Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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terça-feira, junho 07, 2011
Pequenos tópicos românticos e nostálgicos
Os poderosos – Todos os poderosos só querem o bem do povo e você nem imagina o que já fizeram de sacrifício!
Se eles se vestem assim tão bem, e só andam nesses carrões, e moram nesses palacetes, é para mostrar ao povo o que gostariam que todo o povo usufruísse.
Agora, tem dias em que os poderosos acordam na fossa e ficam pensando por que é que fizeram tanto esforço pra serem poderosos.
Muita gente acha que todos os poderosos deviam era acabar na cadeia a pão e água pra ver o que é bom.
Mas quem é que ia botar eles lá? Não eram outros poderosos?
Os carrões – Com a ascensão da nova classe média via bolsa família, todo trabalhador brasileiro está realizando seu sonho do carro próprio.
O sonho de encontrar um lugar para estacionar o carro próprio nos grandes centros, entretanto, esta cada vez mais distante.
Adquirir um bólido 0km não é tão difícil assim.
Basta ter um cartão de crédito de supermercado e depois escolher entre os carros brasil e os carros gringos.
Mas aí você precisa ser um consumidor consciente para não fazer besteira e despertar o monstro da inflação.
As mensalidades dos carros brasil podem ser pagas até com vale transporte e muitas concessionárias oferecem financiamento próprio em 240 vezes, sem avalista ou burocracia.
O carro gringo é um carro brasil que foi roubado em São Paulo e ganhou uma pintura nova no Paraguai.
Muitos, inclusive, já retornam ao país adaptados para o transporte de armas privativas das forças armadas, cocaína em tonel e pacotes de cigarro Marlboro.
As mensalidades do carro gringo devem ser pagas com seu trabalho de mula 24 horas por dia, sete vezes por semana, durante cinco anos, no cada vez mais rendoso mundo do crime organizado.
Pela quantidade de carros gringos rodando na cidade, tem muitos brasileiros caindo nessa esparrela.
O brasileiro – O brasileiro é um povo cheio de cordialidade e bom coração.
Os que saem no jornal roubando os pescadores, correndo atrás de estudantes, dando porrada em bombeiros e matando o priminho a paulada não são os brasileiros típicos.
Vai ver são até naturalizados.
O brasileiro é alegre, bom trabalhador e sempre pronto a ajudar o próximo.
Quando você vê na rua um cara triste e vagabundo procurando briga, pode perguntar a ele who are you?, porque é um americano.
O brasileiro fica na fila do INSS horas e horas sem nem se importar.
Se você vê alguém fazendo baderna na fila, nem paga dez: é um danado de um estrangeiro que não compreende o nosso temperamento pacífico e ordeiro.
Ninguém joga futebol como o brasileiro, ninguém tem o jeitinho do brasileiro e nenhuma mulher tem a graça e o veneno da mulher brasileira.
Eu ainda espero um dia ver essa lei que proíbe livros e revistas proibindo tudo que é gringo de baixar aqui na terra conspurcando esta ilha do Augusto da Paz.
O futebol – O futebol é esporte nacional e suprema glória do Brasil.
Onze latagões, tratados a pão-de-ló, cuidados pela medicina cibernética, pagos como marajás e divulgados como estrelas de cinema, entram em campo para defender, a ferro e fogo e muito pontapé, a honra da pátria.
De vez em quando passam seis meses sem fazer um gol ou ganhar uma partida, mas se explica.
Futebol é assim mesmo: o ferrolho não deu certo, os três volantes de contenção não funcionaram, o ala esquerdo avançado já era.
Porém eu estou seguro de que qualquer artista plástico tratado como um jogador de futebol pintava pelo menos uma Capela Sistina por semana.
No fim, vai ver, o sucesso do futebol é que ele é igualzinho ao Brasil: não tem lógica.
Jet set, beatiful people – O pessoal do jet set é todo muito bonito e muito barulhento.
Às vezes, quando você olha bem de perto, tem uma velhotas horrendas chorando num canto, mas é melhor você fingir que nem repara.
Para ser beatiful people não é preciso ser beatiful e muito menos people.
Basta você ter um copo na mão e nenhuma idéia na cabeça.
Outra coisa importante para ser jet people ou beatiful set é você olhar sempre pra muito longe da pessoa com quem está falando.
Isso deixa ela muito insegura e disfarça o quanto inseguro você está.
Outra coisa ainda: você deve olhar com desprezo o intelectual, se você é beatiful, e desprezar o beatiful se você é intelectual.
Também uma vez ou outra você tem que dizer que algo ou alguém é ma-ra-vi-lho-so ou qualquer outra palavra altamente elogiosa desde que imprecisa e muito bem si-la-ba-da.
Mais importante do que tudo, nas reuniões dos beatifuls e dos jets é nunca dar bandeira e não se espantar nem um pouquinho quando, às três horas da manhã, todo mundo começar a cheirar açúcar.
Ou será polvilho?
Os donos da comunicação – Os presidentes, os ditadores e os reis da Espanha que se cuidem porque os donos da comunicação duram muito mais.
Os ditadores abrem e fecham a imprensa, os presidentes xingam a tevê e os reis da Espanha cassam o rádio, mas quando a gente soma tudo, os donos da comunicação ainda estão por cima da carne seca.
Mandam na economia, mandam nos intelectuais, mandam nas moças fofinhas que querem aparecer nos shows dos horários nobres e mandam no society, que morre se o nome não aparecer nas colunas.
Todo mundo fala mal dos donos da comunicação, mas só de longe.
E ninguém fala mal deles por escrito porque quem fala mal deles por escrito nunca mais vê seu nome e sua cara nos “veículos” deles.
Isso é assim aqui, na Bessarábia e na Baixa Betuanalândia. Parece que é lei universal.
O que também é muito justo porque os donos da comunicação são seres lá em cima, quase anjos.
Basta ver o seguinte: nós, pra sabermos umas coisinhas, só sabemos elas pelas mídias deles, não é mesmo?
Agora vocês já imaginaram o que sabem os donos da comunicação, que só deixam sair dez por cento do que sabem?
Pois é, tem gente que faz greve, revolução, faz terrorismo, todas essas besteiras.
Corajoso mesmo, eu acho, é falar mal de dono de comunicação.
Aí tua revolução fica chinfrim, teu terrorismo sai em corpo seis e se você morre vai lá pro fundo do jornal em quatro linhas.
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