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quarta-feira, junho 01, 2011

Aula 63 do Curso Intensivo de Rock: Tecnopop / New Wave


Agora suponha que o rock’n’roll radical dos Rolling Stones nos anos 60 se encontrasse com o som eletrônico não menos radical que os alemães do Kraftwerk praticavam na primeira metade da década de 70.

Esta seria uma pálida definição do som do Devo.

Os caras usavam e abusavam da tecnologia, mas sem nunca esquecer o escracho intrínseco – seja em termos de linhas musicais ou letras sacanas – dos medalhões do rock, transformando-se em perfeitos ETs de seu tempo, alienígenas mesmo dentro de movimentos tão bizarros quanto o pós-punk e a new wave.

O grupo foi idealizado na cidade de Akron, Ohio, em 1972, por Mark Mothersbaugh (vocais/guitarra/teclados) e Gerald V. Casale (baixo/vocais).

Ambos, apesar da aparência de nerds, eram estudantes de Artes na Universidade de Kent State e planejavam fazer uma banda de rock, onde o visual futurista fosse tão importante quanto o som.

Como nenhum dos dois era um prodígio nos instrumentos, convocaram seus irmãos Bob Mothersbaugh (guitarra, vocais) e Bob Casale (teclados, guitarra, vocais) – chamados de Bob I e Bob II, respectivamente –, além de um terceiro Mothersbaugh, Jim, para a bateria.

Este último nem chegou a esquentar lugar no grupo, sendo substituído por Alan Myers.

Com esta formação, eles gravaram um vídeo de dez minutos intitulado “The Truth About De-Evolution”, em 1975! – muito antes de sequer se aventar a hipótese do surgimento da MTV.

A produção foi premiada no festival cinematográfico de Ann Arbor e impulsionou a carreira do grupo, que começou a apresentar suas estranhas composições (que misturavam efeitos eletrônicos, guitarras sincopadas e batidas obsessivas com letras insólitas e corrosivas) pelo circuito local.


Mas não era só a música do Devo que era diferente: no palco, a banda se apresentava com roupas futuristas (que iam desde trajes metalizados até os uniformes amarelos usados por empregados de usinas nucleares), com uma coreografia robótica e usando adereços inusitados, tipo vasos virados de ponta-cabeça como se fossem chapéus ou perucas de plástico que imitavam o penteado do falecido presidente John Kennedy.

Fora isso, eventualmente, contavam com a presença de General Boy (na verdade, Robert L. Mothersbaugh, pai de Mark e Bob I), personagem que era o comandante-chefe da Devo Inc., uma corporação que pregava os princípios da De-Evolution, além do Booji Boy, um robô infantilóide que era o mascote da absurda corporação.

Mas o que propunha a De-Evolution?

A resposta pode ser encontrada no “manifesto” True Devo Bio, que a banda editou em 1978:
“A banda foi desenvolvida a partir de uma linhagem de macacos comedores de cérebros que viviam no noroeste de Ohio, perto de Akron, onde os Devos surgiram. Pelo processo de seleção natural, eles se encontraram e começaram a dividir os hábitos de assistir TV, assistir a todo mundo e fazer barulho. Eles chamaram o que viram de De-Evolution e chamaram sua música de Devo. São robôs suburbanos desenhados para entreter as formas corporativas de vida. Devo diz que a oposição e a rebelião estão obsoletas. Os mais capazes sobreviverão, enquanto o desajustado também deve viver. É tudo a mesma coisa.”

Tal postura esquisita chegou a atrair a atenção de David Bowie, que ao assistir a um show do grupo, decidiu levá-lo para tocar em Nova York, onde a surpresa e o sucesso foram imediatos.

Na seqüência, já estavam gravando seu álbum de estréia (“Q: Are We Not Men? A: We Are Devo!”, de 1978), na maior parte produzido pelo “não-músico” Brian Eno, freqüente colaborador de Bowie na época.

