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segunda-feira, janeiro 20, 2020

A BICA e os miquinhos amestrados do ativismo nutella



No último sábado, meia dúzia de ativistas de sofá foram fazer um “protesto” em frente ao Bar do Armando. Como estavam interessados apenas em fazer uma foto histórica para ser postada no Instagram mostrando sua “indinguinassão morau (sic) contra isso tudo aí, aproveitaram o fato de o bar ainda estar praticamente vazio, posaram pro click e foram embora na miúda. O “protesto” transformou-se no “evento midiático” das redes sociais durante aqueles 15 minutos de fama dos babaquaras, já preconizado pelo artista plástico Andy Warhol nos distantes anos 70.

No mesmo dia, o escritor Chico Rogido, atualmente morando em Los Angeles, me mandava um papo reto pelo skype: “Porra, poeta, achei a marchinha genial e ri de rolar no chão. Tem culpa eu?... Quá, quá, quá... Mas qual é a parte em que vocês estão ofendendo a tataraneta da Greta Garbo?!...Juro que passei batido...”

Respondi mais ou menos assim: “Meu parceiro, quem quer procurar pelo em casca de ovo sempre acaba encontrando. Mas, cá pra nós, só uma mistura muito grande de mau-caratismo, estupidez e cinismo pode encontrar “apologia a crime de assédio e estupro” nesses versos de pura ironia a favor da floresta amazônica: A pirralha faz pirraça / E a BICA entra na graça / A Greta quer ver pau em pé / A BICA abunda, bate forte e bota fé / Pois pau pegando fogo / Só quem quer ver é mané! Estou desconfiando que os manés de ontem são os imbecis de hoje e que o nome deles é legião...”

Frases de duplo sentido, com alguns palavrões de permeio, a BICA utiliza desde a criação do seu próprio hino, em 1987 (“Na Banda Independente Confraria do Armando / Tá todo mundo dando, tá todo mundo dando...”), e nunca ninguém reclamou. Eis alguns exemplos pescados ao sabor do vento:

Em 1990: “Ainda existe liberdade cultural / No além-Tejo e na terra varonil / Cruzado livre em Portugal / E o Escudo português cá no Brasil”. Em 1996: “Ou dá ou desce, ou dá ou desce / Macedo deu a dica e o Armando agradece”. Em 1998: “Quem vai dar?... Quem vai dar? / Uma zagaia e o rabo pro Valois?”. Em 2000: “A banda não que ser presa, capicci / Aqui na BICA todo mundo cheira vick”. Em 2005: “Sou português, mas não sou otário / Fiz vasectomia na cabeça do Carvalho”. Em 2009: “Então presta atenção onde mete a BICA / A mocreia da Nicéia que botou no Pitta”. Em 2014: “Sou índio sim, eu sou / Pode perguntar pro Artur / Eu sou da tribo, eu sou / Da tribo dos Papaku”. Em 2015: “Meu periquito era legal / Entrava na BICA sentava no pau”. Em 2016: “Tá foda aguentar Bolsonaro alucinado / Que discrimina puta, o pretinho e o veado”.

Então quem são hoje esses novíssimos guardiões da moral e dos bons costumes, que querem censurar a letra da BICA com esse autoritarismo de fancaria? Não faço a menor ideia, mas como já escreveu Julian Adornay, no site Mises Brasil, “no final, o que temos hoje é apenas uma defesa simétrica da liberdade de expressão: só é lícito aquilo que me agrada. Aquilo que me ofende deve ser proibido. Só que defender a liberdade de expressão de minhas ideias não é mérito nenhum. Tampouco representa qualquer utilidade social.”

E Julian bate pesado: “O verdadeiro mérito está em defender a liberdade de expressão daqueles que nos ofendem profundamente, e então vencê-los no debate por meio da razão. A censura prévia é simplesmente o método a que recorrem os intelectualmente incapazes. No geral, se você é de esquerda e defende censura e punição àquilo que você considera discurso de ódio da direita, você está apenas defendendo o privilégio da sua seita de abolir a expressão das ideias alheias. E vice-versa. A universalidade da liberdade de expressão não existe para proteger aquilo que nos agrada, mas sim para proteger da censura aquilo que nos ofende.”

Em 1989, no lançamento do LP “Preto com um buraco no meio”, o pessoal do Casseta & Planeta emplacou uma balada romântica chamada “Mobral” que era um primor de frases de duplo sentido: “Um avião que entra no hangar / Um ganso se afogando em alto-mar / Uma minhoca se esfregando num buraco / Duas bolas na caçapa e um taco / Uma pasta de dente espremida até o fim / Uma índia segurando um aipim / Um psicanalista com a boca no charuto / O líquido e o produto interno bruto... bruto... / Talvez um escritor, um intelectual / Encontre a imagem ideal / Mas pra falar de amor só precisa sentimento / E ter feito pelo menos o Mobral... Mobral... / Distinguir consoante de vogal / Fazer conta até a casa decimal / Um pouco de concordância verbal”.

Em 1996, o grupo paulista Mamonas Assassinas conquistou uma legião de fãs entre a pirralhada com a música “Vira-Vira”, executada diariamente nas rádios e em programas de auditórios: “Fui convidado pra uma tal de suruba / Não pude ir, Maria foi no meu lugar / Depois de uma semana ela voltou pra casa / Toda arregaçada não podia nem sentar / Quando vi aquilo fiquei assustado / Maria chorando começou a me explicar / Daí então eu fiquei aliviado / E dei graças a Deus porque ela foi no meu lugar / Roda, roda e vira, solta a roda e vem / Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém / Roda, roda e vira, solta a roda e vem / Neste raio de suruba, já me passaram a mão na bunda / E ainda não comi ninguém! / Oh Manoel olha só como eu estou / Tu não imaginas como eu estou sofrendo / Uma teta minha um negão arrancou / E a outra que sobrou está doendo / Oh Maria vê se larga de frescura / Que eu te levo no hospital pela manhã / Tu ficaste tão bonita monoteta / Mais vale um na mão do que dois no sutiã / Roda, roda e vira, solta a roda e vem / Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém / Roda, roda e vira, solta a roda e vem / Neste raio de suruba, já me passaram a mão na bunda / E ainda não comi ninguém! / Bate o pé / Hmm, bate o pé / Oh Maria essa suruba me excita / Arrebita, arrebita, arrebita / Então vai fazer amor com uma cabrita / Arrebita, arrebita, arrebita / Mas Maria isto é bom que te exercita / Bate o pé, arrebita, arrebita / Manoel tu na cabeça tem titica / Larga de putaria e vá cuidar da padaria.”

Mas vocês acham que esses miquinhos amestrados do ativismo nutella são capazes de se interessar por alguma outra coisa que não sejam suas idiossincrasias replicadas ad nauseam nas redes sociais?...

Um comentário:

BLOG DO GILMAL sexo, o absurdo disse...

Extraordinário, nutela é uma bosta, vai por mim. Aí deles quando souberem que tu existe, Simão.