enormes e espaçosas –, ouviram com respeito baladinhas de Scott Mckenzie – cantando em coro os versos iniciais “if you’re going to San Francisco” – e as canções água-com-açúcar dos eternamentes mauricinhos Simon & Garfunkel.

A mistureba era a mais eclética e democrática possível.

Havia espaço para tudo e para todos, tanto que o psicodelismo de Jefferson Airplane e companhia quase decolou e fez escola.

Tudo bem que muita gente rumou dali para o mais enfadonho anonimato, mas Hendrix, Janis Joplin, The Who e alguns outros saíram de Monterrey para a idolatria absoluta, concretizada dois anos depois no Festival de Woodstock.

Lotado de ácido, euforia beatnik e existencialismo, o público que esteve em Monterrey naqueles dias acabou erguendo a primeira bandeira contra a presença de adolescentes americanos na terra de Ho Chi Minh, o valoroso comandante dos guerrilheiros vietcongs falecido em 1969 e que hoje empresta seu nome à ex-capital (Saigon) do Vietnã do Sul.

Ou seja, o palco do festival produziu acordes que mesmo hoje não soam assim tão dissonantes.

Hendrix voltou a Londres disposto a entrar no saloon chutando as portas da entrada.


Depois de liberar todos os sons que giravam em sua cabeça em “Are You Experienced?”, forjou no mesmo ano de 1967 o álbum mais coeso de sua carreira, “Axis: Bold As Love”, um disco com começo, meio e fim.

“Boa noite, senhoras e senhores, tenho ao meu lado um cavalheiro muito peculiar, que vai nos falar sobre ovnis e sobre seres espaciais”, assim começa “Exp”, a primeira faixa do disco.

Hendrix fazia ali um convite explícito à fantasia e chegava ao auge da experimentação sonora.

Obcecado como poucos pelo tema, o guitarrista assume logo depois a persona de um alien que caminha perplexo pelo planeta Terra, em “Up From The Skies”.

Resguardado por esse disfarce, Hendrix estava livre para questionar todos os valores hipócritas da sociedade que eram, naquele momento, seu alvo preferido.

O amor também foi outro tema desenvolvido com maestria por Hendrix, em quatro das 13 canções do disco.

Lá está a clássica “Little Wing”, canção capaz de traduzir todo o romantismo de Hendrix de modo magistral.

De maneira oposta, “Little Miss Lover” e “Bold As Love” destilam com urgência os desejos do guitarrista.

A badalada “What Until Tomorrow” – regravada por Caetano e Gil em “Tropicália 2” – é apenas um exercício de sedução ingênuo, mas “Axis...” é um disco único, onde a criatividade do guitarrista encontrou sua dimensão exata.


Em 1968, a barra começava a pesar para Jimi Hendrix.

A desordem imperava e o fim do Experience era algo claro e inevitável.

Os músicos haviam mergulhado de cabeça no consumo de drogas pesadas e agora só conseguiam tocar legal se estivessem pra lá de Marrakesh.

O som que faziam era perfeito para viajar e uma boa viagem fazia com que os músicos projetassem um feeling que era justamente o que a platéia queria – não apenas boa música, mas ficar chapadão – toda noite.

Numa excursão americana com Alan Price Set e Soft Machine, eles começaram a detonar DMT (poderoso alucinógeno sintetizado de “plantas mágicas” usadas por índios americanos).

Meses depois, tomaram as primeiras pílulas de maconha, comprimidos de THC (o pricípio ativo da cannabis sativa).

Em agosto de 68 voltaram aos estúdios para prosseguir a gravação do álbum “Eletric Ladyland” e trabalharam a noite toda, completamente chapados de anfetaminas e cocaína.


Desde que começou a compor na Inglaterra, Hendrix transformou a linguagem e expandiu os horizontes da guitarra elétrica no rock.

Sua concepção musical transpunha as fronteiras das classificações, resgatando toda a tradição da música negra, ao mesmo tempo em que apontava as principais tendências que viriam a emergir na década de 70 (heavy metal, jazz-rock, progressivo).

A naturalidade com que arrancava – de inúmeras maneiras – inacreditáveis solos de sua Fender e criava melodias com efeitos de pedais e microfonias, era espantosa.

Jimi ao vivo – incendiário em Monterey ou lançando bombas no Hino Nacional americano em Woodstock – fazia de sua guitarra uma extensão de seu próprio corpo e alma.