O disco, com petardos como “Uncontrollable Urge”, “Jocko Homo”, “Mongoloid” e a inaudita versão de “(I Can’t Get No) Satisfaction”, dos Stones (cujo clip, mostrando um cara dançando e caindo no chão, fez um tremendo sucesso) tornou o grupo um dos expoentes da nascente new wave.

O êxito crescente continuou com “Duty Now For The Future” (1979), outra bolacha inspirada que, além do hino da Devo Corporate, incluía as impagáveis “Triumph Of The Will”, “The Day My Baby Gave Me A Surprize” e a cover de “Secret Agent Man” (canção tema do seriado televisivo americano Agente 66, sucesso em 1966 na voz de Johnny Rivers).

Em seguida, veio “Freedom Of Choice” (1980), o álbum de maior sucesso comercial do quinteto, catapultado pelo hit “Whip It” (que vendeu mais de 1 milhão de cópias e atingiu o 14º lugar da parada americana, o posto mais alto já alcançado pelo Devo).

Depois, discos como “New Tradicionalists” (1981), “Oh No, It’s Devo” (1982) e “Shout” (1984) confirmaram o prestígio do grupo, mas sem o mesmo “punch” e impacto de novidade, apesar da inegável competência em seu exótico musical.

Ao final destes trabalhos, o baterista Myers foi substituído por Dave Kendrick (que em 1995 seria trocado por John Freez), o que quase não alterou a sonoridade da banda.

Afinal, a grande força criativa provinha das composições de Mark e Gerald, que começaram a tornar mais esparsas as participações no grupo, para se dedicar a trilhas de comerciais e programas televisivos.

Mesmo assim, álbuns como “Now It Can Be Told” (1987), “Total Devo” (1988) e “Smoothnoodlemaps” (1989), deram continuidade à carreira da banda, que depois só se arriscou em singles e participações em trilhas sonoras.


Já as versões personalíssimas para canções alheias formam um capítulo à parte na história do Devo.

Além de “(I Can’t Get No) Satisfaction”, há “It Takes A Worried Man” (hit de 1959, do Kingston Trio, presente na trilha do filme “Human Highway”, dirigido pelo roqueiro Neil Young, por sinal um fã do grupo), “Working In The Coal Mine (de Allen Toussaint, presente na trilha de “Heavy Metal Music”), “Are You Experienced?” (Hendrix, do álbum “Shout”), “Theme From Doctor Detroit” (presente na trilha do filme estrelado por Dan Akroyd), “Let’s Talk” (na versão que toca em “A Hora do Espanto”), “Bread And Butter” (hit de 64 do obscuro grupo The Newbeats, incluída na trilha de “9 e 1/2 Semanas de Amor”) e até “Head Like A Hole” (do Nine Inch Nails, de um álbum derivado da trilha de “Supercop”).



Em 1969, um obscuro músico jamaicano chamado Gershon Kingsley lançou uma música instrumental chamada “Pop Corn”, que fez sucesso no mundo inteiro.

Nascia ali o primeiro legítimo produto de síntese musical. Tratava-se de uma musiquinha chatinha e descartável. E só.

Depois, foi preciso esperar até 1979. Naquele ano, as brasas do pós-punk já estavam se alastrando.

A influência da Kraftwerk começava a se fazer sentir e o Joy Division assinava o manifesto frio dos anos que estavam por vir.

Na Europa, começam a surgir aqui e lá grupinhos seguidores das experimentações de Brian Eno e David Bowie, que se reuniam em volta de um sintetizador, agora, um instrumento mais barato e mais acessível.

Todos estavam fascinados por duas inovações: a primeira era a possibilidade de programar seqüências inteiras de notas, extraindo da engenhoca frase cenas usadas tomo linhas de baixo.

A segunda era a possibilidade de se programar o andamento inteiro da música através de ritmos eletrônicos – que ameaçavam tirar o emprego de muitos bateristas.

Na verdade, estes instrumentos eram vistos como trampolins para novos experimentos, e abriam horizontes para a renovação do rock.

Filho do Kraftwerk e de Giorgio Moroder (o criador da “disco music”), o tecnopop se constituiu de seis grupos fundamentais.


