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segunda-feira, junho 06, 2011

Aula 52 do Curso Intensivo de Rock: MC 5, The Stooges e The New York Dolls


Mas vamos deixar o clima cool de lado e voltar para o dirty rock.

Imagine um álbum entupido de barulho, noise e esporro.

Música enquanto soco no estômago.

A zoeira atravessa os três acordes punk, passa pelo hardcore e pelo thrash, por Sonic Youth e por aí vai até toda a turminha grunge de Seattle.

Uma fórmula simples, mas matadora: guitarras demenciais cuspindo riffs como farpas, enquanto a cozinha pulsa catatonicamente, quase soterrando os arremedos dos vocais.

Acontece que toda essa violência sônica e cênica já tinha sido forjada lá pelos idos de 67, em pleno desbunde psicodélico.

Suas origens remetem a duas bandas de Detroit – The Stooges e MC5.

Ambas com total afinidade musical, mas com uma diferença fundamental: enquanto as performances animais de Iggy Stooge e seus comparsas antecipavam toda a estética niilista do “no future” punk, o MC5 acreditava realmente no poder revolucionário do rock’n’roll.


Seu nome era uma homenagem a Detroit, a capital da indústria automobilística americana apelidada de “Motor City” (“Cidade-Motor”).

Rob Tyner (vocal), Fred “Sonic” Smith e Wayne Kramer (guitarras), Dennis Thompson (bateria) e Michael Davis (baixo) saíram diretamente das garagens do subúrbio de Lincoln Park para apavorar o circuito de clubes locais, onde eram notórios por tocarem muito alto, pelas atitudes obscenas e por chegarem quase sempre bêbados ou chapados demais para se apresentar.

Porém, quando conseguiam fazê-lo, perpetravam um atentado sonoro que logo virou sensação entre o público mais cabeça.

Por meio do baixista Michael Davis – também artista plástico –, a banda travou contato com a Trans-Love Energies, uma comunidade de artistas liderada pelo ativista anarquista John Sinclair, que agregou aquele bando de freaks barulhentos à sua trupe.

A comunidade foi o embrião do partido White Panthers (uma referência irônica ao movimento negro radical dos Black Panthers), que expandiu os ideais anárquicos de Sinclair para happenings de grandes proporções, em que a trilha musical cabia ao MC5.

Antes de conhecer os músicos pessoalmente, John Sinclair publicou em uma coluna de jornal um recado curto e grosso: “Qual é a desses roqueiros marrentos? Se ao menos eles prestassem atenção em música de verdade, como Sun Ra e John Coltrane…”

“Não me conformei com aquilo, sabe? Fui até a casa dele e disse: ‘Hey cara, que história é essa? Nós também estamos na comunidade e sabemos quem é John Coltrane. O que nós precisamos é de um lugar para ensaiar.’ Então a gente fumou um baseado e ficou tudo numa boa”, revelou o guitarrista Wayne Kramer, sobre o início da banda.

Sinclair só aceitou ser empresário da banda com uma condição: que eles tentassem se inserir naquela onda hippie protestando contra a política americana.

Em outras palavras, ele queria ver o MC5 ser reconhecido pela imprensa como uma banda revolucionária, para conseguir um contrato gordo com alguma grande gravadora.

Porém, não foi bem isso que aconteceu.


Eles até conseguiram tocar diante de uma multidão ensandecida no Big Ballroom, após o empresário da Elektra Records, Danny Fields, assinar um contrato com eles como banda primária – deixando os Stooges como banda secundária (ou seja, pagar mais pelo MC5 que pelos Stooges).

Foi dentro deste contexto que surgiu o álbum de estréia do grupo, um dos discos mais “sujos” da história do rock: o cultuado “Kick Out The Jams”.

Gravado ao vivo no fim de 68, ele captava toda a energia primal do quinteto em porradas como “Borderline”, “Come Together” e “I Want You Right Now”.

Desde a subversão de um velho hit de Nat King Cole (“Ramblin’ Rose”) até a estratosférica parceria com o “jazzista E.T.” Sun Ra que fechava o disco, o pau comia solto.

