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quinta-feira, junho 02, 2011

Aula 60 do Curso Intensivo de Rock: Patti Smith e Talking Heads


Ela era uma jovem poetisa de Chicago que, após viver uma adolescência itinerante com a família entre Londres e Paris, acabou voltando para os Estados Unidos no fim dos anos 60.

Seu objetivo: transpor para a cultura pop americana os delírios oníricos dos poetas franceses simbolistas do final do século 19, notadamente Rimbaud e Verlaine.

Tal apresentação cairia bem no release de alguma poetisa “cabeça” lançando seu primeiro livro, mas na verdade ela sintetiza os primeiros passos de Patti Smith, a sacerdotisa-mor do punk rock.

Patti Smith é uma artista admirada por decanos como Bob Dylan, Lou Reed e Neil Young, além de ter sido influência decisiva para a geração posterior à sua.

Sem ela, provavelmente todas estas bandas femininas do movimento riot grrrls (Hole, L7, Bikini Kill) talvez nunca tivessem existido.

Nem mesmo o R.E.M., pois o cantor/ letrista Michael Stipe considera o álbum de estréia dela, lançado em 1975, um trabalho revolucionário.

“Mudou minha vida quando o escutei pela primeira vez”, diz Stipe. “Se hoje me tornei um popstar, provavelmente tudo começou com aquele disco”.

Nem mesmo Bob Dylan resistiu à verve poética de Patti Smith.

Em 1995, o eterno menestrel a convidou para abrir uma série de shows seus e até fez alguns duetos com ela.

“Muitas garotas surgiram desde que Patti começou, mas ela ainda é a melhor de todas”, afirma o velho Bob.

Para merecer tamanho respeito, ela pintou – literalmente, pois chegou a fazer quadros, influenciada pelo vanguardista Jackson Pollock – e bordou.


Morou com o fotógrafo Robert Mapplethorpe (antes de ele ficar famoso), co-assinou a peça “Cowboy Mouth” (com Sam Shepard), escreveu artigos para revistas de rock, como a Rolling Stone e Billboard, e lançou livros de poesia (“Seventh Heaven”, “Witt”, “Kodak” e “Babel”).

Seu envolvimento direto com a música se deu quando ela conheceu Lenny Kaye, crítico musical, produtor (foi ele quem compilou a antológica coletânea “Nuggets”, apenas com bandas obscuras dos anos 60) e guitarrista diletante.

Kaye passou a acompanhá-la nos recitais de poesia que fazia em Nova York, juntamente com o pianista Richard Sohl.

Em 1974, essa formação registrou o compacto independente “Piss Factory/ Hey Joe” (esta última, uma versão do hit de Jimi Hendrix), disco tido como pioneiro na cena do punk nova-iorquino.

Com a adição de Ivan Kral (baixo/guitarra) e Jay Dee Daugherty (bateria), formou-se o Patti Smith Group (PSG).

Ao lado do Television (do guitarrista Tom Verlaine que, até pelo sobrenome adotado, revelava sua afinidade poética com Patti Smith), o PSG detonou a chamada “nova onda” do rock nova-iorquino a partir do clube CBGB, quartel-general do estilo, que impulsionou bandas como Ramones, Talking Heads e Blondie.

Produzido por John Cale (ex-Velvet Underground), “Horses” – o álbum de estréia do grupo – trazia os versos corrosivos de Patti cuspidos, à maneira de Lou Reed, sobre uma base de rock’n’roll descarnado detonado pela banda.

Chegou apenas ao 47º posto da parada americana, mas teria uma imensa influência na musicalidade do rock dos anos 80 e 90.


A mistura de rock pesado e poesia maldita prosseguiria, com criatividade e desenvoltura, por mais três álbuns: “Radio Ethiopia” (1976, um tanto mais pesado, por cortesia da produção de Jack Douglas, que trabalhava com o Aerosmith), “Easter” (1978, de onde saiu o maior hit de Patti, “Because The Night”, parceria com Bruce Springsteen) e “Wave” (1979, um pouco mais sofisticado, nas mãos do produtor Todd Rundgren).

Depois disso, a cantora/ poetisa desmancharia o grupo e, em seguida, o seu casamento de longa data com Lenny Kaye.