Fundado pelos analistas de sistemas Lan Craig Marsh e Martyn Ware em 1979, o Human League recrutou Phil Oakey, ex-enfermeiro, como cantor.

Após dois álbuns injustamente ignorados (“Reproduction”, de 79, e “Traveloque”, de 80), os dois fundadores picaram a mula e deixaram a batata quente nas mãos de Oakey.

A partir dos anos 1980, quando se transformou em um dos mais bem-sucedidos grupos da new wave inglesa, o Human League passou a ser reconhecido como aquele grupo que tem “o cara, a morena e a loira”.


Joanne Catherall, a “morena”, e sua melhor amiga, a “loira” Susan Ann Sulley, entraram para a banda no episódio que o folclore pop chama de “Crazy Daisy Story”.

Com a saída de Marsh e Ware, Philip Oakey quis então mudar radicalmente o grupo, contratando vocalistas de apoio e adotando outros instrumentos além dos teclados.

Ele viu Joanne e Susan dançando no clube Crazy Daisy, em Sheffield, e na hora convidou as duas para a empreitada.

“Ele nem nos ouviu cantar, o que foi bom, porque não cantávamos nada”, lembra Joanne, aos risos.

As duas eram menores de idade, e Oakey teve de falar com os pais delas para levá-las em turnê.

O resto virou história. “Don’t You Want Me”, “Love Action”, “Louise”, “Lebanon”, enfim, um hit atrás do outro.


Logo após deixar o Human League, Marsh e Ware fundaram o Heaven 17, recrutando Glenn Gregory para segurar o microfone.

Com seus ternos Giorgio Armani e seus sorrisos rutilantes, os três músicos são a versão yuppie do gênero.

Se especializaram na confecção de compactos de sucesso, pérolas de funk chic e leve, cujas letras – coisa rara – são particularmente bem feitas.

A dupla também fundou em paralelo o B.E.F. (British Electric Foundation) para realizar trabalhos conceituais e experimentais.


Outra banda farol do tecnopop é o Depeche Mode, em que se destacavam Martin Gore (o cérebro) e David Gahan (o vocalista).

Nascidos no meio do movimento new romantic, provaram desde seu primeiro L.P, “Speak And Spell”, de 81, que eram capazes de compor pequenas maravilhas de tecnopop baseadas em fórmulas simples.


Formado pela dupla Marc Almond e David Ball, o Soft Cell durou dois anos e três álbuns geniais, marcados pelo fascínio do sexo mórbido.

Enquanto David foi produzir o Vicious Pink, Marc iniciou uma carreira solo não muito bem-sucedida e continuou cantando a vida das putas, os cabarés de travestis e os mictórios públicos.


Combinando o sintetizador com uma música pop absolutamente direta e dançável, o Ultravox é considerado o primeiro grupo a ter aberto o caminho do eletropop e do movimento new romantic.

Seus três primeiros LPs, “Ultravox!”, “Ha! Ha! Ha!” e “Systems Of Romance” (o primeiro co-produzido por Brian Ruo e Steve Lilywhite, o terceiro pelo legendário Connie Plank) são obras-primas do gênero.


Yazoo era um duo mítico, composto por Vince Clarke e Alison Moyet. Tão fulgurante quanto o Soft Cell, deixou a mesma saudade.

O primeiro álbum do Yazoo, “Upstairs at Eric’s” (de 82), meio rock, meio delírio, os lança com a faixa “Don’t Go” no caminho do segundo (e último), com título trágico e capa premonitória: “You And Me Both”, dois dálmatas lutando na neve.


Yello era um trio, depois duo suíço que curtia os trópicos (bananas, macacos, vudu e companhia). Sua produção era enorme.

Muito experimentalistas no início, mestres da colagem sonora, mais harmoniosos que Art of Noise, se lançam depois na dance music e nas habaneras sintetizadas.

Dieter Meier (vocal) nunca sabe qual vai ser o andamento das músicas que Boris Blank (teclado e máquinas) compõe no maior segredo.