Mas pau mesmo foi rolar a partir da faixa-título, em que, na introdução, Tyner gritava o lema “Kick out the jams, motherfuckers!” (algo como “Botem tudo pra fora, filhos da puta!”).

Isso acabou envolvendo a banda num processo que começou com o boicote ao álbum pelas lojas e pela própria gravadora (que em seguida os dispensou) e foi parar até nas mãos do FBI – com Sinclair puxando dez anos de cana por tráfico de maconha.

O MC5 ainda daria a volta por cima lançando “Back In The Usa” (70), um clássico do garage sound (vide as antológicas “Call Me Animal”, “Teenage Lust” e “American Russe”), além de um obscuro terceiro álbum (“High Time”, que virou título de uma publicação especializada em drogas psicodélicas e cultivo de maconha), antes de se dissolver em 71.

Depois disso, além de continuarem com problemas com a polícia (com várias prisões por porte de drogas), seus integrantes se envolveram em esparsos projetos musicais: Davis com o Destroy All Monsters (junto ao ex-Stooges Ron Asheton), Thompson com o New Order (não aquele, o outro!) e o New Race, Kramer com a Gang War (que também incluía Johnny Thunders, ex-New York Dolls) e Smith com a Sonic Rendezvous Band (antes de se casar com Patti Smith, para quem produziu e dividiu as autorias no álbum “Dream Of Life”, em 88).

Apenas Tyner chegou a gravar um disco solo (“Bloodbrothers”) antes de ter um ataque cardíaco fatal, em setembro de 1991.

Mesmo assim, a lenda do quinteto de Motor City permanece viva.


Uma outra bomba de efeito retroativo, fora de lugar e fora do tempo, começa num ritmo preguiçoso, a guitarra miando através do wah-wah.

“Alright!”, berra uma voz demencial. Ritmo e guitarra adotam uma pulsação básica que se convencionou chamar de punk rock e pronto: “(...) Bem, é 1969, OK / Através dos USA / É um outro ano / Para mim e para você / Outro ano sem porra nenhuma pra fazer...”

O dono da voz demencial, creditado na capa como Iggy Stooge, está furiosamente morrendo de tédio.

Os outros três “Patetas” (Ron Asheton, guitarra, Dave Alexander, baixo, e Scott Asheton, bateria) atacam num esporro elétrico com a adrenalina de um Cro-Magnon que sente o bafo do mamute na sua cola.

Obviamente, os “USA” de 1969 não estavam preparados para os Stooges. Tédio, desprezo e adrenalina. A química, antes de virar fórmula composta, sem alvo definido.

A faísca acendeu um fogo que nunca esteve apagado – ainda que os discos do Joy Division exibam as cinzas.

Ian Curtis simplesmente idolatrava Iggy Pop, e os reflexos de ambos estão vagando a terra como mortos-vivos.

Fazer o quê? Tédio e ódio continuam vivos, mas sua expressão está mais que cristalizada.


Uma banda de garagem comandada por um alucinado.

Algo assim devia passar pela cabeça do pessoal do selo Elektra, que rescindiu o contrato dos Stooges antes de seu terceiro disco.

Uma banda de garagem adotando um rock para o futuro.

Em todo o LP, apenas “We Will Fall” dá bandeira dos elos que ligavam os Stooges ao passado – às feridas incicratizáveis chamadas Doors e Velvet Underground.

Com mais de dez minutos de um apocalíptico mantra quase gregoriano, “We Will Fall” é o “The End” dos Stooges e a única faixa em que o produtor do disco, John Cale (então com um pé fora do Velvet), deixa sua marca: num drone zumbindo ininterruptamente e na aparição de sua inconfundível viola nos minutos finais.

No lado dois, tudo volta ao “normal” com “No Fun”, outra ode ao tédio mortal movida por um riff histórico. “Não tem graça ficar sozinho / Não tem graça sair por aí... / Não tem graça, porra nenhuma!...”

Segue “Real Cool Time”, outra ode ao sexo como único antídoto para o tédio mortal, que culmina numa das mais estridentes paredes de guitarra da história do rock.