Mas também existia um “outro” Jimi: aquele dos estúdios e jam sessions, um experimentador fascinado pelo desenvolvimento das técnicas de gravação e efeitos, e que mais tarde montaria seu próprio estúdio (o Eletric Lady, em Nova York).

A interação mais perfeita dessas duas facetas de Jimi ocorre exatamente no terceiro e último álbum que ele gravou com o Experience: o duplo “Eletric Ladyland”.

O seu primeiro LP era pura explosão: uma transposição para o vinil da energia em estado bruto que emanava do som de Hendrix.

Depois veio “Axis: Bold As Love”, com seus temas lisérgicos e maior elaboração no trabalho de estúdio, por meio de recursos técnicos então inovadores como o “pan” (efeito de estéreo em que um som passa de um canal a outro).


Em “Eletric Ladyland” esses experimentos de estúdio foram levados adiante.

Mais do que nunca, Jimi sentia-se à vontade para ousar.

Isso já se nota na superposição de efeitos da vinheta introdutória “And The Gods Made Love”. “Você já esteve na terra das mulheres elétricas / O tapete mágico espera por você / Então não se atrase”, canta Jimi na faixa-título.

É o convite para uma viagem que segue através do tráfego da cidade e depois envereda pelo blues rasgado em “Voodoo Chile”.

O lado dois começa com duas boas canções, mas menores em relação ao conjunto: “Little Miss Strange” (do baixista Noel Redding) e “Long Hot Summer Night”.

Mas ganha corpo novamente a partir de uma versão de “Come On”, de Earl King, e torna a brilhar no funk sincopado de “Gipsy Eyes” e nas linhas melódicas de “The Burning Of The Midnight Lamp”.

O segundo disco começa com a longa introdução tendendo para o blues de “Rainy Day, Dream Away”.

O lado três conta apenas com mais duas músicas, que na verdade são uma única suíte, na qual vários climas se sucedem de maneira sublime.

No último lado do disco há “Still Raining, Still Dreaming” – que é seguida pelo pique de “Houses Burning Down”, para encerrar-se com duas faixas geniais: “All Along The Watchtower”, a versão definitiva de Bob Dylan (Hendrix pagava ali a dívida que tinha com o compositor. “Se esse cara pode cantar com essa voz escrota, eu também posso”, teria dito o guitarrista após ouvir Dylan pela primeira vez.) e “Voodoo Chile (Slight Return)”, outra recriação estupenda que abre espaço para novos vôos de Hendrix.

Esse disco expõe as “drogas” mais pesadas que fizeram a sua cabeça: blues, funk e rock’n’roll.

Uma fórmula simples, que ele “dosava” com sua guitarra, seu fuzz e seu wah-wah.

Só mesmo Syd Barret conseguiu (um ano antes) pintar com cores psicodélicas um painel tão significativo, tão adiante das manias musicais da época – como o blues branco e o rhythm’n’blues negro.

Mesmo com o sucesso do disco, o grupo continuou a degringolar.


Além da chapação constante de Jimi, somavam-se tensões causadas por todo tipo de motivos, incluindo excesso de trabalho, choque de egos entre ele e Noel, garotas que transavam com os músicos para tirar partido da notoriedade deles e uma eterna falta de grana, apesar do Experience estar tocando praticamente toda a noite para platéias enormes.

Além do ambiente carregado, que por si só já era insuportável, Jimi, Noel e Mitch tinham que conviver durante horas intermináveis, trancados em camarins de onde não podiam sair para não serem estraçalhados pelos fãs.

O último show do Experience foi o ponto culminante de todo o horror que pairava sobre a banda.

Estamos em junho de 69.

O Denver Pop Festival promete dois dias de som com Jimi Hendrix Experience, Frank Zappa & Mothers Of Invention, Credence Clearwater Revival, Johnny & Edgar Winter, Iron Butterfly e Joe Cocker.

O show do Experience é o mais fantástico da noite deixando a platéia completamente maluca.

Subitamente, as 30 mil pessoas presentes sentiram necessidade de invadir o palco para ficar mais perto dos seus ídolos.

A polícia entrou em pânico no momento em que a multidão começou a se mover em massa para invadir o palco.

Aí, para dispersar o público, um policial resolveu jogar gás lacrimogêneo, mas esqueceu de checar a direção do vento, e o gás foi pra cima dos músicos, que não podiam sair do palco porque estavam cercados por milhares de pessoas.