Vale citar ainda alguns nomes de menor importância, mas de grande influência, como Gary Numan, O.M.D. (Orchestral Manouevres in the Dark) e Thomas Dolby.

Os punks tinham determinado as novas regras do jogo.

Tinham dinamitado a ponte que durante décadas, séculos até, impediu o acesso do público ouvinte ao privilegiado palco, onde músicos redundavam cada vez mais a sua “arte”.

Não, agora a orientação era outra. Ninguém queria saber mais das tradicionais e castrantes aulas de música. Ninguém mais poderia limitar os territórios a serem explorados.

Sem pré-requisitos, sem maiores conhecimentos musicais, apenas movido pela vontade de tocar e criar, despertada pelas mais variadas razões, qualquer um poderia ser músico.

Para o rock, o punk tinha sido algo como um anticristo, que passou rapidamente pela terra, deixando um crescente contingente de seguidores ou admiradores de sua ideologia iconoclasta.

Em seguida, enveredando pelos, mais variados caminhos, ocupando e explorando os mais virgens territórios, seguiam os jovens de cabeça feita em busca de aventura e experiências excitantes.

É este, mais ou menos, o espírito reinante em 78 quando é decretada a, morte do movimento, um ano após o seu nascimento.

Este novo momento, em que dezenas de bandas saem por rumos totalmente opostos e diferentes, só pode ser chamado de pós-punk, uma continuidade da new-wave e sua última grande fase fértil.

Das bandas que se consagraram um pouco mais tarde, a partir de 78, as mais importantes e influenciadoras seguem em ordem alfabética:


A Certain Ratio – Banda de Manchester, formada em 77. No início, eram três rapazes. Com a entrada do baterista Donald Johnson, eles passaram a se interessar por ritmos latinos e funk. A mistura deles é quente: ritmos trabalhados, guitarras e vozes dissonantes, acordes esparsos, melodias discretas – quase inexistentes. O álbum “Sextet” (81) dá uma boa noção de como soa esta salada.

Associates – Banda escocesa de dois integrantes – Billy McKenzie (vocais) e Alan Rankine (instrumentos) – que começou mesclando vocais lírico sem vários planos distribuídos num instrumental pesado e bem pontuado. O LP de estréia deles é brilhante, e conta com uma pequena participação vocal de Robert Smith (Cure). Mais tarde, eles viraram uma banda convencional de tecnopop.

Au Pairs – Banda pouco famosa e de curta existência, que fazia um som leve e pop, na linha do Cure. Entretanto, foram importantes em alguns aspectos: faziam boas composições, suas apresentações eram vibrantes e as letras (cantadas e escritas por Leslie Woods) eram feministas.

Birthday Party – Grupo australiano liderado por Nick Cave. Eles se deram bem quando se mandaram por conta própria para a Inglaterra. A tônica deles era o barulho, zumbido, zoeira, demência total – tudo isso ancorado nos sincopados andamentos do baixo e da bateria. Uma grande banda que acabou no momento certo: de suas cinzas, nasceram o Nick Cave & the Bad Seeds e o Crime & the City Solution.


Culture Clube – Banda formada, em 1981, por Boy George, Roy Hay, Mikey e Jon, todos eles especialistas em música dançante a base de teclados. O terceiro compacto do grupo, “Do You Really Want To Hurt Me”, chegou ao segundo posto na parada norte-americana. O álbum de estréia, “Kissing...” emplacou ainda os hits “Time” e “I’ll Tumble 4 Ya”. O grupo atingiu o auge da popularidade com o álbum “Colour By Numbers” (83). Em 1986, Boy George admitiu publicamente seu envolvimento com a heroína. Ainda em 86, foi preso por porte da droga, pouco depois da morte do tecladista Michael Rudetski, de overdose, na sua casa. No ano seguinte, Boy George anuncia o fim do Culture Club e lança seu primeiro álbum solo.