E surge então a segunda anomalia do disco.

A música “Ann” seria apenas mais uma balada romântica com guitarras em changa-langa, se estas não estivessem amplificadas demais e se Iggy não estivesse inaugurando no vinil o lamento de bezerro desmamado que atinge crescendos epilépticos e se tornaria uma de suas marcas registradas: uivos viram bocejos, urros cospem sussurros (também imitados ad nauseam).


O segundo LP, “Funhouse” expande tudo isto para uma selvageria ainda mais catártica, fluida e madura, que fica ainda mais violenta durante a segunda encarnação dos Stooges (com James Williamson na guitarra no lugar de Ron Asheton) no treme-terra “Raw Power”, produzido por David Bowie.

Uma garagem, guitarras, baixo e bateria: rock simples e direto, tocado muito alto, pegando na veia.

Esta história, já dissemos, começou durante os anos 60 com o surgimento de inúmeras bandas americanas em resposta à “invasão britânica” capitaneada pelos Beatles e os Stones, baseadas em um despojamento musical que se cristalizaria no som de grupos como o Velvet, os Stooges e MC5.

Serviu de estopim para a explosão do punk em 76 e continua a ser contada até hoje, através de sua influência em diversas tendências do rock contemporâneo.

Esta história tem um capítulo especial reservado para as “bonecas de Nova York”.


No visual, os New York Dools levavam às últimas conseqüências – beirando o escracho total – a androginia sugerida pelo glitter que se projetava nas figuras de David Bowie e Marc Bolan: maquilagem pesada, bijuterias e roupas femininas.

Em termos musicais, foram essenciais no processo de criação de uma estética típica do rock nova-iorquino, que mais tarde floresceria nos trabalhos de Television, Talking Heads, Blondie, Ramones e outros.

Formado no fim de 71, o grupo era composto originalmente pelo vocalista David Johansen, os guitarristas Johnny Thunders e Rick Rivets, o baixista Arthur Kane e o baterista Billy Murcia.

Logo, Rivets foi substituído por Sylvain Sylvain, e assim os Dolls começaram a se apresentar no cenário local, causando sensação.

Em novembro de 72, durante a primeira turnê inglesa da banda, Billy Murcia morreu de overdose, em Londres.

De volta a Nova York, os Dolls só retornam à ativa no ano seguinte, já com Nerry Nolan na bateria.


Então gravam seu álbum de estréia, com produção de Todd Rundgren (ex-Nazz), que contava com faixas antológicas como “Personality Crisis” e “Looking For A Kiss”, que retratavam fielmente a fúria primitiva do grupo.

Em 74, eles gravariam seu segundo e último disco “oficial”, que, junto com o primeiro, tornaram-se legendários.

Não menos legendário foi o nome escolhido para produzir “Too Much Too Soon”: George “Shadow” Morton, um dos grandes produtores do começo dos anos 60, criador das Shangri-Las e fundador da Red Bird Records, ao lado de Phil Spector, Jerry Leiber e Mike Stoller.

Morton reforçou a vertente rhythm’n’blues da banda, que desta feita optou por inserir quatro covers entre as dez faixas do disco.

Resultado: “Stranded In The Jungle” (sucesso do grupo vocal The Cadets, em 56), “(There’s Gonna Be A) Showdown” (da dupla Gamble & Huff, mestres do soul da Philadelphia), “Don’t Start Me Talkin’” (do bluesman Rice Miller, também conhecido como Sonny Boy Williamson) e “Bad Detective” (de K. Lewis) transformaram-se em clássicos instantâneos na interpretação dos Dolls.

O material próprio do grupo também não deixava por menos, especialmente nas faixas compostas por Johansen e Thunders: “Babylon”, “Who Are The Mystery Girls?”, “It’s Too Late” e “Human Being”, que já soltavam as faíscas que originariam o incêndio que tomou conta do circo do rock dois anos depois.

Apesar da aclamação da crítica, tanto “New York Dolls” como “Too Much Too Son” foram retumbantes fracassos comerciais, o que precipitou o fim da banda, depois de um curto período em que foram empresariados por Malcolm McLaren.

