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sexta-feira, julho 27, 2018

Contra papai e mamãe



Por Ruy Castro

Theodore Roszak, o inventor da palavra contracultura, morreu outro dia [2011], na Califórnia. Tinha 77 anos. Era um historiador, um observador social e um pensador multidisciplinar. Mas só será lembrado por seu livro de 1968, A contracultura, em que cunhou a expressão e tentou dar um sentido a tudo o que envolvia a juventude naquela época.

O que não era pouco. De repente, milhões de rapazes e moças em toda parte se levantaram contra o “sistema” – leia-se o governo, os políticos, a guerra do Vietnã, as ditaduras militares, os professores, a autoridade em geral, a moral estabelecida, a sociedade de consumo, a arte “bem-feita”, o barbeiro do bairro, os maiores de 30 anos ou, à falta de melhor, papai e mamãe. Mas não significava que todos protestassem contra as mesmas coisas.


A contracultura foi a passagem do primado da razão (que levou uma parte ultrapolitizada da juventude a lutar contra as ditaduras, as desigualdades sociais, o sistema universitário, a censura, etc.) ao primado da não-razão (que fez com que outra parte preferisse “cair fora” das cidades e ir para o meio do mato queimar fumo, tomar ácido, fazer filhos, plantar coquinhos, catar piolhos e ouvir Jimi Hendrix, não necessariamente nessa ordem.

Durante algum tempo, pareceu que a segunda facção – a dos hippies, drop-outs, psicodélicos, místicos, ocultistas e alienados em geral – iria prevalecer. Prometia-se um novo homem, sem os velhos defeitos. Até que, naturalmente, o “sistema” absorveu esse antirracionalismo, converteu em produtos e serviços, e o pôs à venda. A contracultura se tornou a nova cultura, e tão careta quanto.

Roszak nunca aceitou bem essa conclusão. Para ele, os ecos da contracultura estão até hoje entre nós – na informalidade ao vestir, na comida mais saudável, na ecologia, nos direitos humanos. Tudo bem. Mas o novo homem não veio. Só mudaram os defeitos.

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