Um integrante da equipe de apoio conseguiu levar um furgão até o palco.

Quando finalmente os músicos conseguiram entrar nele, foram trancafiados lá dentro, ainda meio asfixiados pelo gás.

A multidão imediatamente se lançou sobre o furgão e o teto começou a ceder sob o peso das pessoas.

O motorista conseguiu abrir caminho na marra, mas quando chegaram no hotel, longe dali, ainda havia gente agarrada no furgão.

A selvageria inclassificável dos tietes fez Jimi entrar em parafuso de vez e o grupo acabou na mesma hora.


No dia 1º de janeiro de 1970, Dia Mundial da Fraternidade entre os Homens, acontecia no Madison Square Garden, em Nova York, um grande Concerto pela Paz.

Havia dezenas de músicos convidados.

Jimi Hendrix era um deles e iria tocar com sua nova banda (Band of Gypsies), mas convidara a dupla Noel Redding e Mitch Mitchell para entrar no fim do show e fazer uma jam session com os Gypsies (Buddy Miles e Billy Cox).

Noel, que estava no backstage, notou quando alguém deu uma pastilha de ácido para Jimi, acreditando que com isso levantaria o astral do músico, que andava irritado e meio deprimido.

Mas o resultado foi ao contrário do esperado e Jimi pirou em pleno palco.

Depois de tocar a primeira música, ele começou a dedilhar a introdução da segunda, se aproximou do microfone e questionou uma garota na platéia: “Você está menstruada?... Eu posso ver através das suas bermudas...”.

Provavelmente o choque de ter dito isso fez com que se tocasse.

Na seqüência, ele acrescentou: “Nós não estamos legais hoje” e abandonou o palco no meio da segunda música, deixando os dois colegas e o resto da banda tocando sozinhos.


No dia 18 de setembro daquele mesmo ano, Jimi morria em Londres, aos 27 anos de idade, em circunstâncias que nunca foram completamente explicadas.

Ele havia passado parte da noite anterior numa festa, onde a amiga Monika Dannemann o pegou.

Monika alegou em seu depoimento original que Hendrix teria tomado, sem que ela soubesse, nove comprimidos de um remédio para dormir que ela utilizava.

De acordo com o médico que o atendeu inicialmente, Hendrix tinha se asfixiado em seu próprio vômito, composto principalmente de vinho tinto.

De acordo com Monika, Hendrix ainda estava vivo quando o colocaram na ambulância.

Declarações de policiais e paramédicos revelaram que não havia ninguém além de Hendrix no apartamento, e que não apenas ele estava morto há algum tempo quando chegaram à cena, mas também estava totalmente vestido.

As letras de uma canção composta por Hendrix e encontradas no apartamento levaram Eric Burdon, vocalista e líder da banda The Animals, a fazer um anúncio prematuro no programa da BBC, de que Hendrix teria cometido suicídio.

Depois de um processo por difamação movido em 1996, pela namorada inglesa de Hendrix, Kathy Etchingham, Monika Dannemann cometeu suicídio.


Sam Rivers, músico de jazz amigo de Jimi, prefere a idéia de assassinato, afirmando que a negligência dos enfermeiros que atenderam o guitarrista foi proposital e que Hendrix foi morto pelo crime organizado por pensar em fundar um sindicato de músicos para acabar com a exploração dos empresários.

Durante seu enterro, Johnny Winter, Buddy Miles e Mitch Mitchell formaram o núcleo de uma jam session que durou várias horas, prestando uma última homenagem ao maior guitarrista de todos os tempos.

A partir de várias demos gravadas ao longo de sua curta carreira, foram geradas incríveis coleções.

A música de Jimi Hendrix abraçou as influências de blues, baladas, rock, R&B, jazz e uma variedade de estilos que continuam a fazer dele uma das figuras mais populares da história da música.

O baterista Mitch Mitchell da lendária The Jimi Hendrix Experience continuou o projeto The Experience Hendrix, e excursionou pelo mundo apresentando as músicas deste fabuloso guitarrista.

Depois de uma dessas apresentações nos EUA, Mitchell foi encontrado morto em um hotel.

O motivo da morte, aos 62 anos, foi de causas naturais.

Com o seu falecimento foi declarado o fim absoluto do trio The Jimi Hendrix Experience.

O baixista que completava o trio, Noel Redding morreu em 2003.

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