Porém, Johansen e Sylvain continuaram a se apresentar como New York Dolls até 77, com vários músicos acompanhantes, até partirem para erráticas carreiras-solo (assim como Thunders, depois de um breve período ao lado de Nolan nos Heartbreakers).

Hoje em dia, Johansen atende pela alcunha de Buster Pointdexter, um impagável entertainer.

Das outras “bonecas”, nenhuma nova notícia.

Mas, seja como for, as marcas deixadas pelas “assassinas de batom” continuam vivas.


Com certeza, pouca gente o conhece pelo nome real, James Jewel Osterberg.

Mas ao se falar em Iggy Pop – alcunha artística que adotou no início dos anos 70 –, a coisa muda de figura: o cara é simplesmente o patrono do punk rock americano.

No final de 92, foi realizada em Nova York a convenção do College Music Journal (CMJ), uma publicação destinada a rádios universitárias e gravadoras independentes.

Para abrir a convenção, o CMJ convidou uma das figuras mais inovadoras da história da música, Iggy Pop.

Durante uma hora, Iggy falou sobre sua carreira.

A maioria da platéia nem havia nascido quando ele começou a cantar com os Stooges e certamente ninguém estaria ali, naquele momento, celebrando o rock alternativo e independente, se os Stooges não tivessem expandido os caminhos do radicalismo no rock’n’roll, 25 anos atrás.

Um resumo da palestra do Iguana, você lê abaixo:


Quando eu era novo, morava com a minha família num trailer.

Eu tinha um rádio e ficava ouvindo todo dia, sofrendo porque as estações só tocavam os hits do Top 40. Realmente não gostava daquilo, não me inspirava.

Só me animava quando tocava “I Wanna Hold Your Hand”. As guitarras e a bateria pareciam reais, sólidas.

Um dia, indo no ônibus da escola, ouvi no rádio “Louie, Louie”, com os Kingsmen.

Fiquei louco. Aquilo era tão desobediente, tão sujo, tão ruim, que eu adorei.

Pensei: “Porra, esses caras devem estar cheios de mulheres, se divertindo pra cacete”. Pouco tempo depois, montei minha própria banda.

Fui me tornando um radical. Sempre que ouvia uma música ruim, tinha vontade de sair e matar todo mundo, do cara que compôs até o idiota que tocava aquela merda no rádio.

Ficava espantado, não entendia como alguém podia gostar de música tão ruim. Dava para sentir as vibrações negativas geradas pela manipulação, pela enganação e pela falsidade saindo dos alto-falantes.

E tudo que eu queria era música de verdade. Durante um tempão, a única música que eu escutava era “Be My Baby”, com as Ronettes (grupo vocal produzido por Phil Spector).

Comprei o single e escutava o disco todo dia.

Eu tinha uma namorada na época e a gente transava no porão da casa dela ouvindo “Be My Baby”. A música me deixava tão alucinado que eu broxava assim que terminava.

Era horrível, porque a canção só durava dois minutos e meio, aí eu tinha que pedir licença, sair correndo pelado e botar a agulha de novo no disco, para começar de novo.


Eu estudava na Universidade de Michigan em 65.

Na época eu escrevia poesia e tocava bateria nessa banda, The Iguanas.

Eu gostava de Bob Dylan, dos Rolling Stones e cheguei até a gravar um compacto.

Conheci uma gangue de fãs de blues que me mostrou um disco da Paul Butterfield Blues Band.

Fiquei maluco. A música era pesada, mais empolgante do que qualquer coisa que eu já tinha ouvido.

Esse disco fez toda aquela “invasão inglesa” de 64, com os Stones e os Kinks, parecer um bando de babacas bem-comportados.

Foi por essa época que eu comecei a ouvir artistas como Howlin’ Wolf, John Lee Hooker, Junior Welles, Muddy Waters, Ike & Tina Turner e Bo Didley.

No disco da Paul Butterfield Blues Band tocava um baterista chamado Sam Lay, que era muito bom.

