Janeiro de 1969. Filho da merendeira escolar Ilnah e do guarda territorial Zé Costa, o hoje empresário Antônio Carlos Costa (o “Carlão”, proprietário das Lojas Iaco) tinha 14 anos quando deixou sua Sena Madureira natal, nos confins do Acre, para estudar em Manaus.
Trazia como bagagem apenas uma pequena maleta de papelão com meia dúzia de roupas e muita vontade de vencer na vida.
Foi ser um bigorilho na casa de um tio paterno, Chico das Almas, e matriculado no Instituto de Educação do Amazonas.
Três meses depois, no início das aulas, Chico das Almas se separou da esposa e foi morar na casa de um irmão, Elzir Farias (pai do radialista Meike Farias), na Rua J. Carlos Antony, nas proximidades do Grupo Escolar Carvalho Leal. O bigorrilho foi junto.
Um mês depois, Elzir concluiu que não tinha condições financeiras de sustentar aquelas duas novas bocas e resolveu se livrar do bigorrilho.
Com a anuência de Chico das Almas, Elzir colocou Carlão e sua inseparável maleta de papelão em um táxi, e deixou o moleque no Aeroporto de Ponta Pelada com a recomendação expressa de pegar carona no primeiro Búfalo da FAB que estivesse indo para o Acre.
Sem conhecer ninguém da FAB e sem um centavo no bolso, Carlão passou três dias dormindo nos bancos do saguão do aeroporto.
Em troca de cafezinhos para enganar a fome, ele lavava os pratos e talheres da única lanchonete existente no aeroporto.
Vencido pela fome tirana, Carlão resolveu voltar a pé para o único endereço que conhecia na cidade: a casa do seu tio Elzir.
Às 6 horas da manhã do quarto dia, ele iniciou seu novo calvário: dar uma pernada federal do Aeroporto de Ponta Pelada até o bairro da Cachoeirinha.
Com a maleta de papelão na cabeça, Carlão já estava começando a encarar a subida da ladeira da Rua Urucará, no canto da Rua Tefé, em frente à Subusina da CEM, quando uma Rural Willys parou do outro lado da rua e o motorista do veículo deu um grito:
– Você está indo pra onde, zé cueca?
Carlão olhou para um lado, para o outro. Não havia ninguém na rua deserta.
O sujeito da Rural insistiu:
– Estou falando contigo mesmo, zé cueca! Você está indo pra onde?...
Carlão não conhecia o sujeito, mas ainda assim respondeu:
– Vou pra casa do tio Elzir!
– Porra, tu és mesmo um zé cueca! Ninguém te quer lá naquela casa, carálio! Já te largaram até no aeroporto... Deixa de ser besta, porra, e toma tenência... Se manque!
Carlão sentiu um aperto no peito e uma vontade imensa de chorar.
O sujeito voltou a falar:
– Acho que você não se lembra de mim não! Eu sou filho do Gastão, porra! Foi teu avô Jonas que me criou... Embarca aqui nessa merda!
Enquanto entrava na Rural Willy, Carlão fez uma viagem no tempo em busca de sua própria infância e a ficha caiu.
Três gerações: Valdeir, Junior Costa e Neto
Aquele sujeito era seu primo Valdeir Costa, filho de seu tio Gastão.
O velho Gastão havia contraído hanseníase e morava sozinho em uma casa no quintal da residência de seu avô Jonas Costa, já que a profilaxia de tratamento dos infectados era o isolamento total.
Os filhos de Gastão e Dona Délia (entre os quais o boêmio Zé da Voz) foram criados por seu avô Jonas.
Valdeir estava casado com minha prima Rosinete, irmã do Cazuza, e era dono da Serralheria Santo Antônio, ali nas imediações do Conjunto Jardim Brasil.
Sua residência era ao lado da metalúrgica. Foi pra lá que ele levou o bigorrilho.
Vendo o estado de penúria do primo infante, mal entrou na residência Valdeir já deu uma voz de comando para a esposa!
– Ô Rosa! Põe comida pra esse moleque que ele está urrando de fome!
Rosinete, educadíssima, o que fazia um perfeito contraponto ao esposo grosso que só papel de embrulhar prego, fez a pergunta trivial:
– Ele quer comer o que?
– Põe comida, carálio! Põe comida! – devolveu o amabilíssimo marido.
Carlão detonou três pratos de carne assada, com feijão, arroz e farinha, que até hoje considera o melhor prato da culinária mundial.
Ficou um ano morando na casa do Valdeir e estudando.
Depois, passou mais um ano morando na casa da Dona Délia, mãe do Valdeir, ali na Rua Codajás, nas proximidades do Bar do seu Pastik (“Casa 25 de Janeiro”), enquanto trabalhava na Fróes Esquadrias, localizada na Av. Castelo Branco.
Ao completar 16 anos, Carlão soube pela sua prima Helena, irmã do Valdeir, que seu marido Eduardo, piloto de táxi aéreo, iria levar uma encomenda até Boca do Acre.
Carlão já andava meio cismado. Estava há dois anos em Manaus e continuava com a mesma meia dúzia de roupas que trouxera de Sena Madureira.
Metade já nem lhe servia mais porque o sacana estava crescendo...
Ele resolveu voltar para a cidade natal. Pegou uma carona com Eduardo no táxi-aéreo até Boca do Acre, de lá pegou carona em um barco de linha e desembarcou em Sena Madureira.
Sua mãe, Dona Ilnah, levou um susto.
O filho contou o motivo do retorno.
Dona Ilnah não quis saber de conversa:
– Volte imediatamente pra Manaus, para trabalhar e estudar! Se ficar aqui em Sena Madureira o máximo que você vai ser é jogador de sinuca, porque aqui não tem emprego pra ninguém... O povo sobrevive de teimoso. E eu não coloquei um filho no mundo para ser vagabundo...
Carlão voltou pra Manaus, foi trabalhar como vendedor das Lojas Cearense, depois passou oito anos como gerente da Top Lojas, do Jorge Mojica, e quatro como diretor comercial, até abrir seu próprio negócio lá se vão mais de 20 anos.
As lojas foram batizadas com o nome do rio que banha sua aldeia: Iaco, um dos afluentes do rio Purus.
Esse meu brother é um guerreiro!
3 comentários:
Não conhecia toda essa saga! Esse meu primo é um guerreiro!
Chorei de emoção ao ouvir a história de vida desse grande homem chamado Carlão , trabalhei mais de 15anos nas lojas iacos ,seu Carlão foi um pai pra mim ,hoje tenho meu próprio negócio , não trabalha mais com ele ,mais continuo lhe admirando ,e tenho um carinho e uma eterna gratidão por tudo que ele fez por mim e por minha filha .
Meu querido amigo e irmão Carlão você realmente sempre foi um guerreiro e por isso merecedor de tudo que alcançou na sua luta incançável pela vitória.Sou feliz por ser seu amigo irmão e conterrâneo. Homem de coração bom,sempre disposto a ajudar quem estiver necessitando.
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