O novo marido de Smith veio a ser Fred “Sonic” Smith, ex-guitarrista da banda protopunk MC5, com quem ela se mudou para Detroit, com o intuito de se dedicar à vida doméstica e dar atenção aos dois filhos que teve com ele.

Patti só retornaria à cena musical em 1988, através do álbum “Dream Of Life”, co-escrito e co-produzido com seu marido, que teve como maior sucesso a faixa “People Have The Power”.

Um período de perdas pesadas aconteceria com Patti durante os anos 90: primeiro, seu melhor amigo, o fotógrafo Mapplethorne, morreu de aids.

Depois, o pianista Sohl teve um ataque cardíaco fatal, quando o grupo estava voltando aos ensaios.

E o pior: no final de 1994, seu companheiro, parceiro e confidente Fred Smith faleceu repentinamente, de causa desconhecida.

Um mês depois, também morriam o irmão mais novo e o empresário dela.

Com tanto baixo-astral, seria até compreensível ver Patti abandonar de vez o circo do rock’n’roll.

Mas, ao contrário, ela enfrentou a situação com resignação e retomou sua carreira musical com muito mais força ainda.


A cantora refez sua associação musical com Lenny Kaye e montou outro grupo, mantendo Daugherty na bateria e completando o time com o baixista Tony Shanahan e o segundo guitarrista Oliver Ray (também um poeta de 27 anos “protegido” de Patti Smith), além de eventuais colaborações do ex-Television, Tom Verlaine.

O resultado foi o álbum “Gone Again” (1996).

São 11 faixas que, sem nenhum vestígio de pieguice, prestam homenagem a pessoas próximas que se foram.

De forma semelhante à que Lou Reed usou para reverenciar um amigo e uma amiga íntima em “Magic And Loss” (1992) – um disco lúgubre, mas fascinante em sua melancolia.

Patti – com razão – não reflete mais a revolta de seus trabalhos nos anos 70.

Mas, ao mesmo tempo, adquiriu uma maturidade poética e musical que não existia em seus discos daquela fase.

Ainda há fúria, sim, mas temperada pela sabedoria dos anos vividos.

As cinco canções que Patti Smith assina sozinha são em compasso três por quatro, o andamento típico da valsa.

Nelas, se destaca o violão da cantora (que aprendeu a tocar com Fred), mais pela sensibilidade do que pela técnica.

“Dead To The World” e “Farewell Real” são claramente dedicadas ao seu falecido marido, enquanto “About A Boy” saúda o legado do ex-líder do Nirvana, Kurt Cobain.

Há ainda as duas últimas parcerias de Patti com Fred Smith: a ótima “Summer Cannibals” e a faixa-título.

E uma pequena obra-prima chamada “Beneath the Southern Cross”, contando com a guitarra do velho chapa Tom Verlaine (que toca em outras três faixas do disco, além de ter acompanhado a turnê de divulgação do álbum, escondido na penumbra, tocando sentado num banquinho).

Por tudo isso, a volta de Patti já poderia ser considerada um dos melhores acontecimentos dos últimos tempos, mesmo – ou especialmente – pela delicadeza melancólica de “Gone Again”.

Ou como a própria Patti escreveu em seu poema “Mustang” (do livro “Witt”): “Nesta corrida / Uma ferida significa a morte/ É preciso não deixar vestígios no meio da estrada”.


O disco seguinte gravado pela diva punk, “Peace And Noise” (1998), porém, ainda soava extremamente triste, dado que o tema predominante continuava sendo as reminiscências sobre a perda de entes queridos.

Com disco “Gung Ho” (2002), as coisas parecem ter mudado de figura.

Patti, aos 58 anos, está atrás de esperança para suportar o período difícil pelo qual passou e procurar melhores tempos.

Desde a canção de abertura (“One Voice”) até a climática faixa-título que se debruça sobre os horrores da guerra e fecha o disco, temos 13 canções onde Patti se mostra forte e poderosa, tentando singrar os oceanos da dor, sem inúteis muxoxos.

Produzido com categoria por Gil Norton (Pere Ubu, Nick Cave & the Bad Seeds), o disco tem vários destaques: a levada oriental de “Lo And Beholden”, “Boy Cried Wolf”, “Persuasion” (com teclados a cargo do ex-baterista do Hüsker Dü, Grant Hart), sem contar o lirismo com o qual canções como “China Bird” ou o country tradicional de “Libbie’s Song” são conduzidas.