Ele era negro e tinha um visual legal, passava uma imagem de durão. O cara se tornou um herói para mim. Lembre-se de que na época eu era baterista.

Larguei a escola e comecei a tocar blues. Não tinha grana, mas tocava em bares em troca de comida.


Eu era tão pobre que morava num banheiro desativado, que eu dividia com um amigo.

A gente falava para as garotas que na nossa casa havia cinco banheiros e elas achavam que era uma mansão do cacete!

As coisas só melhoraram quando eu arrumei um emprego numa loja de discos, o que foi muito importante para mim.

Minha função era empilhar as caixas de discos, mas eu ficava me metendo a vendedor e indicava uns discos bem radicais para a garotada que ia comprar na loja.

Quando fiz dezenove anos, resolvi ir para Chicago conhecer Sam Lay. Ele e a mulher foram muito legais comigo.

Me apresentaram aos bluesmen da cidade e me levaram a vários clubes. Era esquisito, um garoto branco, de dezenove anos, metido com um monte de negros de 45 anos.

Mas eles me tratavam muito bem e me ensinaram muito do que sei sobre música.

Um dia eu estava na beira de um rio, conversando com uns amigos, e alguém me passou um cigarro de maconha. Nunca tinha experimentado.

Fumei pela primeira vez e fiquei louco. Foi fumando maconha que eu tive a idéia de formar os Stooges.


Voltei para Detroit e foi aí que comecei a bolar nossa própria música.

Nessa época em Detroit tinha o MC5, que era foda, eram um bando de loucos.

Os caras faziam umas orgias inacreditáveis, dezenas de pessoas peladas numa casa. Os bacanais duravam dias e dias.

O MC5 tinha um slogan, “Fucking In The Streets” (“Trepando Nas Ruas”), que eles punham em cartazes para anunciar seus shows. Você pode imaginar, em 67, o que significava um cartaz desses colado num poste?

Havia outras bandas boas na cidade. Alice Cooper era de lá. Bob Seger, Suzi Quatro e Ted Nugent também. Foi uma boa época: fazíamos shows juntos, que se tornavam uma bagunça total.

Foi difícil encontrar o som certo para os Stooges. Eu costumava ir a depósitos de lixo, com os outros caras da banda, procurar peças para construir nossos próprios instrumentos.

Ensaiávamos para cacete, fazíamos letras que refletiam tudo o que a gente estava sentido – toda aquela sensação de desespero, de falta de esperança no futuro.

Finalmente, “descobrimos” nosso som. Não parecia em nada com os hits das paradas, mas a gente gostava e era isso o que mais nos interessava.

Os primeiros shows dos Stooges eram uma merda. Quer dizer, eram bons para nós, mas uma merda para o público.

Tanto que as pessoas jogavam garrafas na gente, nos vaiavam direto. Acho que nós éramos uma banda muito à frente do nosso tempo.

Aí viemos para Nova York e gravamos nosso primeiro álbum. Encontramos o pessoal da Factory, Andy Warhol, Lou Reed, Nico, John Cale.

Essa turma se reunia num pequeno restaurante chamado Max’s Kansas City. Era um bando de alucinados, mas muito inteligentes.

Eles me abriram a cabeça. Fiquei alucinado com o Velvet Underground. Como era sombrio!

As excursões dos Stooges eram as mais loucas. Duvido que qualquer outra banda na história tenha feito tanta putaria na estrada quanto a gente.

Nós tomávamos todas e sempre tinha aquele bando de groupies esperando no hotel. Eu sempre acordava sem saber onde estava e deitado ao lado de uma mulher que eu nunca tinha visto.

Eu não tomo mais drogas, mas já usei todas e em grandes quantidades. Hoje não suporto mais.

Todo mundo me diz: “Iggy, sua música era bem melhor quando você tomava drogas”.

Eu sei disso, mas o que é que eu deveria fazer?

Tenho que me acostumar com isso!


