Por Ruy Castro
Theodore Roszak, o inventor da palavra contracultura, morreu
outro dia [2011], na Califórnia. Tinha 77 anos. Era um historiador, um
observador social e um pensador multidisciplinar. Mas só será lembrado por seu
livro de 1968, A contracultura, em
que cunhou a expressão e tentou dar um sentido a tudo o que envolvia a
juventude naquela época.
O que não era pouco. De repente, milhões de rapazes e moças
em toda parte se levantaram contra o “sistema” – leia-se o governo, os
políticos, a guerra do Vietnã, as ditaduras militares, os professores, a
autoridade em geral, a moral estabelecida, a sociedade de consumo, a arte “bem-feita”,
o barbeiro do bairro, os maiores de 30 anos ou, à falta de melhor, papai e
mamãe. Mas não significava que todos protestassem contra as mesmas coisas.
A contracultura foi a passagem do primado da razão (que
levou uma parte ultrapolitizada da juventude a lutar contra as ditaduras, as
desigualdades sociais, o sistema universitário, a censura, etc.) ao primado da
não-razão (que fez com que outra parte preferisse “cair fora” das cidades e ir
para o meio do mato queimar fumo, tomar ácido, fazer filhos, plantar coquinhos,
catar piolhos e ouvir Jimi Hendrix, não necessariamente nessa ordem.
Durante algum tempo, pareceu que a segunda facção – a dos
hippies, drop-outs, psicodélicos, místicos, ocultistas e alienados em geral –
iria prevalecer. Prometia-se um novo homem, sem os velhos defeitos. Até que,
naturalmente, o “sistema” absorveu esse antirracionalismo, converteu em
produtos e serviços, e o pôs à venda. A contracultura se tornou a nova cultura,
e tão careta quanto.
Roszak nunca aceitou bem essa conclusão. Para ele, os ecos
da contracultura estão até hoje entre nós – na informalidade ao vestir, na
comida mais saudável, na ecologia, nos direitos humanos. Tudo bem. Mas o novo
homem não veio. Só mudaram os defeitos.
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