Mas a melhor mesmo talvez seja “Glitter In Their Eyes”, uma das boas parcerias de Patti Smith com Oliver Ray.

Nela, a revolta juvenil é captada com precisão pela ótica da cantora, devidamente escorada pela guitarra de Tom Verlaine (com quem ela tem voltado a trabalhar nos últimos anos, especialmente ao vivo) e pelos backing vocals quase que reverentes de Michael Stipe, do R.E.M.

Um discaço da eternamente ambígua sacerdotisa-mor do velho punk.


A ambigüidade combina também com David Byrne, contemporâneo e amigo íntimo de Patti Smith, que passa a carreira rompendo fronteiras entre a cultura pop e a arte dita refinada.

Num cenário musical dominado por rappers e coladores de som, Byrne ainda surge como incansável inovador e autor excêntrico.

Suas apresentações mais parecem performances conceituais.

No estúdio que serve de quartel-general para sua produtora, a “Todo Mundo”, o cinqüentão Byrne é inesperadamente aberto e relaxado.

Vestindo malha de duas cores, cabelos negros e curtos, ele é hoje uma versão mais vivida, suave e levemente grisalha do agitado roqueiro que, dentro e fora do palco, se cercava de uma aura de distanciamento deste mundo.

No fim dos anos 70 e início dos 80, como vocalista do Talking Heads, Byrne fundiu a energia agressiva do punk rock a ritmos africanos, sons eletrônicos e letras cortantes para fazer uma música capaz de mexer com o corpo e a mente.

Suas posteriores incursões na direção de videoclipes e filmes, em trilhas sonoras para cinema, e seu trabalho como ator lhe renderam uma série de prêmios, entre eles um Oscar, em 1987, pela trilha do filme “O Último Imperador”, de Bernardo Bertolucci, feita em parceria com Ryuichi Sakamoto.

Byrne também foi ator no curta “Trying Time”, de Jonathan Demme, e compôs duas faixas para o álbum “Songs From Liquid Days”, de Philip Glass.

Esteve ao lado de Robert Fripp e resgatou a carreira de Tom Zé de um limbo profundo, ajudando com isso a renovar a cena alternativa americana (Tom Zé, hoje, é citado como combustível musical por grupos e músicos tão distintos como o Tortoise e Beck).

Sua colaboração como multimídia com artistas de vanguarda como o ator Robert Wilson e a coreógrafa Twyla Tharp fez dele um ícone do underground que transita por todos os gêneros como se todos fossem parte de um único palco gigantesco.


David Byrne foi criado num ambiente que estimulava a criatividade.

Nascido em Dumbarton, na Escócia, imigrou com seus pais para Hamilton, Ontário, antes que a família se estabelecesse definitivamente em Baltimore, quando ele tinha sete anos.

Inspirado pelo exemplo do pai, um engenheiro eletrônico que pintava nos fins de semana, Byrne mostrou uma afinidade precoce com a pintura e a música.

Mais tarde, estudou arte na Rhode Island School of Design, onde conheceu a contrabaixista Tina Weymouth e o baterista Chris Frantz, com quem, depois de mudar para Nova York, formou o Talking Heads em 1975.

Um ano depois, o grupo assinou contrato com a Sire Records e ganhou um quarto integrante, o tecladista Jerry Harrison (ex-Modern Lovers).


Com essa formação eles entraram em um pequeno estúdio durante janeiro de 77 para as sessões de gravações de seu LP de estréia, “Talking Heads: ‘77”, um álbum que transcendia por sua criatividade os próprios limites do cenário insurgente do punk rock nova-iorquino depurando esta energia bruta por meio da sutileza instrumental e com isso conseguindo um resultado excepcionalmente original dentro de um contexto de absoluta efervescência criativa, em que despontavam nomes como Patti Smith, Ramones, Blondie e outros que tornaram legendário o então obscuro clube noturno CBGB, em Nova York.

O clima no estúdio era de tensão permanente entre a banda e um dos produtores, Tony Bongiovi, que a princípio queria outros músicos tocando os instrumentos no disco por não considerá-los suficientemente competentes.

Por seu lado, Byrne recusava-se a gravar qualquer vocal com a presença de Bongiovi no estúdio.