Discografia do Iguana

The Stooges (69) – O álbum de estréia dos Stooges mudou o curso do rock. Produzido por John Cale, é um monumento de distorção e radicalismo. Músicas de três acordes, riffs que ficaram na história e hinos como “I Wanna Be Your Dog”, “1969” e “No Fun”.

Funhouse (70) – Outro momento precioso. Aqui as guitarras estão mais psicodélicas que no primeiro álbum. Iggy grita como um ensandecido em faixas como “TV Eye”, “Down On The Street” e “L.A. Blues”.

Raw Power (73) – Uma das mais perversas, sujas e revolucionárias obras já prensadas em vinil. O humor negro das letras de Iggy atinge seu grau máximo de criatividade. Morte, sexo, violência, napalm, guerra, tudo misturado num coquetel demoníaco. Se o fim do mundo tem uma trilha sonora, ela deve ser Raw Power.

Metallic K.O. (76) – Traz seis registros do concerto final de Iggy com os Stooges, realizado em janeiro de 74, no Michigan Palace, em Detroit. Incluiu uma versão do velho hit dos Kingsmen, “Louie, Louie”.

Kill City (78) – Gravado em parceria com o guitarrista James Williamson, da segunda formação dos Stooges, Iggy começa a voltar à velha forma: músicas mais curtas e uma pegada mais punk. Altamente recomendável.

The Idiot (76) – A estréia solo de Iggy foi produzida por David Bowie. Com menos barulho que os Stooges, mas com momentos memoráveis como “Sister Midnight” e a pré-gótica “Funtime” (regravada depois por Peter Murphy), além de “China Girl”, que Bowie gravaria em 83.

Lust For Life (77) – Bem mais pra cima que The Idiot, marca a volta do Iguana ao bom e velho rock’n’roll. A influência pop de David Bowie ainda é marcante. As melhores faixas são “Success” e “Turn Blue”.

TV Eye Live (78) – Iggy só gravou esse disco ao vivo para cumprir o contrato com a RCA, pois já tinha uma proposta da Arista. No geral, um álbum sem inspiração. A única curiosidade é David Bowie nos teclados.

New Values (79) – Para sua estréia na Arista, Iggy não deixou de chamar James Williamson. O timbre inconfundível de sua guitarra demencial é a marca do disco. Ouça a faixa-título e “I’m Bored” e confira.

Soldier (80) – Sai Williamson e entra um grupo liderado por Glen Matlock (ex-baixista dos Sex Pistols). O disco tenta seguir na linha pesada dos dois trabalhos anteriores, mas não tem a mesma força.

Party (81) – O pior disco que Iggy já gravou na vida. Parece uma imitação de quinta categoria dos Talking Heads. Som pop “cabeça” com pretensões nonsense. As letras são constrangedoras – vide “Tomato” e “Rock And Roll Party”.

Zombie Birdhouse (82) – A produção do ex-Blondie, Chris Stein, para Zombie Birdhouse foi um tiro mal dado. O disco retoma a estética de Party. Iggy é cabeçudo, não “cabeção”. Coisa muito complicada não bate com o cara. Botar ele para cantar folk (“The Ballad Of Cookie McBride”) só pode ser piada.

Blah-Blah-Blah (86) – Volta da parceria com Bowie. Na guitarra, Steve Jones, ex-Sex Pistols. O disco – bem comercial – foi muito criticado na época. Mas não é ruim: às vezes, o pop funciona, como na cover de “Real Wild Child (The Wild One)”, hit do australiano Johnt O´Keefe nos anos 50.

Instinct (88) – Produzido pelo veterano Bill Laswell (big boss do selo nova-iorquino Celulloid), é um álbum quase heavy metal. As músicas são todas muito parecidas, mas mesmo assim, vale por duas faixas: “High On You” e “Cold Metal”.

Brick By Brick (90) – Uma obra-prima produzida por Don Was. O disco é pesado sem perder a pegada pop. O dueto com Kate Pierson, dos B-52’s, em “Candy”, é memorável. “Pussy Power” e “Home” são pauladas de primeira linha, dignas de qualquer mosh. Nem mesmo o guitarrista Slash conseguiu atrapalhar esse álbum perfeito.

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