Dexys Midnight Runners – O primeiro LP deste – originalmente – octeto foi um dos pioneiros na exploração pós-punk da soul music americana. O segundo LP é totalmente diferente nas referências – atacam de folk music irlandesa –, sem perder o embalo contagiante do anterior. O responsável pelas tomadas resolutas de direções opostas é o líder do grupo, Kevin Rowland.


Duran Duran – Simon Le Bon (vocais), Nigel John Taylor (baixo), Nick Rhodes (teclados), Andy Taylor (guitarra) e Roger Taylor (bateria) reúnem-se em 79 para formar o Duran Duran. Lançam seu álbum de estréia em 81, engrossando as fileiras da onda new romantic que toma de assalto a Inglaterra. “Hungry Like The Wolf” ganha as paradas americanas em 82, auxiliado por um clip exótico – apenas um de uma série milionária preparada para acompanhar o lançamento do LP “Rio”. No ano seguinte, iniciam sua maior turnê americana – registrada no LP “Arena”. Em 85, depois do lançamento do compacto “A View To A Kill”, a banda se separa, dividindo-se em dois projetos paralelos: Power Station e Arcadia. Voltam no ano seguinte, com duas baixas: Andy e Roger. Como um trio, lançam mais dois LPs que chegam novamente aos primeiros lugares das paradas.

Durutti Column – Era um grupo de uma pessoa só: o guitarrista/pianista/cantor Vini Reilly. A exemplo do Joy Division, o grupo era de Manchester e foi um dos primeiros a entrar nos planos da gravadora Factory. Seus discos têm diferenças nas condições de gravação (um foi gravado num porta-studio, outro em Portugal, outro ao vivo etc.) e instrumentação (o baterista Bruce Mitchell participa a partir do segundo LP, sax e sopros entram nos últimos), mas as composições e texturas criadas pela guitarra melódica de Reilly apontam em direções difíceis de definir - é melhor nem se atrever, para não cometer besteiras, como falar em “new age music”.

Echo & The Bunnymen – Quando vieram ao Brasil, não deixaram dúvidas sobre suas preferências musicais e sobre as áreas que exploram. O negócio deles é west-coast – Byrds, Doors e Love –, bandas de Nova York – Television, Velvet Underground – e as fases mais psicodélicas de Beatles e Pink Floyd. As guitarras esparsas e viajantes de Will Sargeant e os vocais e letras depressivas/debochadas de Ian McCullogh são marcas registradas. São pioneiros do neopsicodelismo.

Erasure – Vince Clarke (teclados, programações) e Andy Bell (vocais) formaram o Erasure no final de 85. Foi o terceiro grupo de Vince Clarke após sua saída do Depeche Mode, em 82. Os anteriores haviam sido o Yazoo, com quem gravou dois LPs e conseguiu um hit (“Only You”), e o Assembly, que não passou do primeiro compacto. “Wonderland”, o primeiro LP, lançado em 86, é um fracasso comercial. O sucesso chega e, 1987, com o lançamento de “Circus”. No ano seguinte, “The Innocents” alcança o topo da parada britânica, puxado pelos hits “Chains Of Love” e “A Little Respect”.


Eurythmics – Annie Lennox (vocais, teclados) e Dave Stewart (guitarra, teclados, vocais) reuniram-se pela primeira vez em 77, quando formam o Tourists ao lado de Pete Combes (guitarra). O grupo lança quatro álbuns, antes de se separar, em 80. Rebatizados de Eurythmics, Annie e Dave lançam em 81 “In The Garden”, que não alcança sucesso comercial. A revanche viria nos anos seguintes, quando colocariam cinco álbuns seguidos, lançados entre 1983 e 1986, nos primeiros postos das paradas inglesas e norte-americanas. O Eurythmics arrebatou fãs em todo o mundo e sua música é presença garantida em festas até hoje. Conseguiu um marco de 476 semanas de sucessos nas paradas inglesas. É deles a célebre “Sweet Dreams (are made of this)”. Com o fim das parcerias (amorosa e musical), Annie Lenox lançou-se em carreira solo e Dave Stewart se dedicou a produção de artistas como Bob Dylan e Mick Jagger.