Por sorte, nesse impasse prevaleceu a concepção da banda, que forjou uma forma musical ímpar para as canções de Byrne, repletas de observações cortantes a respeito das relações interpessoais (“Tentative Decisions”, “The Book I Read”, “Pulled Up”) e perpassadas pela mais fina ironia (“No Compassion”, “Don’t Worry About The Government”).


Em resumo, um álbum único, assim como cada um dos três que o sucederam: “More Songs About Buildings And Food” (1978), “Fear Of Music” (1979) e “Remain In Light” (1980).

Estes três últimos LPs, porém, já contavam com as mãos do “não-músico” Brian Eno na produção.

Brian Eno, que anteriormente havia produzido uma fita demo com o Television, partiu desta experiência abortada para uma profícua colaboração com as “cabeças falantes” e especialmente com seu band leader David Byrne (que se estenderia inclusive ao LP “My Life In The Bush Of The Ghosts”, feito em colaboração com Eno, em 1981).

Em 1984, o Talking Heads lançou sua última obra-prima (a trilha sonora do filme “Stop Making Sense”, dirigido por Jonathan Demme, que ficou mais de dois anos na parada da Billboard).

No ano seguinte eles lançaram um novo álbum de estúdio, “Little Creatures”, que não obteve repercussão, e Byrne dirigiu seu primeiro filme, “True Stories”, cuja trilha sonora foi lançada como novo disco da banda, obtendo um grande sucesso comercial – e talvez seja o disco deles mais vendido no Brasil.

Dois anos depois, eles entraram novamente em estúdio para a gravação do álbum “Naked”, considerado o canto do cisne das “cabeças falantes”.

Como já há algum tempo os integrantes da banda participavam de projetos paralelos (Franz e Weymouth no Tom Tom Club, Harrison como produtor e Byrne em carreira solo), eles acharam por bem decretar o fim da banda em 91.

Com um som mais voltado para as pistas de dança, o Tom Tom Club lançou dois discos espetaculares: “Dark Seneak Love Action” (92) e “The Good, The Bad, And The Funky (2000).

Harrisson se tornou um respeitado produtor de bandas como Live, Crash Test Dummies e The Verve Pipe.


David Byrne se transformou numa usina multimídia e em grande divulgador da música brasileira, tendo lançado os discos “Music fot The Knee Plays” (85), “Rei Momo” (89) e “Uh-Oh” (1992).

Nos anos seguintes, ele se dedicou a divulgar artistas criativos do Terceiro Mundo, entre os quais os brasileiros Tom Zé e o bloco afro Olodum, e o grupo mexicano Café Tacuba.

Em 1997, onze anos depois de a revista Time chamá-lo de “o homem do renascimento do rock” numa reportagem de capa e seis anos após a dissolução do Talking Heads, Byrne continuava excentricamente eclético como sempre.

Luaka Bop, o selo que fundou em 1988, estava crescendo e “Strange Ritual”, a mostra baseada em seu livro de fotografias e ensaios de 1996, acabava de encerrar uma exposição de três semanas no Museu Laforet, de Tóquio.

Essa mesma abordagem democrática estava presente em “Feelings”, seu quinto disco individual, um tour de force estilístico que gravou com vários músicos e co-produtores, entre eles o grupo new wave Devo e o trio hip hop britânico Morcheeba.

“Ele é demais e muito equilibrado”, recorda o DJ do Morcheeba, Paul Godfrey. “Estávamos um pouco nervosos no começo, mas ele nunca nos pressionou e foi bastante paciente”, lembra.

Segundo ele, David Byrne ficava lendo até que o pessoal do Morcheeba estivesse pronto para gravar.

Simultaneamente familiar e inovador, “Feelings” abrangia e ampliava praticamente todos os estágios da evolução musical de Byrne, desde faixas dance no estilo Talking Heads e tranqüilos quartetos de cordas até o ritmo de êxtase de “Daddy Go Down”, uma música que mistura o violino cajun e cítaras num tecido de sons graves.

Há também flashes de sátira mordaz, uma espécie de marca registrada.

Em “Miss América”, Byrne retrata os Estados Unidos como uma rainha de gelo que se descarta impiedosamente de seus amantes.

