Reginaldo José de Azevedo Fortuna nasceu em São Luís no dia
21 de agosto de 1931 e tinha como codinome o próprio sobrenome.
Considerado um dos maiores cartunistas do Brasil, ainda
criança conheceu o semanário A Manhã, que se transformou em uma de suas
publicações favoritas.
Aos 14 anos, após perder o pai, Fortuna mudou-se com sua mãe
para o Rio de Janeiro.
Seus primeiros trabalhos na imprensa foram publicados no
final da década de 40 na revista infantil do Sesi (“Sesinho”), A Cigarra, O Cruzeiro
e Revista da Semana.
No final da década de 50, o estilo inconfundível de Fortuna
apareceria nas belíssimas páginas da revista Senhor.
Em 1964, às vésperas do golpe militar e em parceria com
Millôr Fernandes, Ziraldo, Jaguar, Claudius e Sérgio Porto, lançam o
quinzenário colorido O Pif-Paf, publicação que sobreviveu até o oitavo número e
serviu de base para o mais importante jornal de oposição à ditadura, O Pasquim.
Nessa época também foi chargista no jornal carioca Correio
da Manhã.
Quando o Correio da Manhã foi extinto no final dos anos 60,
eis que surge O Pasquim, produzido por Fortuna, Tarso de Castro, Millôr Fernandes,
Ziraldo, Paulo Francis, Luiz Carlos Maciel, o novato Henfil e dezenas de outros
colaboradores.
No início dos anos 70, Fortuna mudou-se para São Paulo e
assumiu o posto de diretor de redação da revista Cláudia, onde passou a dar
conselhos às leitoras sob o pseudônimo Ana Maria.
Em seguida tornou-se editor de arte e capista da revista
Veja, onde ficou até 1975.
Nesta mesma época, em parceria com Luiz Gê, Paulo e Chico
Caruso, Laerte, Cláudio Paiva e Nani, Fortuna lança a revista O Bicho, pioneira
das histórias em quadrinhos inteiramente nacionais e, como ele dizia, “não-enlatadas”,
onde surge com a personagem “Madame e seu bicho muito louco”.
A partir de 1998, os dois personagens se transformariam no símbolo do troféu HQ Mix, o mais importante das histórias em quadrinhos do país.
Em 77, Fortuna vai para A Folha de São Paulo fundar com
Tarso de Castro o suplemento “Folhetim”, uma espécie de Pasquim encartado no
próprio jornal.
A partir daí inicia uma nova fase como chargista editorial.
Fortuna saiu da Folha em 84, logo depois da campanha das
Diretas, e ficou um longo tempo fora da grande imprensa, retornando com charges
semanais para a Gazeta Mercantil.
Foi considerado um dos 100 melhores cartunistas do mundo em
1977 pela Casa do Humor e Sátira de Gabrovo, da Bulgária.
Participou das antologias “Seis desenhistas brasileiros de
humor” (Ed. Massao Ohno, 1962), “Hay
gobierno?” (Ed.Civilização Brasileira, 1964), “Dez em humor” (Ed.
Expressão e Cultura, 1969).
É autor dos livros “Aberto para balanço” (Ed. Codecri,
1980), “Diz, logo tipo” (Kraft/Studioma, 1990) e “Acho tudo muito estranho (já
o Professor Reginaldo, não)” (Ed. Anita Garibaldi, 1992).
Na sua série “Retratos 3X4 de alguns amigos 6X9”, Millôr
Fernandes assim o definiu:
“Fortuna tem trinta e poucos anos de altura, a personalidade
dele mesmo, riso hipotético, traço desconfiado e é tarado por coisas que
detesta. Perfeccionista nato, entre suas descobertas estão o furo da rosca, o
oco exterior e a moeda sem coroa. Profundo humorista, fica triste sempre que o
levam a sério: acha que nunca foi tratado com a hilariedade que merece.
Infelizmente, está com seus dias contados – 15.980 para sermos exatos.”
Millôr só não foi exato nisso: Fortuna morreu 25 anos
depois, aos 63 anos, de um fulminante ataque cardíaco, no dia 5 de setembro de
1994, em São Paulo.
No 22º. Salão de Humor de Piracicaba, realizado em 1995, foi
criada e concedida a Medalha “Reginaldo Fortuna” aos maiores destaques do humor
da cultura do país, entre eles os cartunistas Jaguar, Claudius, Ziraldo e
Millôr Fernandes, o palhaço Arrelia e a comediante Dercy Gonçalves.
Em 2009, Fortuna foi homenageado pelo 2º Salão Internacional
de Humor do Rio de Janeiro como “O cartunista dos cartunistas”.
No prefácio do livro “Hay Gobierno?”, que reuniu Fortuna,
Claudius e Jaguar fazendo charges contra el gobierno, Paulo Francis enche a
bola de Fortuna: “Dos três humoristas, Fortuna me parece o mais político. Seu
desenho é sombrio, às vezes fantasmagórico, criando a atmosfera ideal, pelo
contraste, para seu ponto de ataque, sempre direto e conciso.”
Ele foi um dos maiores cartunistas (uma espécie em extinção)
não do Brasil, mas do mundo. O casamento da ideia e do traço nos seus cartuns é
perfeita. Na medida certa.
Perfeccionista, como disse Millôr, levava horas, às vezes
dias, redesenhando ou reescrevendo.
Escrevia tão bem quanto desenhava. A ponto
de ser um dos poucos humoristas que ousou fazer trocadilhos sem tropeçar: “em
terra de olho quem tem um cego, errei”, obra prima do gênero.
Quando escrevia, assinava Professor Reginaldo.
E deles dois (Fortuna e o professor) fala Chico Caruso: “O último livro que os dois lançaram
juntos, Acho tudo muito estranho (já o Professor Reginaldo não), é um livrinho
pequeno e saboroso. Das conclusões a que chegaram sobre várias coisas, uma
delas: não foi Cabral quem descobriu o Brasil, mas o marinheiro que gritou lá
de cima da gávea “terra à vista!” O desenhista era como esse marinheiro, que
via as coisas primeiro e definitivamente. O professor anotava e teorizava.”
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