Fall – Mais um de Manchester. O Fall está na ativa desde 77, só que, ao contrário da maioria dos seus conterrâneos, pouco mudou depois de todos estes anos, apesar das várias formações. O Fall, sempre liderado pelo cantor/letrista Mark E. Smith. foi várias vezes comparado ao Velvet Underground, pela sua lassidão instrumental – parece que ninguém sabe tocar seus instrumentos – e pela compensação em ruídos e distorções. As letras do Smith são um caso à parte – ele brinca, inverte, dá novas formas e conteúdos à língua inglesa, criando imagens totalmente inusitadas ou sem significado. Lançaram mais de quinze LPs.

Gang of Four – Uma das mais influentes bandas do pós-punk, principalmente pela consistente exploração de ritmos sincopados e pela utilização da guitarra distorcida, pesada, como instrumento rítmico. No seu primeiro LP – o importantíssimo “Entertainment” – eles soam rápidos, secos, na mais pura concepção punk. Só que apontam, com brilho, para os caminhos que viriam a culminar no disco-funk, a partir do terceiro LP, “Songs From The Free”.


Information Society – Kurt Valaquen (vocais, programações, teclados), Paul Robb (vocais, programações, teclados) e James Cassidy (vocais, baixo, programações) começaram a tocar juntos em 1981, na cidade de Minneapolis, quando os teclados sintetizadores começavam a deixar o underground para dar uma nova cara à música pop. Contemporâneo de nomes como os britânicos do Pet Shop Boys, o trio americano consagrou-se como representante do synth-pop e ajudou a popularizar timbres eletrônicos em canções de refrões pegajosos. Já era assim no primeiro disco, Information Society (1988), que emplacou hits como “Running”, a melódica “Repetition” e “What’s on Your Mind (Pure Energy)” – com influências que vão das técnicas de colagem do rap americano aos sons industriais de grupos como o alemão Kraftwerk, essa última tomou de assalto clubes noturnos e rádios à época. No Brasil, a febre foi tão alta, que os detratores de tal descaramento pop deliraram até criar a corruptela “embromation society” - não era para tanto. Ao álbum de estreia, que figurou entre os cinco mais vendidos nos Estados Unidos, seguiram-se Hack (1990), das músicas “Think” e “How Long”, e Peace & Love, Inc. (1992), que, além da faixa-título, emplacou “Cry Baby”. Em 1993, deu-se um cisma. Harland especializou-se na composição de músicas para videogames, Robb foi produzir outros artistas e Cassidy arrumou emprego em uma fábrica de salsichas (é sério!). Quatro anos depois, o primeiro lançou sozinho um disco sob a alcunha de Infomation Society, Don’t Be Afraid (1997). O quinto álbum da banda, Synthesizer (2007), foi gravado por Paul Robb e James Cassidy, mas sem Kurt Hurland nos vocais.

Joe Jackson – Eis aí um dos grandes precursores do new-pop. Jackson sempre fez canções bem pop, sem maiores inovações, e sempre se referenciou em ritmos dançantes, pra cima, sem no entanto cair no vulgar. Mais tarde, começou a flertar com o jazz, ritmos latinos, chachachá e por aí afora.

Killing Joe – Eles começaram fortemente influenciados por ritmos jamaicanos, e depois entraram de cabeça na fase hard, para se tornar um dos grupos mais pesados da época. Não chegam a ser heavy metal, por causa de alguns elementos largamente explorados no pós-punk: bateria tribal, baixo sincopado meio funky e a quase ausência de solos e melodias, formando uma massa bem dissonante.

League of Gentlemen – Tentativa de Robert Fripp (guitarrista/líder do King Crimson) de formar uma banda com um som dançante, bem influenciado pelas bandas americanas. O resultado é único: imaginem as concepções minimais-experimentais dos Frippertronics (adaptações montadas com séries eletrônicas, pedais, seqüenciadores), os teclados esquisitos de Barry Andrews (ex-XTC, mais tarde no Shriekback), tudo isso ancorado nos beats dançantes montados por Sarah Lee (baixista, depois no Gang of Four) e Johnny Toobad (baterista). Lançaram só um LP, em 81, e depois o grupo acabou.