“Eu amo a América” – canta em ritmo de salsa – “mas, cara, ela pode ser cruel / Eu sei qual é sua altura / Quando ela está sem seus sapatos plataforma”.

O título do álbum é descritivo e irônico. “Na capa do disco, há uma fotografia minha, como se eu fosse um boneco, um objeto sem sentimentos, o que é uma espécie de gozação de mim mesmo, pois tenho fama de ser um cara frio e distante”, afirmou, na época do lançamento.

Há outras passagens reveladoras. Em “Alright = Finite”, ele canta: “Bem, nós nos conhecemos há oito anos e 20 dias, / É assustador, é lindo também, / As coisas têm fim, mas o sentimento é infinito, / Estamos mudando, mas tudo bem, / Porque só as coisas têm fim”.

Byrne disse que a letra foi parcialmente inspirada em sua mulher, a designer e atriz Adelle Lutz, com quem vive há 18 anos e com quem tem uma filha de 13, Melu.

“Na verdade, tenho sentimentos contraditórios sobre a vida em família: gosto dela, mas uma parte de mim não consegue harmonizá-la com minha auto-imagem de espírito livre e criativo”, explica.

Seus sentimentos em relação à paternidade também são ambivalentes.

“Admito que a idéia que faço de um músico e artista não combina com a imagem de um homem que embala uma criança, mas amo Melu, que é parte de minha vida”, diz. “Ao mesmo tempo, uma vozinha fica me dizendo para não escrever coisas piegas sobre as maravilhas da vida doméstica”, afirma Byrne, que vive com a família bem perto do estúdio.


Lançado em 2001, o CD “Look Into The Eyeball” trazia “sons emocionais e associações entre cordas e partes orquestradas com grooves e batidas para o corpo”, segundo a definição do próprio cantor.

“No período em que trabalhei neste disco, eu ouvi a música de muitos artistas: Caetano Veloso, Björk, Serge Gainsbourg e a soul music de Stevie Wonder”, explicou. “Eu me senti bem, inspirado a tentar essa boa combinação entre percussão e cordas – a energia da percussão misturada à suavidade das cordas. O resultado é suave e dançante, com um pouco de melancolia”.

O disco teve seu lançamento mundial em fevereiro daquele ano, com show no Lee’s Palace de Toronto.

A busca de uma música “que faça as pessoas dançar e também chorar” levou Byrne por diversos caminhos.

Ele conta que compôs boa parte dos temas em uma pequena cidade feia e chuvosa da Andaluzia, e que o resultado foi cru e básico.

A partir de seu retorno a Nova York, começou a sobrepor àquela primeira camada de sons uma miríade de parceiros e influências sonoras.

A Espanha foi, obviamente, a primeira grande influência. Tanto que Byrne se arriscou a gravar em espanhol, embora tenha pouco domínio do idioma.

“A idéia inicial era cantar em inglês, mas a canção pedia a sonoridade da palavra em espanhol, pois assim soaria melhor”, ele explica. “Eu disse a mim mesmo: talvez cause certo embaraço, mas vou tentar”.

O temor, no entanto, persistiu, e ele enviou um tape a Ruben, do grupo mexicano Café Tacuba, pedindo-lhe uma segunda voz na interpretação de “Desconocido Soy”.

Byrne já tinha colaborado com o Café Tacuba no disco deles, “Avalancha de Exitos”. Ruben não se fez de rogado e gravou sua voz para Byrne.

Outro estrangeiro a quem recorreu foi o brasileiro Jaques Morelembaun, com quem gravou a faixa “Smiles”.

“Jaques entende profundamente as coisas do Brasil, as coisas mais rudimentares e as mais sofisticadas, e seu som evoca memórias de mim mesmo”, ele tenta explicar. “Quando ouvi o que ele tinha composto para a canção, foi um choque”.

Outro brasileiro que aparece no disco é o amazonense Vinícius Cantuária, há algum tempo exilado no mercado de música inglesa.

Ele improvisa (com Paulo Braga) uma batucada na faixa “The Great Intoxication”.

Sebastian Steinberg (ex-Soul Coughing) e Brad Jones tocam baixo no álbum.

O músico também convidou Greg Cohen, responsável pelos arranjos das canções de Tom Waits na ópera “The Black Rider”, de Bob Wilson, para criar ambientações acústicas nas faixas “The Revolution” e “The Accident”.


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