Magazine – Grupo de heavy pop, fundado pelo ex-vocalista dos Buzzcocks, Howard Devoto, Barry Adamson (baixo), John McGeogh (guitarra), John Doyle (bateria) e Dave Formula (teclados) acabariam envolvidos em outros projetos posteriores – não a toa, pois todos eram excelentes músicos – como Visage, Siouxsie, Bad Seeds e Armoury Show. O excelente LP Time “Correct Use Of Soap” foi produzido por Martin Hannett, o produtor do Joy Division.

PiL – Antigrupo formado por John Lydon, depois que ele saiu dos Sex Pistols e declarou que o punk estava morto. Com Jah Wobble (baixista, ex-motorista de táxi), Keith Levene (excelente e criativo guitarrista) e um Walker (baterista), o Public Image Limited mantinha a agressividade e energia dos Pistols, só que voltado para um lado mais dissonante e denso. A inserção do grupo no mercado foi de uma abordagem conceitual brilhante. O primeiro LP chama-se “First Issue” (“Primeira Edição”), e remete a capas de revistas famosas. O segundo LP, “Metal Box”, foi originalmente lançado como caixa de metal que reunia compactos e depois virou um álbum duplo com outro título, “Second Edition” (“Segunda Edição”).


Pretenders – A americana Chrissie Hynde montou uma banda inglesa Os Pretenders, que no início, apesar de alguns hits mais leves, faziam um som pesado e contagiante repleto de qualidades únicas como o vocal afinado e vigoroso de Chrissie, as guitarras cortantes do falecido um Honeyman-Scott e as baterias de Martin Chamhers (da escola de John Bonham). Os dois primeiros LPs deles são fundamentais.

Psychedelic Furs – Velvet Underground e David Bowie eram as grandes influências deles. O cantor Richard Butler, com sua voz rouca realmente lembra Bowie e Lou Reed, mas a massa de guitarras está mais para o wall of sound de Phil Spector.

Simple Minds – O primeiro LP deles saiu em 79. Lembravam fortemente o Roxy Music, com seus teclados espaciais e dispersos, em canções bem pop. Depois, iniciaram uma interessante trajetória de experimentações e lançaram belíssimos discos, com ênfase nos instrumentais diferentes, meio progressivos, meio tecnopop. O método de trabalho de Jim Kerr (vocais), Charles Burchill (guitarras), Mike McNeil (teclados), Derek Forbess e Brian McGhee (bateria) reflete nas elaboradas melodias: gravam horas de jam sessions em ensaios, ouvem os tapes e selecionam os melhores momentos para montar uma composição.

Teardrop Explodes – Juntamente com o Echo & the Bunnymen, este foi um dos grupos que melhor soube “ler” a west-coast music, psicodelismo e James Brown (quando este estava inventando o soul). O cérebro de tudo isso foi o cantor/guitarrista Julian Cope, que iniciou carreira solo depois do segundo LP do Teardrop Explodes.

Xic – Grupo de craques em arranjos e conceitos de produção de estúdio. Nunca se deram muito bem ao vivo, e até abriram mão deste expediente. Andy Patridge (guitarras) e Colin Moulding (baixo) se revezam nos vocais e autorias das composições. Começaram em 77, e em 78 lançavam o primeiro LP. White Music, com rockinhos rápidos, bem feitos, sem maiores pretensões. Depois, a cada lançamento de um disco, passaram a esbanjar uma rara sensibilidade nos arranjos, principalmente nos vocais lembrando as melhores coisas dos Beatles e de outros grupos antigos, nos timbres e sobreposições de guitarras, entradas e saídas de efeitos, tudo em nome do peso e da diversificação. O LP “Black Sea” (80) é o exemplo clássico, antes deles começarem a se ligar em folk inglês, temas orientais e outras referências bucólicas.

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